Modos de produção industrial e organização do trabalho: Taylorismo, Fordismo, Toyotismo, Volvismo e o nascer do “Uberismo”
O Uberismo resulta em uma grande precarização dos trabalhadores e conseqüente redução ainda mais drástica de sua qualidade de vida
A partir dos primórdios do capitalismo, a classe que se notabilizou por reunir quantidade de capital suficiente para investir no setor industrial, a burguesia, buscou desenvolver métodos de organização e fabricação visando otimizar suas atividades. Neste sentido, foram desenvolvidos no decorrer da história capitalista, sistemas de produção, adequados às necessidades dos burgueses e dos contextos históricos.
O primeiro modelo desenvolvido, no início do século XX, foi o sistema Taylorista, que se baseava na medição dos tempos e movimentos, visando alcançar a máxima produtividade do trabalhador, em um período em que as máquinas ainda eram movidas a vapor ou de forma manual. A exploração do trabalhador deveria ser ao máximo nível possível.
A partir destas premissas, foi desenvolvido o Fordismo, nas empresas automobilísticas de Henry Ford. Este sistema foi uma adaptação para mecanização cada vez maior da indústria, onde se desenvolveu o conceito de linha de produção, buscando fabricação e consumo em massa. Seus principais conceitos são a especialização do trabalhador e padronização dos produtos.
O contexto deste sistema foi o período de crescimento econômico nos EUA durante os anos 1920 e se espalhou pelo mundo até os anos 1980, se firmando como o modo de produção industrial característico do período de predominância do Estado de bem estar social nos países ocidentais no pós-guerra. O trabalhador deveria ser também, consumidor dos objetos que sua empresa produzia. Insere-se neste período, o conceito de que o trabalhador produz melhor se estiver “satisfeito”.
No Japão, por volta dos anos 1960, surge um novo sistema de produção e organização do trabalho, o Toyotismo, a partir das empresas Toyota Motors. Em um contexto de crescimento do neoliberalismo pelo mundo a partir de meados dos anos 1980, surgiram indústrias onde o trabalhador é multifuncional e treinado para atuar em qualquer área da empresa, podendo operar duas máquinas de uma vez, devido ao uso crescente da robótica e informática. O trabalhador apresenta alto grau de qualificação e especialização, passando por vários cursos e planos de carreira. O operário nesse sistema é treinado também para ser criativo e participativo, ficando menos submetido ao estresse. A produção é baseada em demanda efetiva, para evitar desperdícios.
O Toyotismo se organiza durante o período de expansão das idéias de estado mínimo, caracterizado pela retirada de direitos trabalhistas e sociais, em busca de reduzir os impostos sobre a classe empresarial, que passa a viver uma longa crise de lucratividade.
O Volvismo, por sua vez, é um sistema desenvolvido nas empresas automobilísticas da Volvo, nos anos 1960. Os jovens, vivendo um em sistema de bem estar social proporcionado pelo Estado sueco, não viam motivação em trabalhar nas fábricas de automóveis como meros “apêndices de máquinas”, mesmo com salários altos. Então a Volvo passou a oferecer empregos em locais altamente informatizados, com elevado grau de experimentalismo e participação dos trabalhadores em vários setores da empresa, com voz ativa nas decisões sobre planos de cargos e salários, direitos e deveres de operários e administradores, metas de produção, estratégias de gestão, preservação do meio ambiente e desperdício de insumos, entre outras típicas do cotidiano de grandes empresas.
Essas medidas geraram uma indústria dinâmica e inovadora, mas até o momento não conseguiu romper as barreiras escandinavas, embora se possa observar algumas experiências na União Européia.
Atualmente se observa o desenvolvimento de um novo sistema, que pode ser chamado de “Uberismo”, em referência à empresa que se popularizou pelo uso deste modelo de trabalho, o aplicativo de motoristas Uber. Na esteira da crise econômica de 2008, que gerou uma grande leva de desempregados sem expectativas de empregabilidade, aliado ao crescimento das operações de compra e venda pela internet, uma nova categoria de trabalho se espalha pelo mundo e se diversifica, a dos entregadores de aplicativos.
Essa classe trabalha sem vínculos formais com as empresas responsáveis pela fabricação das mercadorias ou das empresas que fazem a comercialização, configurando como “prestadores de serviço” em escala muito pequena. Este sistema, que parece ser a marca das próximas décadas, resulta em uma grande precarização dos trabalhadores e conseqüente redução ainda mais drástica de sua qualidade de vida, de maneira muito semelhante ao que se observava no período Taylorista. As conseqüências deste tipo de mudança são imprevisíveis, mas a partir da análise das experiências históricas não se pode esperar cenários positivos.
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