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    César Fonseca

    Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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    Não de Sheinbaum ao Rei da Espanha representa não ao neoliberalismo na América Latina

    'A América Latina precisa dar um basta à condição de colônia e repudiar políticas contrárias à industrialização do Sul Global', escreve César Fonseca

    Felipe VI e Claudia Sheinbaum (Foto: Raquel Cunha / Reuters I Juan Medina / Reuters)

    A nova presidente do México, Cláudia Sheinbaum, que toma posse nessa terça feira, não convidou o rei da Espanha, Felipe VI, para a solenidade.

    Lopez Obrador havia escrito a Sua Majestade para que seu país reconhecesse os crimes perpetrados contra o México durante a colonização.

    Não recebeu resposta.

    O rei espanhol pensou que estivesse ainda no tempo em que a Espanha era império colonial.

    Sheinbaum vingou Lopez Obrador e elevou a moral do povo mexicano.

    Obrador sai com 70% de apoio popular, deixando legado de luta a Sheinbaum que promete continuar adotando política social antineoliberal, mediante apoio do partido Morena, em nova jornada de esquerda, no México, para enfrentar o neoliberalismo com as mesmas armas, aperfeiçoando-as, historicamente: políticas sociais, como base do desenvolvimentismo democrático mexicano.

    Graças a elas, o Morena vai governar com maioria parlamentar, garantia de que, com correlação de forças favoráveis à estratégia progressistas de Obrador, que Sheinbaum promete continuar, a esquerda mexicana intensificará sua resistência às forças neoliberais que tentam dominar a América Latina, impulsionadas pela ultradireita americana.  

    Seja quem for o vencedor das eleições nos Estados Unidos, partido democrata ou republicano, a meta imperialista, para a América Latina, é conhecida: impor a ordem da Doutrina Monroe, a América para os americanos do norte, custe o que custar.

    AVANÇO DEMOCRÁTICO MEXICANO

    Marco significativo da predominância da correlação de forças progressistas no México, que se revela no início da Era Sheinbaum, é a vitória parlamentar da esquerda mexicana com aprovação da reforma judiciária, que altera o status quo vigente, historicamente, sob domínio conservador.

    De agora em diante, os juízes dos tribunais serão eleitos por voto popular, não mais indicados por uma institucionalidade estabelecida por castas jurídicas que eternizavam o mando do capital sobre as demandas no poder judiciário.

    A expansão do domínio financeiro, acompanhado pela dominação do narcotráfico, no México, aliados, por sua vez, dos poderosos grupos capitalistas americanos, que comandam o mercado de distribuição de drogas e jogos nos Estados Unidos, tiveram seus interesses contrariados com a reforma judiciária aprovada por López Obrador no final do seu mandato.

    As demandas no judiciário pelo poder americano feita por grandes corporações que se instalam há décadas no país sempre foram consagradas pelas decisões de juízes pró-Washington, a revelar a força do norte sobre o sul.

    Qual será o caminho da nova ordem?

    Os desdobramentos políticos e sua extensão no México e, igualmente, na sua relação com o império americano, dos resultados da democratização da justiça mexicana, no futuro, é uma página que começa a ser escrita, mas sua materialização indica conquista política popular alcançada pelo poder dominado pela esquerda.

    O rei da Espanha, talvez, ainda, mergulhado no tempo em que a poderosa armada espanhola singrava os mares do Atlântico para dominar a América, por meio da brutalidade colonialista, não conseguiu entender o novo México que se ergueu com Obrador e seguirá com Cláudia Sheinbaum.

    Sua Majestade não percebeu que o não de Sheinbaum objetiva combater o neoliberalismo financeiro que Europa, em fim de festa imperial, e Estados Unidos tentam manter sob o unilateralismo historicamente condenado.

    POR QUE CONVIDAR IMPÉRIO PARA POSSES PRESIDENCIAIS?

    Oxalá, o gesto de Sheinbaum, em concordância com Obrador, estenda-se a todos os países latino-americanos, quanto a se comportar não, apenas, relativamente, ao rei espanhol, mas aos poderosos titulares de governos, como o dos Estados Unidos, que continuam em sua estratégia de colonização financeira da América Latina.

    Por que convidar o chefe do imperialismo americano para cerimônia de posses de presidentes eleitos pelo voto popular, na América do sul, América Central e Caribe, regiões alvos da exploração econômica imperialista ditada pelas grandes corporações econômicas e financeiras, cujo objetivo central é extrair dos latino-americanos suas riquezas minerais e agrícolas, mediante estratégias neoliberais ortodoxas, que eternizam sua condição de colônia?

    O não convite aos imperadores nas posses latino-americanas representa ou não a afirmação de que a região dá um basta à sua condição de colônia, fixada a partir de políticas ditadas de cima para baixo, mediante arrochos fiscais e neoliberais que bloqueiam a industrialização do Sul Global, cuja meta é o multilateralismo cooperativo e não mais o unilateralismo imperialista colonial?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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