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    Marcus Atalla

    Graduação em Imagem e Som - UFSCAR, graduação em Direito - USF. Especialização em Jornalismo - FDA, especialização em Jornalismo Investigativo - FMU

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    Militares se movem pelo Estado de forma estratégica, não apenas atrás de bacalhau, picanha e leite condensado

    Os militares já estão no poder e se movimentam nas instituições do Estado de forma estratégica, não é só atrás de bacalhau, picanha ou leite condensado

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    O livro do general Villas Bôas, “General Villas Bôas: Conversa com o Comandante”, agora de forma confessa, explicita o alerta que vem sendo feito, há tempos, por estudiosos na área militar como Eduardo Costa Pinto, Piero Leirner e Manoel Domingos Neto.

    Houve a participação dos militares no golpe de 2016 e na eleição do Bolsonaro. Este não é um governo Bolsonaro, é um governo militar, ambos estão umbilicalmente ligados em uma espécie de simbiose.

    Os militares já estão no poder e se movimentam nas instituições do Estado de forma estratégica, não é só atrás de bacalhau, picanha ou leite condensado. Um estudo tendo como fonte o Portal da Transparência, a pedido da deputada Tabata Amaral (PDT) e do senador Alessandro Vieira (Cidadania), mostra essa movimentação dos militares.  Ric 791/2020 - % de cargos comissionados ocupados por militares - 2013 a 2020.

    Quando o ponto estratégico era o Ministério da Justiça, eles se mantiveram por lá (2017 a 2018). 

    Incluindo a aparição do general Etchegoyen ao lado da então presidente do TSE, Rosa Weber, ao comunicar não haver como investigar o uso de fake News nas eleições 2018, ou a nomeação do assessor “especial”, general Ajax Porto Pinheiro, ao Ministro Dias Toffoli, também presidente do STF na época. 

     Não havia necessidade nenhuma do tuíte do general Villas Boas ameaçando ministros no caso de decisão pela soltura de Lula, já estava tudo dominado, bastaria chamar Toffoli à sala ao lado.

    Não é de se surpreender a posse de um general na Petrobras e a recente fala de Bolsonaro de que irá “meter o dedo na energia elétrica”. Os militares vêm ocupando os Ministérios das Minas e Energia, Meio Ambiente, Ciências e Comunicações, a partir de 2019. (vide acima o gráfico da % de cargos ocupados pelos militares)

    Para o cientista político Alberto Carlos de Almeida, os ministérios mais cobiçados não são os com maiores verbas, mas sim, os com maiores verbas discricionárias. Esses permitem maior elasticidade no destino do dinheiro.

    O orçamento para 2021 ainda não foi aprovado, mas na proposta apresentada em 2020, os ministérios com maiores verbas orçamentárias discricionárias são:

    Educação (R$ 19,955 bilhões)

    Saúde (R$ 16,348 bilhões)

    Economia (R$ 12,983 bilhões)

    Defesa (R$ 11,738 bilhões)

    Já o orçamento discricionário dos Ministérios de Minas e Energia, Ciências e Comunicações estão longe de serem os maiores.

    Minas e Energia (R$ 5,067 bilhões) se houver a privatização da Eletrobras Eletronuclear e Itaipu. Não havendo se manterá o mesmo do ano passado (R$ 1,011bilhões)

    Meio Ambiente (R$ 534 milhões)

    Ciências e Tecnologia (R$ 2,735 bilhões)

    Ministério das Comunicações (R$ 1,577 bilhões)

    As Forças Armadas na guerra híbrida contra o Brasil 

    O antropólogo e pesquisador Piero Leirner, em seu livro “O Brasil no Espectro de uma Guerra Híbrida”, defende que as forças armadas foram predominantes no golpe de 2016 e eleição do Bolsonaro. Aplicaram nos brasileiros técnicas de operações psicológicas ensinadas pelos EUA, durante a estadia de nossos militares no Haiti (MINUSTAH).

    Técnicas como ciclo OODA de Boyd, Blitzkrieg de informações, bomba semiótica, fake News etc. visaram causar uma dissociação cognitiva e, desta forma, moldar o comportamento, influenciar a percepção, consciência e a vontade dos indivíduos.

    O general Villas Bôas confessou em seu livro a participação dos militares e seus familiares nas manifestações pelo golpe. Não é de se estranhar o surgimento de pessoas pedindo intervenção militar.

    "Nessa altura já se havia estabelecido uma espécie de válvula de escape: as manifestações de rua, sempre pacíficas, das quais o pessoal da reserva e uma parcela importante da família militar tomava parte.”

    Em recente entrevista ao site Deutsche Welle, Piero Leirner lembra que o general Rego Barros afirmou, “coube ao Exército mergulhar de cabeça no submundo das mídias sociais e se tornar o órgão público com maior influência no mundo digital no Brasil” , em sua despedida do Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEX) em 2019, órgão responsável pelas relações públicas das Forças Armadas, mas também pela cadeia de contrainformações que deveriam chegar na imprensa. O que foi corroborado por Villas Bôas em seu livro.

    Ainda em 2020, Leirner teorizou que a centralização de informações ao GSI poderia ter como intenção criar um Deep State Tupiniquim, reunindo informações de políticos, empresários e demais pessoas de interesse.

    Se os militares fizeram todo esse estrago na psique da sociedade brasileira controlando as redes sociais, o que poderão fazer controlando o Ministério das comunicações e as informações, inclusive sigilosas, que passam por lá.

    Apesar do aumento das tensões nesses últimos dias, não parece haver interesse dos militares em dar um golpe agora, eles já estão em pleno controle do Estado. O ponto de inflexão será as eleições de 2022.  

    Militares e Bolsonaro já têm uma bomba semiótica armada para explodir e precipitar uma quartelada de militares e PMs, caso perca as eleições, a narrativa da fraude na urna eletrônica.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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