Não custaria nada Lula passar o bastão para Alckmin
Política não admite vazio de poder
Às 2h40 da madrugada deputados e senadores estão, quase sempre, nos braços de Morfeu, mas, no dia 2 de abril de 1964 eles estavam, a essa hora insólita, no salão da Câmara dos Deputados, para ouvir o vice-presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, investido no cargo de presidente da Casa.
“Atenção!”, começou ele, dando tintas dramáticas e urgentes ao seu discurso.
“O presidente da República deixou a sede do governo. Deixou a nação acéfala”…
Ouvem-se alguns apupos e gritos:
“Não é verdade! Não é verdade!”
Ele continua depois de alguns segundos:
“...numa hora gravíssima da vida brasileira, em que é mister que o chefe de estado permaneça à frente do seu governo. Abandonou o governo. E esta comunicação faço ao Congresso Nacional. Essa acefalia configura a necessidade do Congresso Nacional, como poder civil, imediatamente, tomar a atitude que lhe cabe nos termos da constituição brasileira para o fim de restaurar, nesta pátria conturbada, a autoridade do governo e a existência de governo. Não podemos permitir que o Brasil fique sem governo, abandonado”.
Ouvem-se novos apupos.
“Há, sob nossa responsabilidade, a população do Brasil, o povo, a ordem. Assim sendo, declaro vaga a presidência da República”.
Logo a seguir, Moura Andrade preenche o vazio de poder dando posse ao presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzili na presidência da República, por alguns dias, até a eleição de araque do general Castello Branco, no dia 11 de abril, sem campanha, sem candidatos civis, sem voto direto, em mais uma sessão infame do Congresso Nacional.
Não passa pela cabeça de ninguém que o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, repita a canalhice de Auro de Moura Andrade, mas o fato é que a cadeira do presidente da República está vazia.
Não custaria nada Lula passar o bastão a Alckmin enquanto estiver impossibilitado de assumir por inteiro as funções de chefe de estado, para haver um presidente e ninguém se assanhar a ocupar o vazio de poder.
Dois anos depois de uma tentativa de depor Lula, todo cuidado é pouco.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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