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    César Fonseca

    Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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    Mártires do MST pressionam Lula pela reforma agrária

    A batalha está sendo, até agora, vencida pelos neoliberais financeiros, adeptos da restrição fiscal e monetária controlada pela Faria Lima em sintonia com o BC

    Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)

    A presença prometida do presidente Lula no acampamento do MST em Tremembé, São Paulo, onde foram assassinados dois representantes do movimento de trabalhadores que lutam pela reforma agrária joga pressão sobre a proposta governamental para acelerá-la, tirá-la apenas das cogitações e do ‘enrola-enrola’ político.

    Chegou a hora de agir.

    O MST vem ao longo dos últimos dois anos tendo relação difícil com o governo por conta da promessa não cumprida do governo de dar passos mais decididos pela reforma agrária.

    O teto de gasto neoliberal comprometido com déficit zero em nome do combate à inflação para tentar segurar a taxa elevada de juros, Selic, que só favorece os banqueiros e impede a reforma agrária.

    Aumentar os gastos públicos, com a reforma agrária, levanta a ira do mercado financeiro.

    Os especuladores dirão que mais gastos sociais para financiar reforma agrária ferem a meta de inflação que reclama juro alto, quando déficit público aumenta além do que promete o ministro Haddad, da Fazenda, na casa de 0,5% do PIB.

    Em 2024, o déficit ficou em 0,1% do PIB, enquanto o crescimento do PIB ficará em 3,6%.

    A pressão do MST para a reforma agrária elevaria o déficit e levantaria resistência da Faria Lima, que reclamará juro mais alto como preço a pagar pelo crescimento do déficit, rompendo restrição do teto de gastos.

    E as mortes e os assassinos dos agricultores sem-terra, o que fazer com elas e eles, para dar resposta efetiva ao movimento social mais organizado do país?

    Trata-se de luta de classe na disputa pela renda nacional entre o MST e o mercado financeiro.

    Sem recursos para atender a demanda da reforma pelo MST, cresce a tensão política que polariza a burguesia rural e financeira representada pelo agronegócio X MST, que prioriza organização política para democratizar a propriedade rural.

    MST X neoliberalismo - O Brasil ainda não fez a reforma agrária porque a resistência do latifúndio e do mercado financeiro fortalecem o tripé neoliberal que os banqueiros impõem: metas inflacionárias rígidas, câmbio flutuante e superávit primário irrealista.

    Por trás dessa armadilha econômica e financeira tem a apoiá-la a direita e ultradireita, com maioria no Congresso que impede avanços da reforma agrária.

    A luta renhida entre agro e mercado financeiro, de um lado, e MST, de outro, em defesa da democratização da propriedade, para fortalecer o mercado consumidor e a modernização do capitalismo nacional não se realiza, como aconteceu nos principais países capitalistas do mundo, desde final do século 18 e ao longo do século 19, como arma para a revolução industrial.

    O confronto de dois interesses em choque acirra a luta ideológica entre MST e o neoliberalismo financeiro que suga os recursos do orçamento público, deixando pouco para os agricultores rurais sem terra e muito para os especuladores financeiros e latifundiários.

    Faria Lima e agronegócio exportador sugam as energias do MST e forçam o Congresso a ficar de braços cruzados, enquanto o governo, sob o arrocho fiscal neoliberal, prolonga a tormenta que toma conta do campo e acirra os assassinatos, como os que aconteceram em Tremembé.

    A disputa Faria Lima e do agro X MST e a esquerda radical que apoia o movimento de luta histórico pela reforma agrária ganha força quando a luta de acirra.

    Combustível da revolta - As mortes dos mártires do MST são o combustível da resistência pela reforma agrária que o governo colocou em banho maria por se render ao mercado financeiro e à sua política neoliberal, responsável pela escassez de capital estatal para fazer programa social, como é o caso da reforma agrária.

    A expansão do mercado interno, que leva à industrialização, à maior profissionalização do mercado de trabalho e consequente aumento da renda média nacional em cenário desenvolvimentista nacionalista não alavanca enquanto a reforma agrária não deslancha.

    A primeira providência objetiva a ser tomada é utilizar as terras devolutas e criar programa de mecanização para os agricultores pobres comprarem suas máquinas.

    A China está disposta a ajudar nesse sentido, pois o MST, em contato com os chineses, reclamam os tratores chineses de pequeno porte adequados à agricultura familiar que fazem sucesso na chinesa e também são sensação na África, onde o processo está se desenvolvendo.

    Os chineses querem transformar o continente africano em celeiro agrícola para abastecer a China, como já acontece com o Brasil.

    Faz-se, portanto, urgente juntar as oportunidades da distribuição das terras devolutas + programa de financiamento de pequenas máquinas agrícolas para que o MST alavanque a produção de alimentos para abastecer mercado interno e exportações.

    Essa proposta, aliás, o MST já está desenvolvendo na Venezuela, onde o presidente Nicolás Maduro convidou os agricultores para desenvolver esse trabalho lá com total apoio do Estado venezuelano, com o dinheiro do petróleo, a fim de alavancar a reforma agrária e a industrialização.

    Portanto, os assassinatos dos agricultores em Tremembé pelo agro e pelo mercado financeiro, que não deixam o governo priorizar a agricultura familiar, botam fogo em forma de pressão para que o presidente Lula cumpra a promessa de campanha eleitoral.

    Em ano eminentemente eleitoral, véspera da disputa presidencial em 2026, o assunto vai certamente esquentar mediante mobilização popular.

    Mas o dinheiro oficial não sai porque o teto de gastos não deixa.

    A batalha está sendo, até agora, vencida pelos neoliberais financeiros, adeptos da restrição fiscal e monetária controlada especulativamente pela Faria Lima em sintonia com o Banco Central Independente.

    Desafios de Galípolo - De janeiro para frente, o desafio será a administração da política monetária pelo Banco Central, presidido por Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula.

    Ele ficará submetido ao mercado ou por um consenso econômico nacional que reclama redução dos juros para promover o crescimento econômico sustentável?

    A CNI reclama pacto nacional.

    Os sindicatos patronais e laborais tendem a entrar em pacto pelo desenvolvimento, pela redução das taxas de juros e etc.

    Se não for equacionada essa luta de classe na qual os pobres perdem sistematicamente para os ricos na disputa da renda nacional, o MST radicalizará para se defender dos que querem destruí-lo como resistência social.

    Lula terá que dar recado forte: não basta só discurso pró-reforma, tem que dar passos mais firmes em relação a ela, metendo a mão no bolso para romper o cerco do déficit zero neoliberal.

    Isso não vai agradar o agronegócio.

    Mas, é um custo político que Lula tem que enfrentar para garantir a unidade de forças políticas que garantiria sua reeleição em 2026.

    Sem dúvida, aumentarão as pressões para derrubá-lo, mas essa é a luta sucessória que já começou.

    O assassinato dos mártires do MST acelera relógio da história brasileira, balançando o neoliberalismo antidesenvolvimentista.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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