Moro inviável: o naufrágio precoce de uma candidatura
"Exposto à luz do sol, Sérgio Moro mostrou sua limitação como ator político. Um personagem fabricado em laboratórios estrangeiros", escreve o jornalista
No início de dezembro, a mídia amiga da Lava-Jato fez circular "avaliação em caráter reservado" atribuída a presidentes de partido não identificados, que apontava tendência irreversível: Moro passaria Bolsonaro em fevereiro de 2022 e seria o candidato a enfrentar Lula num segundo turno (leia aqui).
Na época, desconfiei.
O jornalismo "profissional" estava em plena campanha pelo ex-juiz suspeito. Campanha, percebe-se agora, fracassada.
Exposto à luz do sol, Sérgio Moro mostrou sua limitação como ator político. Foi um personagem fabricado em laboratórios estrangeiros, com apoio da mídia nativa, para cumprir a missão de barrar Lula em 2018 e colcar o petista na cadeia. O objetivo era apagar o PT e seu líder da história.
Moro falhou duplamente: desfeita a picaretagem lavajatista, Lula retomou a força e é favorito em 2022; e o ex-juiz expõe (agora no papel de candidato) toda sua fragilidade. Não soube explicar as notas recebidas da Alvarez & Marsal (numa delas explicitou o ego inflado e provinciano, ao se definir num email corporativo como "juge": pretendia escrever "judge", em inglês, talvez em consideração ao país que lhe dá guarida, mas errou até nisso)... e não consegue articular uma ideia original sobre o Brasil.
Entrevistas no Bial, colunas nos jornais, comentários favoráveis, notinhas plantadas, palestras para empresários, passeios pelo Nordeste com chapéu de cangaceiro e erros crassos de geografia (Sergio Fernando falou, numa das viagens, sobre o inexistente "agreste cearense"): nada disso adiantou.
Detestado pelos políticos (e não só os de esquerda), desprezado por acadêmicos e operadores do Direito, descobre-se agora que ele é rejeitado também pelos eleitores.
As últimas pesquisas desta semana - Quaest e IPESPE - mostram Moro empacado em terceiro lugar, num humilhante empate com Ciro Gomes. Os dois têm algo em torno de 7% ou 8% da preferência dos eleitores. Lula segue na faixa de 45%, e Bolsonaro com cerca de 25%.
Os fatos, esses danados, mais uma vez desmentiram o desejo da mídia "profissional". Moro não passou Bolsonaro em fevereiro, não vai passar, e todo analista sério sabia que não passaria.
Tudo indica, aliás, que será em breve ultrapassado por Ciro Gomes. A pesquisa IPESPE mostra que Moro é rejeitado por 55% dos brasileiros (atrás apenas de Bolsonaro - 62% de rejeição, e Doria - 59%). Ciro está numa condição bem mais favorável: 45% de rejeição (quase idêntica à de Lula - com 43%).
Além disso, na pesquisa Quaest apenas 11% dos brasileiros indicam a corrupção (tema central das falas de Moro) como maior problema do país. E pasmem, quando perguntados sobre o candidato mais bem preparado para acabar com a corrupção, os eleitores udenistas respondem que é Bolsonaro, e não Moro. Ou seja: os brasileiros parecem mais dispostos a perdoar rachadinhas e mansões do que notas fiscais milionárias ou "prestação de serviço" que parece troca de favores.
Sérgio Fernando Moro tem como Plano B, dizem, a candidatura ao Senado por São Paulo. Mas há um limite. Se perder o que lhe resta de credibilidade numa campanha pífia, em que expõe desconhecimento sobre o país e coleciona platitudes como "para vencer a miséria vamos criar uma Força-Tarefa", Moro pode ter dificuldades até para garantir uma vaga no Senado.
Em São Paulo, encontrará o terreno já congestionado por Datena, mais um bolsonarista ainda não definido e um nome da esquerda apoiado por Lula.
Se a esperança de Moro em São Paulo é unir forças com a turma de Kim Kataguiri e outros extremistas mirins, passará a campanha tendo que explicar se também é a favor de um Partido Nazista legalizado. Fora que precisaria estudar geografia, pra não confundir Pontal do Paranapanema com Dunas de Ipanema.
Geografia, respeito às provas e capacidade de articular o pensamento não parecem ser características fortes do ex-juiz, que em breve pode virar um náufrago da própria vaidade. Um náufrago político, bem remunerado, mas acossado por processos e denúncias.
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