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    Heraldo Campos

    Graduado em geologia (1976) pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas (UNESP), mestre em Geologia Geral e de Aplicação (1987) e doutor em Ciências (1993) pela USP. Pós-doutor (2000) pela Universidad Politécnica de Cataluña - UPC e pós-doutorado (2010) pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP)

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    Mocotó!

    Esse tipo de comida, com muita sustança, recupera as forças. Deveria, no meu modesto modo de entender, fazer parte da cesta básica para a população

    Para não “enrolar” o possível leitor deste texto, logo de cara, vamos recomendar duas receitas de mocotó “para levantar defunto”. A primeira é uma clássica receita de pata de boi ou de vaca e, nesse caso, não se leva em conta o gênero do bovino. Por isso, se seu açougueiro for aquele das antigas, peça para ele que corte na serra de mesa a pata do animal em pedaços de dois dedos de espessura. Depois junte água numa panela de pressão e cozinhe até a cartilagem ficar mole. Para temperar use os temperos básicos, como alho, cebola, cheiro verde, coentro, pimenta dedo de moça, dando uma refogada no óleo nesses ingredientes antes de acrescentar o mocotó em pedaços para o cozimento e o arremate final.

    De procedimento semelhante, mas com menos tempo de fogo, vamos aos pés de galinha. Dificilmente seu açougueiro vai querer dar uma de manicure na poda das unhas da penosa mas, convenhamos, não é uma incumbência gastronômica muito difícil. Uma tesourinha “tchan” ou uma faca de serra comum resolvem o problema cutâneo. Para acompanhar essas duas nobres receitas uma salada de alface com tomate, arroz branco e mandioca cozida seriam ótimos parceiros. Antes disso tudo, para quem não tem restrição nenhuma, uma boa cachacinha para abrir o apetite seria um tiro certo. De sobremesa, uma gelatina de mocotó seria uma boa pedida. Mas aí é uma outra história.

    Pensando nessas duas baratas receitas, para quem gosta desse tipo de comida, lembrei da canção “Eu também quero mocotó”, composta pelo Jorge Ben e cantada pelo maestro Erlon Chaves e sua Banda Veneno, no Festival Internacional da Canção de 1970, num Maracanãzinho lotado. Assisti ao vivo, em preto e branco, numa TV provavelmente ainda que funcionava a válvulas. A canção provocou maior buchicho naquela época da ditadura de 64 e um pequeno trecho dela diz o seguinte: “Eu cheguei e tô chegando / Tô com fome e sou pobre coitado / Me ajudem por favor / Botem mocotó no meu prato”.

    Não é preciso dizer que depois de uma boa caminhada, como num mapeamento geológico, por exemplo, esse tipo de comida, com muita sustança, recupera as forças, aumenta a energia para o dia seguinte e, sem dúvida, um passo importante para a resistência. Deveria, no meu modesto modo de entender, fazer parte da cesta básica para a população. Por que não? Mocotó! - deixando claro que aqui não se pretende fazer qualquer apologia à matança de animais e muito menos à gastronomia carnívora; são apenas receitas caseiras e de família.

    Em tempo: a cantora norte-americana de soul music e embaixadora da boa vontade da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), Dionne Warwick, vem aí aos 83 anos. O povo merecia um show da cantora ao vivo, gratuito, e em praça pública. Será possível?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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