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    Tarcis Prado Júnior

    Doutor em Comunicação e Linguagens e autor de "Moro, o herói construído pela mídia" – Kotter Editorial, 2020

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    Moro na prefeitura de São Paulo: o fator Joice Hasselmann

    Sergio Moro (Foto: Reprodução/Twitter)

    Moro estará presente na disputa pela prefeitura na capital paulista. Ele se materializará por meio de sua preposta, a deputada federal Joice Hassellmann (a mais votada do estado com mais de 1 milhão de votos), que é candidata à prefeitura pelo PSL. O ex-juiz certamente não pode deixar de lado sua presença na maior cidade do país e a ex-bolsonarista e eterna lavajatista Joice será a representante do morismo de um extremo a outro na “Paulicéia desvairada”. Por ora, de acordo com a pesquisa da Idea Big Data publicada em 16/07, ela tem 5% dos votos, atrás de diversos nomes tradicionais no páreo, mas subestimar sua capacidade de arranque é um erro que pode, de novo, custar muito caro ao campo progressista.

    Na eleição de 2018 Bolsonaro era visto como chacota por todos os concorrentes e a esquerda não deu o valor que ele merecia como adversário no pleito. Superestimou os meios convencionais de comunicação e menosprezou (ou não compreendeu bem) as redes sociais digitais com destaque para o Whatsapp. Fake news e disparos em massa à parte, não dá para ignorar que esses meios foram vitais para a eleição do ex-capitão e para a chuva de nomes desconhecidos eleitos país afora, vencendo concorrentes de peso, como aconteceu no Paraná, em que Requião, tido como eleito ao Senado pela maioria das pesquisas, perdeu para o obscuro prof. Oriovisto, e com Dilma, também bem colocada nas pesquisas em Minas Gerais, e que perdeu a chance de ser senadora para outros candidatos naquele Estado. O caso mais emblemático foi Wilson Witzel, eleito governador do Rio de Janeiro, que de quase último lugar nos levantamentos ao longo da campanha, ganhou a eleição batendo nomes como Romário, Tarcisio Motta e Eduardo Paes (vencendo este no segundo turno com mais de 10% de diferença de votos). 

    Joice tem características bastante peculiares que é preciso prestarmos muita atenção. Em primeiro lugar, ela sabe utilizar as técnicas de comunicação e elaboração de discurso – e  ainda mais as redes sociais digitais. Perdeu muitos seguidores ao abandonar o mito, mas conserva a capacidade de mobilização e eletrização da massa no mundo virtual. Ela convence pelo tom de voz, linha argumentativa e principalmente pela compreensão dos anseios paulistanos, mesmo sendo paranaense de nascimento e vida profissional. Com certeza vai saber nacionalizar uma disputa de argumentos binários no âmbito municipal: as pessoas de bem x os corruptos (e aí, além da já manjada inclusão da esquerda, entrará também a ‘velha política”). 

    Outra característica que faz de Joice “um player” de “respeito” (e que deve ser levado a sério pelo campo progressista) é que ela tem uma capacidade incrível de se adaptar aos meios em que convive (não duvidem se, num futuro ainda não tão distante que ela se esgueirar para o campo da centro-esquerda).  Em todos os lugares por que passa, arruma confusão, mas sempre tem outra canoa para se bandear. Saiu da Veja, foi pra Jovem Pan, aí se tornou política, apoiou Bolsonaro e agora está próxima a João Dória (e este todos já sabem que não guarda lealdade a companheiro algum – vide o caso Geraldo Alckmin, que foi “abandonado” por ele na eleição presidencial).  Não estranhem se Dória fizer o mesmo que fez na disputa nacional também na municipal, ou seja: seu partido apoia Bruno Covas, mas ele, de forma dissimulada, põe um pé ali na “canoa Joice”. 

    Por fim, Joice é Moro na Prefeitura, ou seja, o imaginário do lavajatismo vai se materializar e será vocalizado (e louvado) por meio da mulher mais votada por São Paulo no pleito de 2018 à Câmara Federal. Não estranhem a presença virtual – quiçá física – do ex-ministro de Bolsonaro no palanque da deputada. Todos os políticos que desejam a Presidência sabem que São Paulo é a Stalingrado da guerra rumo ao Palácio do Planalto e Moro já escalou seus generais para essa incursão tática. Portanto, o campo progressista deve olhar menos para a cabeça da disputa (Covas) e mais para a ponta (Joice). O imaginário do juiz herói ainda não se dissolveu por completo. Corremos perigo. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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