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    Carla Teixeira

    Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Membro do Conselho Editorial da Revista Temporalidades - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

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    "Não é hora de procurar culpados", diz o culpado pela tragédia no RS

    "Em seu governo, Eduardo Leite cortou o orçamento da Defesa Civil", escreve Carla Teixeira

    Eduardo Leite (Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini)

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    A tragédia climática que atinge o Estado do Rio Grande do Sul é o pior desastre natural já ocorrido na história da região. A elevação do rio Guaíba, que banha a capital, ultrapassou todos os registros históricos e alagou parte significativa da cidade de Porto Alegre. Outras cidades da região foram totalmente tomadas pela água. As imagens que circulam na internet e nos jornais são impressionantes: casas inteiras foram engolidas pela água, famílias perderam tudo. Há setenta e cinco mortes confirmadas no estado (e contando) com mais de cem pessoas desaparecidas e centenas de milhares atingidas.

    Diante da situação, desde quarta-feira (1) o governador do Estado assumiu um tom de cobrança junto ao Governo Federal. O finado PSDB, partido do governador Eduardo Leite, soltou uma nota criticando o suposto atraso do Governo Federal em enviar ajuda ao Estado. Como disse o transformado Reinaldo Azevedo, trata-se de uma nota “sem vergonha”, pois a menos que Leite esperasse que Lula decretasse uma Intervenção Federal no estado, qualquer ajuda só poderia ser recebida diante do pedido do governador. Neste domingo (5) em coletiva de imprensa, um dos culpados pela tragédia, o governador Leite, afirmou: “não é hora de procurar culpados”

    Negligência do poder público gaúcho - Em seu governo, Eduardo Leite cortou o orçamento da Defesa Civil. Em 2022 a área contava com verba de R$ 1 milhão. Em 2023, ano em que as enchentes arrasaram o Estado, o montante foi reduzido para R$ 100 mil. Em 2024, o orçamento era de R$ 50 mil mesmo o Estado tendo enfrentado três grandes enchentes entre junho e novembro do ano anterior. A pasta da gestão de projetos e respostas a desastres naturais caiu de R$ 6,4 milhões em 2022 para R$ 5 milhões em 2023. Em 2024, o recurso gira em torno de R$ 117 milhões, mas trata-se de um valor muito abaixo do necessário, cujo ideal foi estimado em R$ 83 bilhões. Ainda em seu primeiro mandato, em 2019, Eduardo Leite passou por cima do Código Ambiental do Rio Grande do Sul, propondo alterações em 480 pontos da lei ambiental a fim de flexibilizar as regras, demonstrando seu desprezo com medidas necessárias para conter o aquecimento global. Cabe ao governador responder: quais ações foram tomadas de outubro de 2023 até maio de 2024 para prevenir a tragédia que está acontecendo? Houve medidas para retirar pessoas das áreas de risco e construir estruturas de contenção das águas fluviais? O governador precisa dar essas respostas à população.

    Em Porto Alegre, a má conservação dos portões de contenção do rio Guaíba levaram ao alagamento da cidade. A falta de manutenção, constatada ainda nas enchentes de 2023, não sensibilizaram o poder público que se manteve omisso. A responsabilidade, neste caso, é do prefeito da capital gaúcha Sebastião Melo (MDB). As comportas 12 e 14, que não resistiram à força da água, estavam com suas estruturas enferrujadas, corroídas, emperradas, sem graxa e pintura. Cabe dizer que Porto Alegre possui o melhor sistema de proteção contra cheias do Brasil, composto por diques, casa de bombas, o Muro Mauá, comportas de superfície e de gravidade e ainda a estrutura predial da usina do gasômetro, um complexo investimento que ultrapassa a casa do bilhão de dólares construído desde 1941. A falta de manutenção e a negligência do poder público, no entanto, colocaram a perder todo o esforço de gerações para proteger a cidade.

    Os problemas enfrentados neste mês de maio no Rio Grande do Sul já haviam sido constatados em 2023 sem que o governador se sensibilizasse para resolver os problemas. Vale lembrar que naquela ocasião, enquanto o estado enfrentava os danos causados por tempestades, o governador foi visto com seu namorado num show musical em São Paulo, dançando enquanto a população de seu estado enfrentava as penúrias do seu descaso.

    Lavando a moral com as chuvas da tragédia - As chuvas gaúchas serviram para lavar a moral das forças armadas brasileiras que saíram do lugar de golpistas e traidoras da pátria para se tornarem salvadoras de civis negligenciados pelo poder público gerido pela direita. As ações que deveriam ser atribuídas à Defesa Civil são desempenhadas por militares, num desvio de função, incensadas pela mídia hegemônica com forte propaganda do próprio Governo Federal.

    A bancada legislativa do Rio Grande do Sul, majoritariamente composta por políticos reacionários de direita, como o falastrão senador Mourão (republicanos), desapareceu das redes sociais. Cobrados, postam imagens em salas de reuniões propondo soluções que servem apenas para enxugar gelo. O oportunismo político impera no estado gaúcho enquanto o Governo Federal se empenha em ajudar como pode. Lula visitou novamente o estado neste domingo (5), contando com uma comitiva de dezoito pessoas entre ministros de Estado, os presidentes da Câmara e do Senado Federal, ministros do STF e do TCU. Um contraste em relação ao ex-presidente Bolsonaro, que mantinha-se alheio às tragédias que abatiam a população brasileira.

    Em busca de ações preventivas concretas - Noves fora as questões políticas do momento, não é mais possível negar as mudanças climáticas. Planos robustos de prevenção precisam ser implementados em todo o território nacional: em algumas regiões, para proteger a população das chuvas torrenciais, em outras, para protegê-la da seca e do calor excessivo. O agro(tóxico) negócio, marcado pela exploração desenfreada da terra, vai amargar os prejuízos das escolhas antiambientais que defendeu ao longo dos séculos. Mas o preço maior está sendo pago pela população que, espera-se, lembre-se na hora de votar quais foram os políticos solidários e quais foram negligentes no momento da tragédia.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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