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    Lívio Silva

    Mestrando em Direitos Humanos, Especialista em Direito Internacional e em MBA Jornalismo Digital

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    Não olhe para cima e não tome vacina

    É só trocar o “Não olhe para cima” por “Não tome vacina” e parecerá que o filme se passa no Brasil

    Não olhe para cima (Foto: Não olhe para cima)

    Quem assistiu ao filme “Não olhe para cima”, lançado pela Netflix no final de 2021 e protagonizado por Leonardo Di Caprio e Jennifer Lawrence, não consegue deixar de fazer uma analogia com a realidade com a qual estamos convivendo atualmente, pois a sátira escrachada da película nos remete diretamente a todo esse clima de negacionismo científico que invadiu nossas vidas há alguns anos atrás.

    Não custa lembrarmos da importância da arte para a humanidade, pois sabemos que desde o surgimento das primeiras sociedades o ser humano tem sofrido com injustiças, sobretudo aquelas que provêm da eterna busca pelo poder, de forma que o ser humano inventou a literatura e o teatro justamente para poder falar sobre aquilo que não seria possível falar diretamente às pessoas por medo de perseguição.

    A ficção era a terapia possível nos tempos antigos e continua até hoje cumprindo um papel de extrema importância. Não é à toa que dentre os primeiros gêneros do teatro se encontra a “sátira”, que a grosso modo podemos dizer que é uma tragédia pesada contada com humor e é isso que representa o filme “Não olhe para cima”.

    Para nós brasileiros a analogia com o atual presidente da República é inevitável, uma vez que no filme a negação pelo próprio governo do grande cometa que vai se chocar com a terra, anunciada por cientistas, remete imediatamente à negação que o governo federal do Brasil sobre a pandemia da COVID-19, que foi constantemente alertada por cientistas.

    É só trocar o “Não olhe para cima” por “Não tome vacina” e parecerá que o filme se passa no Brasil. Tem até um filho da presidente dos EUA que ocupa um cargo na Casa Branca e vive grudado nela! Coincidência maior impossível. E quando os partidários fanáticos da presidente estão em um comício e um deles decide olhar pra cima, percebendo que o meteoro estava caindo de verdade? A comparação com os Bolsomínions é inevitável.

    Há também uma certa alusão ao machismo da sociedade, uma vez que no anúncio da vinda do cometa pelos cientistas percebe-se que as pessoas dão mais atenção ao professor orientador do que à doutoranda, que foi quem realmente descobriu o cometa. Até mesmo porque ela é ridicularizada, virando alvo de memes e perseguições da sociedade, ao passo que o seu orientador não tem o mesmo tratamento, pelo contrário, é admirado por muitos. Embora depois haja uma reviravolta no filme e a autoria da personagem representada por Jennifer Lawrence seja reconhecida, atribuindo-se o nome dela ao astro celeste, o estrago já estava feito.

    Uma dose gostosa de ironia é fornecida pelo personagem do dono da grande empresa de tecnologia que se presta a “salvar” o planeta com seus robôs enviados para explodir e ao mesmo tempo minerar o cometa, supostamente repleto de minerais valiosos. O personagem parece ser inspirado no Jeff Bezos, da Amazon, e no Elon Musk, da Tesla. No final de tudo, o personagem já tinha um transporte espacial para tirar ele e quem o mesmo escolhesse na Terra para se salvar e deixar o resto do mundo pra trás.

    Enfim, a obra é formidável, sobretudo porque nos faz rir de nós mesmos, pois grande parte de nossa sociedade está negando a existência da pandemia do coronavírus, que já foi cientificamente comprovada por vários cientistas ao longo do mundo e mesmo assim muitos políticos fizeram uso do negacionismo para que o alerta da população não estragasse seus objetivos pessoais.

    Por outro lado, talvez a grande mensagem do filme esteja na crítica à sociedade mundial, que mesmo antes dessa onda negacionista que vivemos atualmente já não dava tanta atenção à possibilidade da ocorrência de grandes desastres naturais, ou seja, não dava ouvidos aos alertas dados por décadas pelos cientistas.

    O alerta constante da comunidade científica mundial sobre as mudanças climáticas e o perigo para o planeta tem sido ouvido há décadas sem nenhuma atitude. Pelo contrário, os EUA, um dos maiores poluidores, negou-se a assinar o Protocolo de Kyoto e outros tratados e acordos semelhantes.

    É só pensarmos no caso de Laurie Garrett, uma jornalista premiada com o prêmio Pulitzer de Jornalismo, tendo previsto o aumento da circulação de patógenos no mundo e as possíveis consequências disso. Além de ser jornalista, Laurie Garrett tem formação em Biologia e há mais de vinte anos vem alertando sobre o risco da ocorrência de uma grande praga que o aumento da população mundial e da circulação das pessoas no mundo, além de outros fatores, pode trazer para a humanidade. Isso mesmo, ela praticamente previu a pandemia da COVID-19.

    E não foi somente ela, pois outras pessoas da comunidade científica trouxeram alertas semelhantes ao longo das décadas, ou seja, a ciência vem tentando avisar a humanidade da possibilidade de uma pandemia há anos e ninguém ouvia, daí chegou o coronavírus e supreendeu a todo mundo. Alguma semelhança com o filme do qual falamos?

    Exatamente por isso dizemos há muito tempo que a vida imita a arte e a Arte imita a vida.

     

     

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