Não banalizemos o fascismo
"Devemos exercitar a intolerância à extrema-direta"
Está na moda ter intolerância à lactose, glúten, entre tantos outros. Contudo, descobri que o brasileiro precisa de fortalecer a intolerância à onda perversa que entrou na agenda do país.
Não podemos mais aceitar que portem armas sem critérios rígidos. O porte de armas foi banalizado e com ele, as mortes. Sintoma de uma sociedade inconsequente - subjetividades operando a pulsão de morte. Banalizamos o feminicídio, o ódio à mulher que reivindica o direito ao próprio desejo e ao corpo. A misoginia é a revolta do macho à mulher que luta pelo prazer na cama e na vida.
Banalizamos a mentira, fake news manipulando o nome de Deus, angariar votos nas igrejas neopeteconstais foi normalizado.
Banalizamos a imoralidade, confundindo-a com moralismo perverso. Exploram a boa fé da população para denunciar a esquerda como drogadita, maconheira, defensora de bandidos. Sem provas e argumentos, de forma irresponsável, jorra lama sobre o campo progressista - lógica da desconstrução para apossarem do poder.
Cansou, basta! O momento exige retomar o discurso do Brasil que luta por justiça contra a desigualdade social, o racismo, homofobia, machismo estrutural. Não podemos compactuar com a banalização da inverdade, falta de vergonha.
Devemos reforçar a luta contra gente desonesta, corrupta, manipuladora, covarde, preguiçosa. Gente que passa o dia arquitetando estratégias de enriquecimento por meio de golpes, disseminando ódio e violência, fazendo apologia ao crime organizado.
Geralmente, são pessoas frustradas, infelizes, ressentidas, invejosas.
Há algo de erótico no sadomasoquismo. O gozo do carrasco representa aquele que sente prazer com a maldade. Portanto, devemos escolher melhor os políticos, como também os parceiros de vida.
Uma pessoa feliz é um perigo, desperta maledicências, cutuca o lado sombrio da condição humana. Suportar a infelicidade com elegância exige alguns anos de divã.
Portanto, acredito que o bolsonarismo, em parte, seja sintoma de infelicidade, ressentimento. O fracassado que, para reparar o abismo existencial, transfere o ódio aos que o incomodam.
O modo de viver da esquerda, geralmente, é mais interessante, exibimos uma riqueza simbólica maior. Apreciamos mais artes, buscamos nos hidratar transcendendo a mesmice do mundo com cultura - na literatura e nas ciências, encontramos formas de nos salvar.
Devemos exercitar a intolerância à extrema-direta. Lutemos por por um alinhamento poético da vida. Sonhei com Charles Chaplin no congresso, Chico Buarque na presidência da Câmara. Acordo e lembro de Lira, Bolsonaro, passo mal, vomito a indigestão do brasileiro gente boa, simples, trabalhadora. Que está se definhando.
O sonho metaforiza o fim de um futuro mortífero. Impossível dormir ao som de balas programadas para exterminar a pobreza, população negra, projeto fascista de governabilidade. Vamos lutar?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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