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    Leonardo Attuch

    Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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    Mídia corporativa não pode se queixar de Bolsonaro

    "Jair Bolsonaro tem certa razão ao dizer que a imprensa 'envenena a sociedade', porque ele próprio é a consequência de um veneno inoculado pelos meios de comunicação no Brasil nos últimos anos: o veneno do antipetismo", diz Leonardo Attuch, editor do 247

    (Foto: ADRIANO MACHADO - REUTERS)

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    A esta altura do campeonato, todos nós, jornalistas, deveríamos estar nos perguntando: onde foi que erramos? Como foi possível chegar a este ponto? O que fez com que o Brasil passasse a ser governado por um ser que, dia sim, dia não, ataca a imprensa, assim como, provavelemente, vai ao banheiro?

    Eu tenho uma resposta, mas sem a pretensão de que seja a verdade absoluta e definitiva. A meu ver, Jair Bolsonaro, que ontem disse que a imprensa 'envenena a sociedade' e que jornalistas são uma 'raça em extinção', é a consequência direta de um veneno inoculado pelos meios de comunicação corporativos no Brasil nos últimos anos: o veneno do antipetismo.

    Quantas pessoas hoje, sem o menor conhecimento econômico, repetem a mentira de que 'o PT quebrou o Brasil', quando todos os dados econômicos mostram exatamente o contrário? Basta acessar as estatísticas oficiais para se dar conta de que, nos governos de Lula e Dilma, o Brasil cresceu, reduziu a pobreza, manteve a inflação sob controle, acumulou US$ 300 bilhões em reservas, e também produziu superávits fiscais primários superiores aos dos governos que vieram antes e dos que os sucederam. Pode-se discutir se o modelo de desenvolvimento ancorado no Estado alcançava seus limites, mas daí a dizer que o 'PT quebrou o Brasil' vai uma distância oceânica.

    Em parelelo à questão econômica, os veículos de comunicação corporativos também construíram outra pós-verdade: a de que o PT inventou a corrupção no Brasil, quando qualquer pessoa minimamente honesta pode se dar conta de que havia um problema estrutural relacionado ao financiamento empresarial de campanhas políticas, que atingia todos os partidos. Mais do que isso: qualquer pessoa com honestidade intelectual também se dá conta de que todos os articuladores da conspiração política de 2016, como José Serra, Aécio Neves, Aloysio Nunes e Michel Temer, foram blindados – e continuam a ser – a despeito até de contas milionárias na Suíça.

    Foi a mídia corporativa, portanto, que envenenou a sociedade brasileira ao criar a narrativa usada por Bolsonaro e por seu séquito de ignorantes para  chegar ao poder. Uma narrativa que parte de duas grandes pós-verdades: "o PT quebrou o Brasil" e "o PT é sinônimo de corrupção". Para a massa de desinformados, não importa se Bolsonaro bate recorde em liberação de emendas parlamentares, com sua "nova política", e também lota seu governo de nomes ligados ao DEM – o tradicional partido das oligarquias, que é um dos recordistas em acusações de corrupção. A mídia o protege porque dele recebe o que seus patrocinadores pedem: Paulo Guedes e sua política de desmonte do estado e também de direitos sociais.

    De certa maneira, pode-se até dizer que Bolsonaro é um presidente "zuêro", para usar uma palavra típica da juventude. Ele pisa na imprensa e esculacha os jornalistas da mídia corporativa porque sabe que seus verdadeiros donos – os barões do grande capital – estão satisfeitos com sua política econômica. É uma dura lição para todos os jornalistas que ajudaram a construir um Brasil ancorado em mentiras apenas porque se deram conta de que, após vencer a quarta eleição presidencial em 2014, o PT provavelmente também venceria a quinta, com Lula em 2018. Foi exatamente por isso que Dilma foi deposta em 2016 por "pedaladas fiscais", outra grande fake news, e Lula foi impedido de disputar dois anos depois, em nome de um "combate à corrupção" que colocou os políticos mais corruptos do Brasil no poder. A mídia corporativa pariu Bolsonaro e não pode se queixar, nem tem o diireito de rejeitar seu próprio filho. Toma que o filho é seu!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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