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    Paulo Moreira Leite

    Colunista e comentarista na TV 247

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    Marielle, sempre Marielle

    Depois que a corrupção tornou-se instrumento de assassinatos políticos, apurar o crime que marcou a campanha presidencial de 2018 tornou-se questão essencial na preservação da democracia, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

    O ex-deputado estadual e conselheiro afastado do TCE-RJ Domingos Brazão negou que conheça uma testemunha que aponta o miliciano Orlando Curicica e o vereador Marcelo Siciliano como responsáveis pela execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes (Foto: Midia Ninja)

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    Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia - Apurar os vínculos entre os operadores do gabinete do então deputado
    Flavio Bolsonaro e os mandantes do assassinato de Marielle Franco e
    Anderson Gomes devem ocupar a prioridade absoluta nas investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro.

    É aqui que se encontra o passo decisivo para vencer uma situação
    inaceitável de incerteza  política, que envergonha o país e ameaça o
    futuro de 210 milhões de brasileiros e brasileiras.

    Desvios de dinheiro, "rachadinhas", investimentos-fantasma e cobrança
    de propina constituem  práticas que acompanham os esquemas de poder de muitas décadas, em toda parte, ou quase.

    Devem ser apurados, investigados e punidos porque constituem uma força
    corrosiva que sabota a democracia e corrompe os valores da cidadania.

    (Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)

    No entanto, quando a corrupção e o assassinato político caminham de
    braços dados, estamos diante de uma situação nova, que assinala um
    grau de degeneração poucas vezes visto na história de qualquer país.

    Se a corrupção costuma surgir em  todo tipo de regime, o crime que
    tipifica a existência de uma ditadura é o assassinato, a tolerância
    diante da eliminação de vidas humanas. Esta é a diferença, a
    periculosidade, o horror próprio e  repulsivo.

    Marca a ascensão de reflexos animalescos e impulsos imundos em mentes que assaltaram o Estado. Assinala a ruptura de um limite básico,
    essencial, civilizatório -- a noção de que todos tem o direito de
    usufruir a vida até onde sua natureza permitir. Seu peso -- real e
    simbólico -- pode marcar mudanças na história de um país.

    De repente, as ditaduras matam, sob a luz do dia  -- e tudo fica por
    isso mesmo.

    Numa tarde de 28 de março de 1968, no centro do Rio de Janeiro, o
    jornalista Washington Novaes assistiu pela janela da redação da
    extinta revista Visão a uma estranha movimentação de soldados da PM
    nas vizinhanças do restaurante Calabouço. "Vi o momento em que um
    aspirante da PM se ajoelhou, fez pontaria com o fuzil e deu um tiro,"
    me contou, 43 anos depois, numa entrevista para meu livro A Mulher que
    era o General da Casa.

    (Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)

    "Também vi o menino caindo", prosseguiu, referindo-se a Edson Luiz
    Lima Souto, executado  de forma premeditada, desnecessária, numa cena
    que deu uma mensagem de violência  e impunidade ao país --
    institucionalizada, oito meses depois, com a decretação do AI-5.

    Um cidadão entre milhões, Washington Novaes jamais foi chamado a
    contar o que viu. Para ficar quieto, foi perseguido em dois IPMs.
    Enquanto isso, a máquina que massacrava cidadãos seguia seus
    movimentos de réptil gigantesco, pelo país inteiro.

    Passados 51 anos,  a morte de Marielle Franco e do motorista Anderson
    Gomes aguarda os esclarecimentos necessários um país onde a democracia retorna a encruzilhada.

    Graças a um cordão sanitário que protege os dois operadores de campo
    que consumaram o crime, seu silêncio está garantido sob segurança
    máxima. Proteger essa conexão é alimentar a maior ameaça enfrentada
    por nossa democracia.

    Nós sabemos disso.

    Eles também sabem.

    Alguma dúvida?

    (Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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