Marcas de um primeiro turno
Agora nas eleições as cores neutras nas roupas foram as dominantes, refletindo na vitória da direita fisiológica
Com o pífio desempenho do prefeito Ricardo Nunes no debate da Globo que antecedeu o primeiro turno, a tendência de queda nas pesquisas de intenção de voto e a ascensão de Pablo Marçal eram esperadas. Não fosse o momento pistoleira Carla Zambelli, com o falso boletim médico, a repetição do “pato manco” na eleição poderia ter previamente acontecido. Da mesma forma que o ex-governador Rodrigo Garcia teve de engolir as palavras e apoiar Tarcísio de Freitas em 2022, Nunes poderia amargar um apoio branco a Marçal, caso ficasse de fora do segundo turno. Seu staff já está atento a isso agora no segundo turno, mesmo que o titular não possa aparecer junto ao coach devido à baixaria que foi a campanha do primeiro turno. Mas tudo é possível, pois já vimos um Sérgio Moro abraçando um Jair Bolsonaro, depois do vídeo de abril de 2020 em que denunciou as falcatruas na Política Federal, e uma Marina Silva soltando seus cabelos para um Aécio Neves em 2014.
Mesmo que se considere que São Paulo respira aliviada, o apoio de Pablo Marçal a Ricardo Nunes já está em negociação e não será surpresa o criminoso coach desenvolver um discurso modulando suas mentiras como forma de dar espaço para o prefeito se explicar, como fora a suposta agressão à esposa e o envolvimento do PCC no transporte público, podendo até subir no palanque com o prefeito. Sim, política é a arte de engolir sapos e a direita se unirá contra Guilherme Boulos no segundo turno, passando por cima dos princípios de civilidade. Nos dias que antecederam o primeiro turno na capital paulista, a pregação de voto útil de lado a lado criou corpo, mas parece que não alterou a votação de Tábata Amaral. Mas o conceito de voto útil explicitado por Hélio Schwartsman foi sui generis, pois ele pregava que a esquerda votasse em Marçal para ser o melhor adversário de Boulos. O jornalista partiu de um pressuposto lógico para explicar algo que é muito subjetivo. Além disso, como saber o montante de votos para destinar parte deles para um ou outro candidato, para então forçar que este ou aquele vá para o segundo turno? Nem em votações de assembleias universitárias, com quórum de poucas dezenas de votantes, conseguimos tal proeza. Ao menos não vimos patriotadas no primeiro turno, ao contrário do Sete de Setembro quando ainda, destoando da civilidade, alguns milhares de apoiadores de criminosos foram às ruas portando cores que não lhes são dignas. Aqueles desfiles cívicos da Independência em Brasília e em outras cidades deram o tom do que é a verdadeira participação do povo junto aos poderes constituídos. Agora nas eleições as cores neutras nas roupas foram as dominantes, refletindo na vitória da direita fisiológica, mas não da mais extremista, com alguma manutenção das forças progressistas. Com o voto predominante na direita, o eleitor demonstrou que não está preocupado com a administração frente a adversidades, uma vez que foram os governos de direita os de piores índices durante a pandemia em relação a distanciamento, reclusão e vacinação. Ou mesmo em relação às mudanças climáticas, sendo que as enchentes gaúchas e a quase reeleição de Sebastião Melo em Porto Alegre no primeiro turno são o símbolo mais explícito dessa desconexão. Quanto a isso, não podemos deixar de lado a capacidade de análise de José Dirceu, grande político e intelectual, que deu uma longa e excelente entrevista para Mônica Bergamo no final de setembro. José Dirceu conhece como ninguém a política nacional e os meandros e movimentos do poder. É impossível ficar indiferente a sua análise da conjuntura atual e defesa da esquerda. Por tudo o que já passou e sua importância histórica na ascensão do PT, é um exemplo e estimulante sua disposição de continuar no cenário político.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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