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    Florestan Fernandes Jr

    Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

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    Marçal: a cadeirada e o abismo

    "O fato é desolador. Mas há algo pior: virou fonte de diversão, numa incompreensão que esse espetáculo atenta contra todos nós", diz Florestan Fernandes Jr.

    José Luiz Datena agride Pablo Marçal com cadeira durante debate da TV Cultura com candidatos a prefeito de São Paulo (Foto: Reprodução)

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    A cadeirada de Datena sobre Marçal durante o debate da TV Cultura na noite do domingo (16/09) é o ápice da desmoralização do sistema democrático no Brasil. Um processo de desmonte que teve início já no golpe jurídico/parlamentar contra a presidenta Dilma e que se estendeu e aprofundou durante quatro anos de escárnio do desgoverno Bolsonaro.

    Depois dos atos terroristas do 8 de janeiro, achávamos que estávamos no subsolo da incivilidade. Mas não. O buraco é mais profundo. 

    O desmonte do Estado Democrático de Direito continua em marcha acelerada, comandado pela dupla Malafaia/Bolsonaro e agora encorpada pelos coach/influencers que ingressaram na política para cupinizá-la.  

    O ex-presidente inelegível, impune nas dezenas de crimes que cometeu, articula diuturnamente os caminhos para instituir seu tão sonhado estado autocrático de extrema-direita no país.

    Este ano, o processo de esculhambação do sistema eleitoral tem um novo capítulo e outro protagonista. 

    Como candidato a prefeito, Pablo Marçal está conseguindo mais do que atacar as urnas eletrônicas. Ele zomba da Justiça Eleitoral dia sim, e dia também. 

    A última é que o coach digital, que já deveria ter sido afastado do processo eleitoral, montou seu circo de horrores no centro de um debate de televisão que deveria discutir propostas para a maior cidade da América do Sul. A cena grotesca que domina todas as redes sociais desde a noite de ontem, só poderia ter sido protagonizada por personagens como Marçal e Datena. O fato, por si só, é desolador. Mas há algo ainda pior: virou piada, virou meme e fonte de diversão, numa incompreensão tristíssima que esse espetáculo atenta contra todos nós.

    A cena de “telecatch”, todo o humor jocoso que vejo e a ausência de debate sério sobre as repercussões, me lembram de um dos contos dos Irmãos Grimm, O Flautista de Hamelin. Nele, os ratos, encantados com a melodia, seguiam festivos o Flautista, que os conduziria para fora da cidade (a polis, o ambiente de civilidade) e, ao final, os afogaria num rio caudaloso. 

    Esse pequeno recorte da fábula, trazido para o fato de hoje, nos mostra o perigo do entorpecimento coletivo, da incompreensão da gravidade do momento em que vivemos. Que o despertar nos venha, enquanto é possível.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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