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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Na data do centenário do Rádio no Brasil, a pioneira emudece

'A Rádio MEC-AM emudeceu às vésperas da comemoração do centenário do rádio', escreve a colunista Denise Assis

(Foto: ABR)

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Por Denise Assis, para o 247

Além dos 200 anos da “independência” do Brasil - data nublada por ameaças e pelo imponderável em torno das comemorações, que se deslocaram do cívico para o desespero eleitoral de Bolsonaro diante dos números divulgados pela Pesquisa Ipec - o 7 de setembro é também o aniversário de 100 anos da primeira transmissão oficial de rádio no país. 

A transmissão radiofônica pioneira aconteceu durante a Exposição Internacional do Rio de Janeiro, que comemorava os 100 anos da independência e contou com discurso do então presidente da República, Epitácio Pessoa, pela Rádio Sociedade, dirigida por Edgard Roquette-Pinto. Esta foi a primeira rádio oficial, fundada em 20 de abril de 1920.

Uma história que pode estar vivendo o seu epílogo, justo em data tão importante. A Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que deu origem à Rádio MEC-AM, com caráter de emissora pública, está fora do ar desde quinta-feira (01/09). Herdeira da frequência que pertenceu à Sociedade, a mais antiga rádio do país em funcionamento, transformada em Rádio MEC em 1923 por Edgar Roquette-Pinto, emudeceu às vésperas da comemoração do centenário do rádio, que acontece amanhã - 7 de setembro, com evento no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

O desligamento da antena da rádio sequer foi informado internamente. Os funcionários foram surpreendidos por ouvintes - avisando através da ouvidoria -, que a Rádio MEC AM 800 MhZ estava fora do ar. Procurado, o setor de engenharia da EBC afirmou se tratar de manutenção no transmissor de Itaoca (localizado na Baixada Fluminense), mas como a ameaça já pairava no ar, e sequer foi dado qualquer prazo para o retorno das atividades da rádio, o quadro funcional acredita no fim. Mais um desmonte do governo inimigo da Cultura.

A direção da EBC havia sinalizado no início deste ano, em reunião com gestores, a intenção de interromper as transmissões da MEC-AM e da Rádio Nacional, que passariam a funcionar apenas na internet. A direção da empresa pretendia, segundo os presentes, a operar o desligamento dos transmissores dessas duas rádios históricas sem alarde. Ao saberem desse plano, a sociedade civil e as organizações de trabalhadores se mobilizaram junto aos deputados estaduais Mônica Francisco (PSOL) e Waldeck Carneiro (PSB) pela aprovação de dois projetos de lei que tornavam essas rádios patrimônios imateriais do estado do Rio de Janeiro. Ambos os projetos foram aprovados pela ALERJ, porém vetados pelo governador Cláudio Castro. 

Os vetos foram derrubados pelo poder legislativo estadual e, portanto, as rádios já são consideradas patrimônios imateriais, situação que torna ainda mais grave o desligamento do transmissor da Rádio MEC-AM.

Informações internas aos funcionários da EBC dão conta de que a Rádio Nacional estaria, neste momento, operando em potência mínima, de maneira a não ser possível descartar a possibilidade de um eventual desligamento também de seu transmissor.

Trata-se de duas rádios fundamentais para contar a história deste meio de comunicação que neste dia 7 de setembro chega ao centenário no Brasil. Através delas, a população teve e tem acesso a programações culturais e noticiosas de qualidade.

Uma das preocupações do quadro funcional é com a preservação do acervo, no momento preservado em um pequeno museu, organizado no mezanino dos estúdios da Rua da Relação, nº 18, no Centro do Rio. Lá ficam preciosidades, como por exemplo os discos de vidro contendo entrevistas com o cosmonauta Iuri Gagarin e discursos históricos de Getúlio Vargas.

De acordo com a presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, Carol Barreto, “técnicos do setor de engenharia da Rádio MEC disseram que ela está em manutenção”, mas em sua opinião isto pode ser apenas uma desculpa para concretizar o que já vinham alertando os militares empossados no governo Bolsonaro para a direção da EBC.  

A presidência da EBC vem sendo exercida pelo civil Gleen Valente. As funções decisórias, de fato, foram entregues respectivamente: ao general da reserva e chefe de finanças, Marcio Kasuak e ao coronel Ronie Baskys, diretor geral, ambos lotados em Brasília. O 247 entrou em contato com a assessoria da EBC no Rio de Janeiro e em Brasília, em busca de informações sobre o que está, de fato, ocorrendo, como manda o princípio jornalístico de ouvir os dois lados. Porém, até o envio desta matéria não obteve retorno dos assessores. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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