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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Na Venezuela há números para todos os gostos

    Não se trata mais de pedir atas, tíquetes de votação ou corroborar esse ou aquele resultado

    Venezuela (Foto: Reuters)

    Edmundo González é o “bom velhinho”, testa de ferro de Maria Corina, que no Brasil é retratada como “oposição a Maduro” - no momento sob a pele de vítima do governo venezuelano, autoritário e sanguinário -, que a está ameaçando de morte. Até segunda-feira, dia 30, ou também conhecido como “o dia seguinte”, a Venezuela amanheceu razoavelmente sob controle, aguardando os desdobramentos da eleição, em certa medida, em paz. 

    As imagens da TV que nos chegavam antes do pleito não deixavam dúvidas. Havia mais adeptos de Maduro nas ruas do que os de Maria Corina (imagens falam mais que mil palavras). Mas, resultado anunciado e sabedora de que no mundo de hoje o que prevalece é a versão dos fatos e não os fatos em si, a representante da ultradireita na Venezuela chamou para as ruas de Caracas os seus apoiadores, consciente de que haveria sangue, com os ânimos exaltados como estavam. 

    Importava, no entanto, plantar duas mensagens: houve fraude e Edmundo tinha “provas” da sua vitória, enquanto Maduro estava preso a um emaranhado de contratempos: ataque de hackers, 30 mil atas de votação a serem recebidas de todo o país, mas que não caminhariam com a rapidez eletrônica, posto que o sistema estava fora do ar. Campo fértil para teorias da conspiração de todos os lados. Principalmente do seu títere, Edmundo González, que declarou: “Temos em nossas mãos as atas que demonstram nosso triunfo categórico e irreversível”, e agradeceu o apoio da comunidade internacional, conclamando à calma e à firmeza. De quem? Dos de fora? Dos de dentro?

    O que impressiona, impacta, mesmo, é ver a mídia local embarcar nas versões e carregar nas tintas dos dados econômicos sobre a Venezuela, citando números e cifras cada vez mais dramáticos, a fim de demonstrar o quanto Nicolás Maduro é inapto para seguir à frente do comando do seu país. Todas as vezes que as mais de 700 sanções dos EUA são citadas pelos “colegas”, vêm acompanhadas do comentário: “mas isto não justifica as prisões políticas e arbitrárias”, o que o torna um ditador, arrematam.

    Não se trata mais de pedir atas, tíquetes de votação ou corroborar esse ou aquele resultado. No vale tudo que se estabeleceu, nesse hiato entre a votação e o desfecho, importa embaralhar e trazer à luz mais dados. Quanto mais confuso melhor. 

    Vou contribuir, aqui, com mais números. Se é para embaralhar e escolher nas gôndolas de comentaristas o quadro econômico que mais convém, vou colher na fonte da economista Juliane Furno, uma técnica competente e respeitada. Em entrevista ao Brasil de Fato – vá lá, um jornal esquerdista -, ela traz os seguintes dados: “a Venezuela saiu de uma inflação mensal de 97% em junho de 2018 para 1% em junho deste ano. Foi o segundo país que mais cresceu na América Latina ano passado, e o que mais deve crescer neste ano. E estamos falando de um país que convive com 930 sanções”, ressalta, classificando o plano de recuperação da Venezuela de “invejável”. 

    Fui aconselhada por uma amiga a não me pronunciar sobre esse tema, por ser “por demais complexo”. Certamente que sim. Tão complicado que cada um acrescenta números e fatos que querem, sem nem sequer citar fontes. Então, qual é o problema de eu trazer os descritos pela Juliane Furno, para essa cesta de palpites, não é mesmo? E não vale dizer que estou protegendo Maduro. Antes que alguém interprete assim, posso acrescentar a palavra de ordem da moda: “Maduro, cadê as atas?”. Brincadeirinha, claro. Embora não se deva brincar com o destino de uma Nação. O momento é sério. Muito sério.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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