Não será fácil mas o ano começa bem melhor
"A eleição de outubro é o ponto de luz e a boca do túnel está em janeiro de 2023", escreve Tereza Cruvinel
Por Tereza Cruvinel
Não acho que 2022 vai ser fácil, muito pelo contrário. Da eleição presidencial dependerá se vamos para o fundo do poço ou para a reconstrução do país. E embora o favoritismo de Lula favoreça a segunda hipótese, é provável que na campanha tenhamos uma guerra ainda mais suja que em 2018 e violências de toda ordem. Há quem acredite que Bolsonaro não entregará a rapadura recaindo para valer no golpismo a que nunca renunciou quando for derrotado.
O ano novo e decisivo não será fácil mas é olhando para o início e o curso do ano que se encerrou que podemos fazer comparações mais ou menos realistas. Estamos começando 2022 em situação incomparavelmente melhor do que aquela do inicio de 2021.
O ano passado começou com a anúncio da descoberta do novo coronavirus, e logo veio o anuncio do estado de pandemia pela OMS. E logo a opção do governo pelo negacionismo e o "morra quem tiver de morrer". Morreram mais de 600 mil desnecessariamente.
Em janeiro de 2021 Bolsonaro ainda tinha 34% de aprovação, segundo o Datafolha. Agora apenas 22%, segundo o mesmo instituto, embora outras pesquisas lhe dêm menos de 20%. Mas, naquele momento, a preocupação dele não era com a saúde dos brasileiros. As ameaças golpistas, que ele nunca deixara de fazer, ganharam impulso com a desculpa de que o STF podara seus poderes ao garantir aos estados e municípios competência concorrente para tomar medidas sanitárias.
Tivemos dezenas de manifestações do bolsonarismo pedindo o fechamento do STF e do Congresso, a volta do AI-5, ditadura com Bolsonaro. Tivemos o patético desfile de tanques obsoletos pela Esplanada. A bem da verdade, quem conteve Bolsonaro naquele momento foi apenas o STF. Muito depois, a partir de junho, pois a algaravia golpista continuava, as forças democráticas e progressistas conseguiram organizar as primeiras manifestações contra o golpe, contra Bolsonaro e a favor da vacinação.
Sim, pois enquanto sonhava com um golpe Bolsonaro se aliava ao virus, trocava de ministros, apostava na imunidade de rebanho, aglomerava sem máscaras e sabotava as vacinas. Gente morredo e ele dizendo que não era coveiro. Veio a CPI da Covid, vitoriosa ao revelar o quanto o governo havia ido longe no negacionismo e no pacto com a morte. Por ela soubemos do gabinete paralelo, da aposta cloroquinista, da Prevent Senior e de outras crueldades. Se o procurador-geral, capacho de Bolsonaro, não dá seguimento aos pedidos de inquérito, são outros 500. Mas foi a CPI que fez o governo comprar as vacinas, embora Bolsonaro dissesse que iríamos virar jacaré.
Então, tivemos duas grandes vitórias em 2021. A democracia resistiu e Bolsonaro enfiou a viola no saco depois de seu intento golpista fracassado no 7 de setembro . Não é que se converteu ao jogo democrático. Entrar no jogo foi o que lhe restou, o que não quer dizer que não voltará ao golpismo. Eu não creio que poderá dar golpe algum, porque os militares não seriam estúpidos de tentar garantir na marra a continuidade de um governo que foi um fracasso tão completo.
A segunda vitória é que chegamos agora aos 80% de vacinados com duas doses e a pandemia atenuada, apesar do perigo de que, com a variante Omicron e os desatinos cometidos nas festas de fim de ano, tenhamos um repique em janeiro.
Nem por isso, 2022 será fácil. Mas temos esperança e nem isso tínhamos no início de 2021. A eleição de outubro é o ponto de luz e a boca do túnel está em janeiro de 2023. Faremos a travessia com a economia em frangalhos e na disputa político-eleitoral haverá turbulências, baixarias, manipulações, fake news, armações. A provável vitória de Lula fará não só a extrema-direita regurgitar e montar esquemas para impedi-la. Dizem que até o Adélio será 'ressuscitado'.
O que cada um pode fazer é seguir em frente com firmeza, olhando para o ponto de luz de outubro. Já não apenas a esquerda e os liberais dizem que, se ficar mais quatro anos, Bolsonaro acaba com o país e lhe rouba o futuro. Agora até um ícone conservador como Fukuyama, aquele do fim da História que continua seguindo seu curso, afirma que a reeleição de Bolsonaro seria destrutiva para o Brasil. Mas entramos em 22 com a clareza de que essa possilidade hoje é bem remota.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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