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    Marco Damiani

    Marco Damiani é jornalista e consultor na área de comunicação

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    Moro já está em campanha presidencial

    O ex-juiz se esquivou do questionamento sobre possível candidatura a vice-presidente numa chapa à reeleição de Bolsonaro em 2022. Disse que a relação com o presidente está “ótima”, mas admitiu divergências internas sobre o que chamou de “pontos específicos”, diz o editor do site BR2pontos, que vê o ministro já em campanha presidencial

    Moro e seu inimigo

    Por Marco Damiani, editor do BR2pontos – Sergio Moro aprende rápido. Fortalecido pelas pesquisas Veja/FSB e Datafolha, que o apontam em plena ultrapassagem sobre o presidente Jair Bolsonaro em popularidade e melhor nome da direita para vencer o ex-presidente Lula na hipótese de um segundo turno presidencial em 2022, o ex-juiz acentuou sua fama de mau. Ontem, aceitou receber de presente seu próprio retrato formado por cartuchos de balas de revólver! Foi como se dissesse que a sua política de Justiça e Segurança Pública, mais do que o arcabouço legal e as medidas preventivas, é mesmo a da bala. Em coerência, vai insistir no Congresso, após o enxugamento do seu pacote anticrime, no excludente de ilicitude, a chamada licença para matar. Admita ou não, isso é o que menos importa, Moro está em campanha e sua mensagem é a de que ninguém, nem Bolsonaro, é mais durão do que ele contra corruptos e bandidos.

    Hoje, o ministro domina o noticiário com entrevista à Folha de S. Paulo, na qual reassume o papel que parecia ter abandonado para entrar para o governo, o de juiz. Na verdade, Moro pendurou a toga mas a saca do armário quando interessa. Duplica, nesses momentos, seu próprio papel. Ministro + juiz. A isto está acostumado. Na Lava-Jato, foi juiz + promotor, como mostrou à profusão The Intercept na Vaza-Jato.

    Como se ainda tivesse aquele martelinho na mão, Moro culpou, à Folha, o STF como responsável pelo aumento da percepção dos brasileiros de que o governo federal não atua como deve no combate à corrupção. O problema, na verdade, está no próprio governo, enroscado em casos Marielle, Queiroz e outros, mas não para o ministro. Segundo o Datafolha, a gestão do governo é ruim ou péssima na área do combate à corrupção, índice maior do que o verificado (44%) no mês de agosto. De acordo com Moro, o fato determinante para esse incremento “foi a revogação do precedente da segunda instância”.

    Depois de apontar o dedo para o Supremo, Moro culpou a própria Folha. Ele afirmou que o jornal de Luís Frias faz “sensacionalismo” em torno das revelações veiculadas em conjunto com o Intercept, nas quais transborda sua relação de liderança e intimidade com os procuradores do Ministério Público que formam a força-tarefa da Operação Lava-Jato. O ministro negou que tenha tido um comportamento antiético e irregular em seus tempos de juiz.

    Em sua sanha punitivista, Moro também culpa o Congresso. O pré-candidato presidencial sofreu uma derrota política nos últimos dias com a desidratação do chamado pacote “anticrime” aprovado pelo Congresso Nacional, mas não admitiu o revés. Ele está se preparando para reapresentar medidas que o pacote continha, com elementos como o excludente de ilicitude, mais conhecido como ‘licença para matar’.

    Esperto, o dublê de ministro e juiz se esquivou do questionamento sobre possível candidatura a vice-presidente numa chapa à reeleição de Bolsonaro em 2022. Disse que a relação com o presidente está “ótima”, mas admitiu divergências internas sobre o que chamou de “pontos específicos”. Divergências que, com o tempo, podem dar a ele a senha para julgar negativamente o governo Bolsonaro e contra ele concorrer em faixa própria pelo Podemos, o partido da Lava-Jato. Em campanha, Moro está fazendo tudo certo até aqui.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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