Miopia dos jornalões extrapola no domingo
"Neste domingo eles foram uníssonos, ignorando completamente qualquer fator positivo da economia real brasileira, como o crescimento do PIB"
Afirmar que os jornalões servem a “o mercado”, ou que seu noticiário e suas análises baseiam-se exclusivamente na visão de rentistas, é chover no molhado. Mas neste domingo (22) eles foram uníssonos, ignorando completamente qualquer fator positivo da economia real brasileira, como o crescimento do PIB bem acima das expectativas, o menor desemprego da série histórica e a diminuição da pobreza. E enaltecendo, como já é rotina, os feitos austeros de Javier Milei na Argentina, cuja população afunda-se numa miséria crescente.
O Estadão fica com taça. Eis o que Lourival Sant’Anna escreveu sobre a Argentina de Milei, derramando-se em admiração: “A inflação deve cair de 211% em 2023, a mais alta do mundo, para 140% este ano. Para 2025, a previsão do FMI é de 45%. A principal causa disso é a queda do gasto público primário, que não inclui os juros, de 35,3% em 2023 para 30,2% este ano. As reservas cambiais subiram, nos últimos 12 meses, de US$ 21,5 bilhões para US$ 32,3 bilhões. Contribuiu para isso a anistia tributária para a repatriação de dinheiro do exterior”.
Deus salve a austeridade, que para essa gente representa um fim em si. Claro, nas últimas três linhas do seu texto laudatório Sant’Anna faz uma ressalva, nada grave para ele: “Apesar da queda da inflação, o custo de vida subiu, muitas empresas fecharam e o desemprego está alto, em 6,9%, embora tenha caído 0,7 ponto porcentual em relação ao trimestre anterior. Escrevo de Buenos Aires, e mesmo pessoas que não votaram em Milei reconhecem que a estabilidade é um ganho, apesar dessas dificuldades.”
Resta a pergunta: “essas pessoas que não votaram em Milei” e que “reconhecem que a estabilidade é um ganho” estão entre as 15,7 milhões abaixo da linha da pobreza no país platino, 52,9% da sua população?
Já a neo-bolsonarista Folha de S. Paulo, pateticamente empenhada em mostrar-se “plural”, sai com um editorial (“O que a Folha pensa”) intitulado “A conta do almoço grátis chega cedo ou tarde”. Em linha geral, o texto ataca a “gastança” do governo e, como de hábito, não aponta exatamente quais seriam os dispêndios perdulários. “A opção pela gastança, escancarada na emenda de transição de governo que expandiu a despesa federal em R$ 150 bilhões, sempre tem fôlego curto”, bradou o periódico, esquecendo-se de que “a despesa federal” inclui iniciativas para o bem-estar da população e a honra de restos gigantescos herdados de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, como os precatórios pedalados.
Também ignora, a canhestra Folha, que o Congresso acaba de aprovar, ainda que “desidratado” (termo que o jornal repete tediosamente, à falta de melhor vocabulário), proposta de ajuste fiscal do governo. Claro, o jornalão e seus assemelhados da imprensa consideraram “tímido” o pacote, por não esfolar até o osso as classes média e baixa.
A cereja do bolo dominical, contudo, edulcora as páginas do Valor Econômico. Informa-nos o bastião liberal que, tragédia suprema, os bilionários Rubens Ometto e André Esteves, entre outros, ficaram menos bilionários no ano que se encerra.
Eis o lead da caudalosa matéria: “Uma perda de mais de US$ 12 bilhões nas fortunas das pessoas mais ricas do Brasil se aprofundou esta semana, com o real chegando a um recorde de baixa, reduzindo o valor de mercado de empresas em mais de 60% no ano. De Rubens Ometto a André Esteves, alguns dos bilionários do país viram sua riqueza diminuir este ano, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recusa continuamente a cortar gastos na dimensão desejada pelo mercado e o déficit fiscal do país aumentou para quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB)”.
Suspeita-se de que notícia seja boa, apesar de o Valor dá-la como catastrófica. Questão de ponto de vista.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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