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    Giselle Mathias

    Advogada em Brasília, integra a ABJD/DF e a RENAP – Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares e #partidA/DF

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    Marcos 2

    Aos “Marcos” de minha vida só tenho a agradecer por ter conseguido derrubá-los - com dores, sofrimentos e decepções, mas sem nunca descer do meu belo salto agulha vermelho

    Cresci sendo ensinada a como andar, sentar, me portar a mesa, sorrir, falar e me calar, mas em um determinado momento a vida foi se abrindo e os limites impostos foram sendo rompidos, um a um, e o incrível é que para mim não houve resistência para que fossem ultrapassados, ao contrário recebi o apoio e o estímulo de um homem; sim, um homem!

    Meu pai foi esse homem que me enxergou e possibilitou que eu me tornasse livre, mas era único e era meu pai, eu estava ali como a filha, aquela que talvez ele desejasse que não se submetesse, que fosse livre, que não fosse enjaulada e prisioneira do masculino, como ele fizera com minha mãe. Mas enquanto me incentivava e acreditava em toda a minha potência de vida, o modelo era seguido à risca em casa; as mulheres e homens que estavam a minha volta, os filmes, as novelas, os romances, os amigos e o trabalho me mostravam que eu não poderia ter essa liberdade tão almejada, era puxada para a realidade imposta pelo modelo social. As frustrações e os medos foram me tornando cada vez mais próxima do padrão, era mais fácil viver de acordo e moldada como todos a minha volta; cedi ao que era confortável, sem perceber que me matava aos poucos, que perdia minha pulsão de vida, que permitia apenas o passar dos dias, meses e anos; eu não existia, apenas estava ali, respirando.

    Rompi com os “Marcos” quando decidi viver, simplesmente ser, quando abandonei minha zona de conforto, status e o modelo perfeito de família posto em imagens capturadas por câmeras e expostas nas minhas redes sociais, como se fosse a minha realidade.

    Acredito em escolhas! E a minha foi viver, com todas as consequências que se apresentam, hoje percebo que não há mais “Marcos” que se coloquem a minha frente, porque quando o fazem eu os rompo, não permito que se tornem muralhas intransponíveis.

    Hoje penso e sinto a vida correr em minhas veias, pulsar meu coração e inflar meus pulmões; ainda reconheço em mim medos e a imposição do padrão de sucesso, mas também percebo toda a minha luta para transpô-los, ultrapassá-los sem o peso das minhas escolhas, levando apenas o tempo necessário para dores e sofrimentos, sem as culpas e cobranças dos encarcerados.

    Desejo as realizações, as quais não conquistamos em duas horas de filme, mas com pequenos passos, persistência e a crença em si mesma; não faço uma ode à solidão, também desejo os amores reais, todos, com ou sem rótulos, desnudo, sentido, emocionante, inebriante, doloroso, saudoso, aqueles das descobertas, do toque, dos cheiros, do riso, da lágrima, do coração acelerado, do calor no ventre, da incerteza do tempo que durará, do gozo intenso, do desejo da carne, da mente e do que não se explica e tão pouco se entende, mas é verdadeiro.

    Percebo a minha força e humanidade cada vez que me sobreponho aos “Marcos” que tentam me impor as fronteiras; a liberdade que busco não me será dada, mas terá que ser conquistada a cada dia, em cada posição que tomo, em cada escolha que faço e com as consequências que se apresentam, mas com a alegria de me ver humana, sem ter que cumprir os padrões da bonequinha de luxo ou do bibelô na estante esperando o próximo comprador.

    Essa tem sido a minha jornada, vivendo as minhas histórias, ouvindo as das minhas amigas, relembrando as do passado e observando como tudo me influenciou e me construiu, mas acima de tudo entendendo o que ainda preciso aprender, observar, crescer, superar; continuar a me construir para me aproximar de mim mesma, de uma plenitude minha, mas não só, porque viver significa união, compreensão, carinho, atenção e até mesmo disponibilidade para o outro e para si.

    Aos “Marcos” de minha vida só tenho a agradecer por ter conseguido derrubá-los - com dores, sofrimentos e decepções, mas sem nunca descer do meu belo salto agulha vermelho.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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