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    Inez Lemos

    Psicanalista e autora de "Berro de Maria", ed. Quixote.

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    Não banalizemos o fascismo

    "Devemos exercitar a intolerância à extrema-direta"

    Jair Bolsonaro em ato na Avenida Paulista, São Paulo-SP, 7 de setembro de 2024 (Foto: Reuters)

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    Está na moda ter intolerância à lactose, glúten, entre tantos outros. Contudo, descobri que o brasileiro precisa de fortalecer a intolerância à onda perversa que entrou na agenda do país. 

    Não podemos mais aceitar que portem armas sem critérios rígidos. O porte de armas foi banalizado e com ele, as mortes. Sintoma de uma sociedade inconsequente - subjetividades operando a pulsão de morte. Banalizamos o feminicídio, o ódio à mulher que reivindica o direito ao próprio desejo e ao corpo. A misoginia é a revolta do macho à mulher que luta pelo prazer na cama e na vida.

    Banalizamos a mentira,  fake news manipulando o nome de Deus, angariar votos nas igrejas neopeteconstais foi normalizado. 

    Banalizamos a imoralidade, confundindo-a com moralismo perverso. Exploram a boa fé da população para denunciar a esquerda como drogadita, maconheira, defensora de bandidos. Sem provas e  argumentos, de forma irresponsável, jorra lama sobre o campo progressista -  lógica da desconstrução para apossarem do poder. 

    Cansou, basta! O momento exige retomar o discurso do Brasil que luta por justiça contra a desigualdade social, o racismo, homofobia, machismo estrutural. Não podemos compactuar com a banalização da inverdade, falta de vergonha.

    Devemos reforçar a luta contra gente desonesta, corrupta, manipuladora, covarde, preguiçosa. Gente que passa o dia arquitetando estratégias de enriquecimento por meio de golpes, disseminando ódio e violência, fazendo apologia ao crime organizado. 

    Geralmente, são pessoas frustradas, infelizes, ressentidas, invejosas. 

    Há algo de erótico no sadomasoquismo. O gozo do carrasco representa aquele que sente prazer com a maldade. Portanto, devemos escolher melhor os políticos, como também os parceiros de vida. 

    Uma pessoa feliz é um perigo, desperta maledicências, cutuca o lado sombrio da condição humana. Suportar a infelicidade com elegância exige alguns anos de divã. 

    Portanto, acredito que o bolsonarismo, em parte, seja sintoma de infelicidade, ressentimento. O fracassado que, para reparar o abismo existencial, transfere o ódio aos que o incomodam.

    O modo de viver da esquerda, geralmente, é mais interessante, exibimos uma riqueza simbólica maior. Apreciamos mais artes, buscamos nos hidratar transcendendo a mesmice do mundo com cultura - na literatura e nas ciências, encontramos formas de nos salvar. 

    Devemos exercitar a intolerância à extrema-direta. Lutemos por por um alinhamento poético da vida. Sonhei com Charles Chaplin no congresso, Chico Buarque na presidência da Câmara. Acordo e lembro de Lira, Bolsonaro, passo mal, vomito a indigestão do brasileiro gente boa, simples, trabalhadora. Que está se definhando.

    O sonho metaforiza o fim de um futuro mortífero. Impossível dormir ao som de balas programadas para exterminar a pobreza, população negra, projeto fascista de governabilidade. Vamos lutar?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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