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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Mensagens da Spoofing confirmam denúncia de Tony Garcia e explicam por que ele decidiu implodir Moro e os procuradores

Em 2018, procuradores discutiram acordo com o agente infiltrado para obter vídeo que expunha Beto Richa e beneficiava aliados da Lava Jato na corrida ao Senado

Tony Garcia e Sérgio Moro (Foto: Reprodução/TV 247 | Agência Brasil)

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Mensagens encontradas no computador do hacker Walter Delgatti Neto, apreendido na operação Spoofing, confirmam as denúncias que o empresário Antônio Celso Garcia, o Tony, fez na primeira entrevista à TV 247.

Em 2 de junho, ele contou que, em 2018, após 13 anos, decidiu colocar um fim na sua relação como agente infiltrado de Moro e procuradores da república de Curitiba. Tony tinha em seu poder uma gravação de mais de uma hora com o chefe de gabinete do governador Beto Richa, do PSDB, feita em 2013, que trata do direcionamento de uma concorrência pública em benefício da Odebrecht.

Os procuradores da Lava Jato queriam a gravação para apresentar a denúncia que levaria Beto Richa à prisão. Para entregá-la, Tony exigiu que o primeiro acordo com Moro e os procuradores, celebrado em 2006, fosse cumprido e imóveis dele, dados em garantia, fossem liberados, já que as obrigações tinham sido cumpridas. Além disso, o agente infiltrado queria que o Ministério Público Federal concordasse com os termos de um acordo no Ministério Público Estadual sobre o caso de Beto Richa.

Numa troca de mensagens, em 10 de julho de 2018, o procurador Diogo Castor de Mattos apresenta a minuta do acordo com essas exigências de Tony e pergunta: "Pode autorizar?"

Tony não sabia dessa conversa no chat, mas conta que, na mesma data, recebe telefonema ameaçador de Januário Paludo, que queria a gravação sem ter que, em contrapartida, conceder a "alforria" de Tony. 

"Eu me mantive firme e disse que, sem aquelas condições, não entregaria a gravação", recordou o agente infiltrado durante a entrevista realizada para o documentário "Um juiz fora da lei - Os crimes de Moro e a máfia de Curitiba", com estreia prevista para o próximo dia 29.

Januário acabaria recuando e marcado um encontro do advogado de Tony com ele e outros procuradores no Ministério Público Federal em Curitiba. 

O agente infiltrado diz que o advogado levou o pen drive no bolso da lapela e estava orientado a só entregá-lo depois de receber uma via assinada do acordo. Deltan Dallagnol, o coordenador da força-tarefa, ainda ameaçou o advogado.

"O senhor sabe que podemos confiscar esse pen drive?", teria dito. O advogado teria respondido: "Então, os senhores terão que tomar de mim, e levantou os braços". Os procuradores acabaram concordando em assinar o acordo e ficar com o pen drive.

Por que o Ministério Público Federal estava tão interessado na gravação que expunha Beto Richa? A resposta provável é que queriam prender Richa e acabar com suas chances de se eleger senador. Até a prisão, Richa liderava as pesquisas eleitorais, ao lado de Roberto Requião.

Também estava no páreo Flávio Arns, de quem Rosângela Moro era parceiro na Federação das Apaes, e o empresário Oriovisto Guimarães, do Podemos, o partido de Álvaro Dias, que Moro, na condição de juiz, blindou na Lava Jato. Abertas as urnas, os eleitos foram Oriovisto e Arns.

Quatro anos antes, quando já tinha a gravação em seu poder, Tony Garcia tinha procurado Carlos Fernando dos Santos LIma e Januário Paludo, para fazer a denúncia. Na época, ele foi desprezado. Por quê? Tony acredita que seja uma razão política. Em 2014, o PSDB, partido de Richa, era blindado por Moro.

A situação política mudou em 2018, com o PSDB em baixa e uma notória ligação de Moro com o Podemos, partido a que o então juiz se filiaria em 2021,quando começou sua campanha a um cargo eletivo.

Moro e os procuradores já tentaram desqualificar as mensagens apreendidas na operação Spoofing, mas o que é debatido e decidido nos chats do Telegram são confirmados pelos fatos.

É o caso do segundo acordo de Tony Garcia. Mas o agente infiltrado se enganou quando pensou que teria a alforria depois da entrega da gravação. No ano seguinte, quando assumiu no lugar de Moro, Gabriela Hardt aceitou uma proposta do Ministério Público e iniciou a ação para quebrar o acordo de 2006.

Em 2021, com a faca ainda no pescoço, Tony Garcia prestou depoimento em que relatou os crimes de Moro como seu chefe e o conluio com o Ministério Público. A juíza Gabriela Hardt, que substituía Moro, tinha o dever de encaminhar o depoimento para abertura de investigação.

Mas nada fez, o que é prevaricação. O processo ficou parado até que o juiz Eduardo Appio o encontrou na vara, alguns meses depois de assumir como titular, em 2023. Appio encaminhou as denúncias de Tony Garcia para o Supremo Tribunal Federal, foro adequado para investigar senadores.

Um mês e meio depois, Appio foi afastado pelo Tribunal Regional Federal da 4a. Região, sem direito de se defender. E Gabriela Hardt reassumiu o poto e suspendeu o envio da denúncia ao STF e ainda marcou audiência para julgamento de Tony Garcia. O agente infiltrado poderia voltar à prisão e perder seus bens. Seis dias antes dessa audiência, Tony decidiu quebrar o silêncio e dar entrevista à TV 247.

Tony Garcia voltará a falar na live do 247 desta quarta-feira (12). Sua entrevista começa às 21 horas. Ele deve divulgar novas gravações que realizou dos procuradores da república – ele já divulgou duas de Moro.

Uma das gravações confirmam a existência do vídeo da festa da cueca, que reuniu desembargadores do TRF-4 e garotas de programa agenciadas por Mirlei de Oliveira. Segundo Tony Garcia, Moro obteve a gravação em 2005, mas não juntou a nenhum processo.

O vídeo da festa da cueca teria sido usado por ele para chantagear desembargadores do TRF-4 e consolidar seu poder na corte, que, como se viu no caso de Appio, se mantém até hoje. Tony Garcia promete divulgar novas gravações, além destas que serão publicadas logo mais. Promete contar também detalhes do subterrâneo sujo do sistema de justiça no sul do Brasil.



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