Na pandemia, aumenta a procura por alimentos agroecológicos
Nem tudo é notícia ruim nesta pandemia. Por exemplo, desde o início da Covid-19 no Brasil, tem crescido a procura por alimentos - in natura, principalmente (legumes, verduras, frutas, ovos) - produzidos pela agricultura de base agroecológica, onde se inserem os orgânicos
Nem tudo é notícia ruim nesta pandemia. Por exemplo, desde o início da Covid-19 no Brasil, tem crescido a procura por alimentos - in natura, principalmente (legumes, verduras, frutas, ovos) - produzidos pela agricultura de base agroecológica, onde se inserem os orgânicos. Produtores do Rio e de São Paulo com quem eu conversei atestam esse fato.
O ator Marcos Palmeira, produtor de orgânicos em Teresópolis, região serrana fluminense, conta que “a procura por orgânicos aumentou 25% desde o início da pandemia”.
Na quarentena, Marcos está se dedicando integralmente à sua fazenda Vale das Palmeiras. Junto com a equipe da fazenda, ele está aceitando pela primeira vez, direto dos moradores de Teresópolis, encomendas de verduras e laticínios pela internet e fazendo entregas em domicílio.
Ele também participa do projeto @organicosolidario, e, junto com outros produtores, está doando cestas com produtos orgânicos para famílias de comunidades do Rio. “A meta é beneficiar 10 mil famílias com alimentos saudáveis e livres de agrotóxicos e pesticidas”, diz.
MPA: aumento de 200% com a ajuda de taxistas
Para os produtores do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) do Rio de Janeiro o momento não poderia ser melhor, como informa Beto Ribeiro, um dos coordenadores do movimento.
“Nosso sistema de abastecimento popular aumentou as vendas de cestas camponesas em 200%. Antes, entregávamos 300 cestas mensalmente; nesse mês e pouco de pandemia passamos a vender ente 1000 e 1200 cestas”, diz.
Também ampliaram a entrega para mais bairros do Rio. “Isso foi possível porque fizemos uma parceria com a Associação de Taxistas de Santa Teresa (bairro onde fica a sede do MPA)”. Cerca de 50 taxistas estão envolvidos no esquema.
Mais ou menos a mesma coisa está acontecendo com o Grupo de Produtores Orgânicos do Brejal (GP Brejal), na região serrana do Rio, município de Petrópolis. Embora não possa ainda mensurar o aumento nas vendas, “estamos sentindo uma forte procura e atendendo, na medida do possível”, informa Paulo Roberto, um dos coordenadores do Grupo, que reúne dezenas de produtores. Esse aumento se dá, não só nas feiras das quais participa, como nas vendas diretas ao consumidor final.
Procura saudável
E por que esse aumento de demanda está ocorrendo? Na avaliação da produtora Jovelina Fonseca, dona do Sítio Cultivar, em Nova Friburgo, também na região serrana do Rio, seriam duas as razões: “O reconhecimento de ser o alimento orgânico mais saudável, tendo como consequência um possível aumento da imunidade; e a restrição social, gerando aumento de delivery, venda direta ao consumidor final, via Internet”.
Segundo ela, este aumento na venda direta é o que está viabilizando a sua operação, “pois as vendas para os supermercados daqui caíram em 50%”.
A tese pela maior procura por alimento saudável em tempos de pandemia também é defendida por Bruno Ceni, de São José dos Campos (SP), cuja família atua em diversas frentes no mercado de orgânicos: a família produz erva-mate, feijão e chia no Paraná; o pai tem uma distribuidora em Curitiba, e ele, em São José dos Campos, atua como revendedor de produtores orgânicos certificados locais, em feiras e, agora, pela Internet. Também é produtor de tomate orgânico em Jacareí SP).
“Acredito que as pessoas estão se preocupando com o reforço de imunidade, por meio de uma alimentação mais saudável, que o orgânico proporciona”.
No seu caso as vendas dobraram, graças ao delivery. “Embora as vendas nas feiras tenham tido uma queda de 30%, essa perda foi amplamente compensada pelo aumento nas vendas diretas ao consumidor final, via Internet.”
Além disso, considerando o aumento da demanda, ele conseguiu estabelecer preços mais acessíveis, competitivos com os alimentos convencionais, facilitando as vendas.
Geleias e conservas
O crescimento não aconteceu só no nicho de produtos in natura. No Armazém Sustentável (Petrópolis, RJ), que fabrica, entre outros, conservas e geleias orgânicas, o aumento foi de 15%.
“Muita procura pelos produtos”, diz Luiz Henrique Fonseca, um dos sócios. “Especialmente pelo sistema delivery de cestas orgânicas, tanto com revendedores novos, quanto pelos próprios parceiros das feiras orgânicas que também estão fazendo entregas em domicílio”.
Pequenos e unidos
Segundo Clauber Cobi Cruz, diretor da Organis, Associação de Promoção dos Orgânicos, “os grandes distribuidores que dependem do grande varejo estão com dificuldades em escoar. Os pequenos produtores, que trabalham de forma mais unida, estão se beneficiando”, diz
“Nesses quase dois meses de isolamento, a produção dos orgânicos não parou e nem vai parar, a demanda por alimentos saudáveis continua em alta e os orgânicos vindo juntos com muita força. O mês de abril confirmou que o momento para os orgânicos nunca foi tão bom. O saldo está muito positivo para os pequenos agricultores, o que é uma ótima notícia, pois é a base da agricultura orgânica”, reforça.
Resta, agora, saber se esse quadro se mantém pós-pandemia/quarentena. Vamos aguardar.
Para Cobi Cruz, porém, “não está fácil para ninguém, mas o momento para os orgânicos é promissor; quando passar esta pandemia o setor conquistará um espaço muito expressivo, tanto nas grandes redes quanto nos diversos médios e pequenos espaços, seja ele online, feiras de ruas ou entregas de cestas. Enfim, vai ser muito melhor que o normal.”
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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