Marçal é candidato a messias
"Movimentos messiânicos costumam acabar em tragédia", escreve o colunista Alex Solnik
Há, nos livros de história, um farto material a respeito de movimentos messiânicos no Brasil. O mais famoso foi o de Canudos, liderado por Antônio Conselheiro, reconhecido pela população humilde da Bahia como o Messias que Deus avisou que voltaria à Terra para redimir e vingar os humilhados e os ofendidos. E os conduzir ao paraíso terrestre. Não por acaso, Marçal define o 6 de outubro como o dia da vingança e da revolta popular.
Mas o sinal mais evidente de que ele não é tão somente candidato a prefeito de São Paulo está nas palavras de Noemi Carvalho, moradora de Alphaville, condomínio de luxo pertinho de São Paulo, que disse ao UOL o seguinte a respeito de Pablo Marçal:
“Deus fala e ele obedece”.
Até então, o último ser humano tido como interlocutor de Deus, segundo o Velho Testamento, foi Abraão.
Dona Noemi, que não é humilhada, nem ofendida, muito ao contrário, fundou, em sua casa, um “Quartel-General do Reino”, onde as pessoas se reúnem para orar, aprender a prosperar e cultuar Pablo Marçal, o criador desses QGs espalhados pelo Brasil e por outros países.
É inerente aos movimentos messiânicos confrontar o statu quo.
Antônio Conselheiro levantou seus seguidores contra a República, queria a volta da monarquia.
Marçal levanta seus seguidores contra “o sistema”, que é, no fundo, o sistema republicano, do qual fazem parte eleições e que é sustentado por três poderes e contra o “consórcio comunista”, que são todos aqueles que não o seguem.
A campanha de Marçal a prefeito não é uma campanha eleitoral, é uma cruzada messiânica, na qual ele proclama deter poderes que nenhum outro ser humano jamais reivindicou, como o de curar paralíticos ou ressuscitar os mortos por meio de orações.
Antônio Conselheiro não tinha nenhuma possibilidade de chegar ao poder, e ainda assim ameaçava a estabilidade do governo central, até ser aniquilado impiedosamente, enquanto Marçal, ganhando ou perdendo em São Paulo, já foi lançado a presidente da República.
Todos os messias são falsos. Porque não existem.
E os movimentos que comandam geralmente acabam em tragédia.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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