Marçal é o bicho fora de controle na evolução das espécies bolsonaristas
“O ex-coach é a prova do fenômeno do saltacionismo na extrema direita, que engole o gradualismo pretendido por Bolsonaro”, escreve o colunista Moisés Mendes
Se fosse um réptil sob observação de um grupo de cientistas dedicados às controvérsias darwinistas, Pablo Marçal pularia na cara de um deles e diria: eu sou a prova do saltacionismo aplicado ao bolsonarismo.
Marçal derruba a teoria do gradualismo na evolução das espécies da extrema direita brasileira. Ele é o saltacionismo, a evolução brusca que adapta aos saltos os seres do fascismo ao ambiente em que vivem.
No novo saltacionismo bolsonarista, gradualistas que evoluem sob a tutela do criacionismo de Bolsonaro ficam para trás. Tarcísio de Freitas, Caiado, Michelle e Zema são superados pelo pulo à frente do ex-coach.
Marçal veio para destroçar até a tese de que o próximo líder bolsonarista poderia até ser um pastor, para que os neopentecostais não dependam mais de um intermediário que finge ter Deus acima de tudo. E o próximo, diziam, seria Malafaia.
Pablo Marçal dá um salto para se desgrudar do comando de quem veio antes, e é possível até que daqui a alguns anos, se virar outra coisa, seja visto como o cara que expôs o elo perdido entre o bolsonarismo e o marçalismo.
Marçal parece preservar o DNA e a estrutura bolsonarista no seu jeito de ser, mas da fala ao boné, passando pelos sapatinhos sem meia, há um conjunto que pode revelar mais adiante sua ambição de ser outra espécie, sem parentescos com o que existe até aqui.
Bolsonaro encapou os dentes. Marçal foi adiante, fez harmonização total. Bolsonaro depende de Carluxo para fingir que domina as redes sociais. Marçal é coach e influencer e tem total controle das redes. Ele é a lacração nas redes.
Bolsonaro nunca teve, na sua base de ativismo de rua das motociatas e de aglomerações, muita gente com menos de 50 anos. Marçal chegou aos jovens. Declamou letras de Mano Brown no Roda Viva, mesmo que poucas artes sejam mais antifascistas do que a poesia de Mano Brown.
Vai acabar com os barracos de lata. Tem certeza de que cada brasileiro pobre pode ser dono de banco, se tiver fé e se a sua determinação for abençoada. Marçal deu um pulo, mano.
Fala e age pensando na base que o bolsonarismo nunca conquistou, no mundo das beiradas e dos morros. Marçal vai se dependurar em teleféricos nas periferias e, se for mais atrevido, pode até ser mais um branco a se definir como negro.
O gradualismo dos que se achavam herdeiros de Bolsonaro é vacilante. Eles são indecisos até em relação ao grito de guerra do bolsonarismo de que bandido bom é bandido morto. Marçal não precisa gritar.
Ele vai ao encontro de Bukele, o matador, em El Salvador. Para mostrar que imita seu estilo, a começar pelo boné, e para saber como encarcerar e matar todos os que pareçam bandidos. Não meia dúzia, mas milhares.
Debochando do evolucionismo claudicante do bolsonarismo raiz dos tios do zap, Marçal mostra o que se faz aos 37 anos, para falar como se fosse rapper e gamer.
Pode até ter falhado ao subir no Pico dos Marins com 30 desatinados. Mas transformou o vexame em exposição pública e marketing e agora se prepara para a sua grande aventura nas alturas.
O projeto intermediário do seu grande plano é levar milhões de paulistanos à prefeitura, que será a sua Serra da Mantiqueira municipal. Mas ser prefeito é apenas uma passagem, é a metade da subida ao pico.
Depois, vem o plano nacional do que imagina ser a sua Serra Pelada, o sonho de chegar ao Planalto. Marçal é o sapo saltacionista que os pretensos criacionistas do bolsonarismo terão que engolir.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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