Matar Marielle é café pequeno
"Os irmãos Brazão, acusados de serem os mandantes da morte de Marielle, não passam de buchas"
No dia 14 de março de 2018, o então ministro do STF, Ricardo Lewandowski, relatou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, requerida pelo Partido Socialismo e Liberdade (P-SOL), questionando a constitucionalidade da intervenção federal no Rio de Janeiro, sob alegação de ser dispendiosa, desproporcional e eleitoreira. Por estranha coincidência, neste mesmo dia a vereadora Marielle Franco foi assassinada. E assim, ninguém mais reclamou das operações comandadas pelo general Braga Netto, que finalmente pode gastar em paz o seu R$ 1,2 bilhão do orçamento público para a segurança.
Nunca me passou pela cabeça associar a morte da vereadora aos supostos interesses contrariados pela ADIN do P-SOL. Porém, agora surge um relatório da Polícia Federal, onde afirma que um plano para assassinar o presidente Lula, seu vice, Geraldo Alckmin, e ainda o ministro do STF, Alexandre de Moraes, foi gestado dentro da casa do general Braga Netto. Diante de tal situação, pergunto: se isso for verdade, despachar uma vereadora ‘comunista’ para o além não seria café pequeno?
Acredito, sinceramente, que a denúncia da Polícia Federal sobre o plano de assassinar três das maiores representações da República Brasileira, abre uma nova frente de investigações sobre a morte de Marielle Franco, que não pode ser desprezada. Até mesmo para explicar as razões que levaram o assassino confesso da vereadora, Ronnie Lessa, a fazer pesquisas na internet sobre o general-interventor.
A nomeação do então chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, foi assinada pelo general Braga Netto, um dia antes do assassinato de Marielle e Anderson Gomes. Acusado pela Polícia Federal de colaborar ativamente na execução do atentado, Barbosa encontra-se preso, à espera de julgamento.
Em junho de 2024, o site de notícias Brasil de Fato, solicitou acesso aos documentos produzidos pela intervenção militar no Rio de Janeiro, com informações importantíssimas para combater o crescimento das milícias, a disputa pelo controle de terras, o tráfico de armas e drogas, entre outros, e recebeu a seguinte resposta: “estes papéis foram extraviados”. Ou seja, tudo o que se produziu em matéria de inteligência, “foi desaparecido”. Não existe cópia em Brasília, nem na secretaria de Segurança do Estado do Rio, nem em lugar nenhum. Papel picado.
O resultado dessa omissão – ou negligência – ou ainda, cumplicidade -, está escancarado nos jornais diários na TV. A intervenção não deixou legado. Só pavimentou o caos. Na Zona Oeste da capital carioca, você só tem duas escolhas: ou a milícia ou o tráfico. Não tem Estado. E esse é o modelo que supostamente Braga Netto pretendia levar para o resto do país, se confirmada sua participação nos planos para assassinar o presidente Lula. Uma república de facínoras.
É por isso que não canso de repetir: os irmãos Brazão, acusados de serem os mandantes da morte de Marielle, não passam de buchas. E digo isso com base na fragilidade dos argumentos apresentados pelo delator e assassino confesso, Ronnie Lessa. Nem o maior banqueiro do jogo do bicho, setor que recorre frequentemente aos serviços de matadores de aluguel, pagaria R$ 20 milhões pela encomenda de um cadáver. Não existe, na História do Brasil, algum criminoso que tenha recebido tão vultosa quantia por um crime de pistolagem.
Outra tese apresentada pelo matador de Marielle, de que a vereadora atrapalhava os interesses dos irmãos Brazão pela posse de terras, também não se sustenta. No próprio ‘Dicionário de Favelas Marielle Franco’, um apêndice do site Wikifavelas, a própria vereadora defendia as Áreas de Especial Interesse Social, assim denominadas pelo poder público, para permanência e regularização do solo, em ocupações para fins de moradia. Ela e o então vereador, Chiquinho Brazão, tinham muito mais convergências do que divergências sobre esse tema, que aliás nem era a sua principal pauta de atividade parlamentar.
Se compararmos motivações para a execução do crime, há muito mais verossimilhança na tese de resposta à intromissão do PSOL nos interesses dos interventores militares, do que numa hipotética contenda fundiária envolvendo Marielle e os irmãos Brazão. Até mesmo no entrelaçamento dos personagens, indicando que muitos ainda estão ocultos, mas que vão aparecer.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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