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Ivan Rios

Sindicalista, historiador, crítico de cinema, escritor, membro do Comitê Baiano de Solidariedade ao Povo da Palestina, graduando em Direito, militante dos Movimentos de Promoção, Inclusão e Difusão Cultural no Estado da Bahia

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Narcomilícia evangélica, distopia neopentencostal e o estado do evangelistão

A verdadeira liberdade exige não apenas a derrota dos tiranos, mas também a eterna defesa da razão, da justiça e da compaixão

(Foto: Joedson Alves/Agência Brasil)

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Em um delírio febril coletivo, num cenário de total dissonância cognitiva onde impera a pós-verdade, surgem os ideais de um país que será dominado por um sistema político que implantará o Estado do Evangelistão. Nesse contexto, estabelece-se um sistema político muito peculiar de distopia neopentencostal, que reinará absoluto naquele país, onde a realidade é mais estranha que qualquer ficção imaginável. Dentro dessa perspectiva, de escatologia do evangelho, todo dito “cidadão de bem” terá a obrigação de ter a Sagrada Bíblia Terraplanista e, pelo menos, um fuzil, além de frequentar clube de tiro e logo em seguida ir ao culto ostentando os acessórios de íntima comunhão com o divino, o fuzil e a bíblia.

Na visão deles, Jesus Cristo era o chefe fundador de uma poderosa facção que teve início com 12 membros, cujo trágico fim foi resultado de uma “caguetagem” de um X9 de sua mais alta confiança, que o entregou covardemente para uma facção rival. Nessa narrativa absurda, Cristo pregava o ódio, a segregação, andava armado, era avarento e proclamava pérolas como: “bandido bom é bandido morto”, “eu sou a favor da tortura”, “por mim, tem que matar mais de 30 mil”, “salve Brilhante Ustra” e “apostai no tigrinho que eu te ajudarei”. Esse Cristo do Evangelistão, citado na Bíblia Terraplanista, era também um grande defensor da propriedade privada, da “grilagem” de terras e dos desmatamentos, especialmente se fossem áreas roubadas de povos originários para enriquecimento ilícito. Ele era contra a caridade e pregava que seus seguidores deveriam criar leis para proibir atos humanitários, como alimentar e dar assistência a pessoas em situação de vulnerabilidade social. O Cristo da Bíblia Terraplanista tinha total aversão aos pobres, se via como um coach empreendedor que andava de Lamborghini e não fazia a menor ideia do que era um jumento. Afinal, quem precisa de humildade quando se pode ter um carro de luxo, não é mesmo?

Nesse contexto de lunáticos desvairados, os devotos desse sistema peculiar acreditam, com toda a convicção, que o povo judeu é fã número um de Jesus Cristo e que todos os cristãos são, na verdade, uma extensão da religião judaica. Assim, eles cultuam o sionismo com fervor e veneram a bandeira de Israel mais do que a do seu próprio país. Dentro dessa distopia teológica, é permitido tudo, desde a Suruba Evangélica até o Pornô Gospel, contanto que gere lucro para os líderes religiosos envolvidos. Tudo, é claro, em nome de Cristo. Afinal, nada como um bom retorno financeiro para abençoar a fé.

Em meio a essa confusão teológica, política e escatológica, três figuras bizarras dominam o cenário: Silas “Malacheia”, “Dindin-mais-cedo” e o “Rei do Gado”.
Silas “Malacheia” é conhecido por suas pregações inflamadas e por sua habilidade de transformar qualquer sermão em um espetáculo de pirotecnia verbal e verdadeiros chiliques. Ele é mestre em criar teorias conspiratórias que envolvem desde alienígenas até a conspiração dos zumbis comunistas, liderados por Lênin que ressuscitará do seu mausoléu. Seus seguidores, encantados, acreditam que ele tem uma linha direta com o céu, embora alguns suspeitem que ele esteja mais próximo de uma linha direta com o banco.
“Dindin-mais-cedo” é o guru das finanças espirituais. Ele prega que a prosperidade material é um sinal de bênção divina e que doar generosamente para sua igreja é a chave para abrir as portas do paraíso. Seus sermões são recheados de metáforas agrícolas, em evidente puxa-saquismo ao agronegócio que impera naquele país, onde cada moeda doada é uma semente que, segundo ele, florescerá em uma colheita abundante de riquezas. Seus seguidores, esperançosos, plantam suas economias na esperança de colherem mansões e carros de luxo. “Dindin-mais-cedo” é também conhecido por vender lotes privilegiados e belíssimos terrenos nos céus. Seu comércio imobiliário prosperou tanto que ele se tornou dono de uma das maiores emissoras de TV do Estado do Evangelistão.
Por fim, temos o “Rei do Gado”, um boiadeiro de primeira linhagem que literalmente leva seu rebanho ao pé da letra. Ele acredita que os fiéis são e devem ser rigorosamente tratados como gado, os quais precisam ser “tocados estrada a fora” e, por isso, é visto frequentemente praticando boiadeirice com seus seguidores em campos abertos, onde ele prega montado em um cavalo branco. Suas pregações são uma mistura de sermões bíblicos e dicas de engorda pecuária, e ele é famoso por suas analogias entre a vida espiritual e a criação de gado. Suas histórias épicas vão desde confrontos contra tubarões após nadar sete dias e sete noites pelos oceanos até encontros pessoais com grandes líderes globais terraplanistas reptilianos. Outro fato notório é de que absolutamente tudo o que emana dessa criatura é considerado “ungido”, desde o peido até uma ordinária camisa de um suposto atentado que ele sofreu, camisa essa que foi a leilão por um preço mais alto que a obra Salvator Mundi, de Leonardo da Vinci.
No glorioso Evangelistão, a política e a religião são elementos indissociáveis e indigestos. Aqui, a distopia neopentencostal reina suprema, uma mistura de fé e caos que faz qualquer revolução parecer um piquenique no parque. Esqueça a Constituição Federal do antigo Brasil; agora, seguimos as palavras sagradas dos três gurus em um sistema patriarcal de oralidade subjetiva. Leis escritas? Pra quê, se temos a sabedoria divina de Silas “Malacheia”, “Dindin-mais-cedo” e o “Rei do Gado”? Afinal, quem precisa de regras quando se tem a palavra dos iluminados, não é mesmo?Na gloriosa realidade do Evangelistão, a economia é uma verdadeira obra-prima medieval. Troca-se bênçãos por dízimos, e a moeda corrente? Ah, essa não existe! O escambo é a prática, remontando, para os fundamentalistas mais saudosos os tempos em que os invasores começaram a “negociar” com os povos originários. Todo o dinheiro que antes circulava naquele país agora repousa confortavelmente nas mãos dos gurus e da narcomilícia, criando uma sociedade tão justa quanto os algoritmos do jogo do tigrinho. A verdadeira essência do cristianismo? Perdida em meio a práticas abusivas e autoritárias, claro.
A narcomilicia evangélica, braço armado do Evangelistão, em contraposição a qualquer ideia revolucionária, garante que a INVOLUÇÃO da distopia neopentencostal seja mantida com braço forte e mãos armadas, além disso o sistema policial e jurídico está corrompido nas mãos dos líderes religiosos desse estado. Comandada pelos gurus, a milícia não só controla o tráfico de bênçãos, como também de entorpecentes, tráfico humano, de órgãos, prostituição, rede de pornografia, venda de conteúdos adultos (incluindo o aclamado pornô gospel), e, claro, a distribuição de “milagres” e “proteção divina” mediante pagamento. A população, acuada e sem alternativas, se vê obrigada a seguir as ordens dos líderes religiosos, que prometem salvação eterna em troca de obediência cega cada vez mais contribuições financeiras.

No campo da educação, o obscurantismo reina supremo como ferramenta de dominação. As escolas públicas regulares? Essas deixaram de existir. Agora, os pais são obrigados a colocar as crianças em um regime doméstico de educação, pois o estado não tem nada a ver com despesas com educação ou então submetê-las às escolas neopentecostais pagas, é claro, que funcionam de forma precária nos fundos das igrejas. Essas instituições extorquem os parcos recursos de uma população pobre e faminta.

Nesse sistema educacional, o currículo é uma verdadeira obra-prima da distopia: aulas de tiro com armas de diversos calibres, desde fuzis, pistolas e até submetralhadoras, além da fiel interpretação da Bíblia Terraplanista. Ciência e pensamento crítico? Banidos, obviamente. A única forma de “conhecimento” permitida é a doutrinação religiosa, não há nesse sistema educacional sequer a necessidade de alfabetização pois todos falam em “línguas” e a verdade vinda dos gurus através das revelações do espirito santo é o suficiente para compreender toda a existência.

Enquanto isso, essa sociedade caminha a passos largos para um sistema brutal de formação de castas, onde os menos favorecidos entram em uma espiral de determinismo social irreversível. A mobilidade dentro dessa sociedade é uma ilusão, e a desigualdade é perpetuada por um sistema que favorece os poderosos e oprime os vulneráveis.

O resultado dessa INVOLUÇÃO politico educacional é uma geração de crianças que crescem acreditando que a Terra é Plana, que viemos exclusivamente de Adão e Eva, que os dinossauros coexistiram com os humanos e que a salvação está nas mãos dos gurus. A ignorância é cultivada como virtude, e o questionamento é visto como heresia.Assim, o Evangelistão se mantém firme em sua trajetória de retrocesso, onde a fé cega e a submissão total são as únicas leis que regem a sociedade. E assim, entre pregações inflamadas, promessas de prosperidade, o povo do  Evangelistão segue sua vida, em um misto de devoção e delírio, onde a fé é a única certeza em meio ao caos e ao negacionismo, histórico e científico.E assim, chegamos ao fatídico 08 de janeiro, o dia que ficou marcado na história dessa epopeia tragicômica. Nesse dia, os fiéis seguidores de Silas “Malacheia”, “Dindin-mais-cedo” e o “Rei do Gado” decidiram que era hora de tomar as rédeas do país em definitivo, invadindo os prédios públicos, literalmente, lançando suas escatologias em tantas repartições quanto fosse possível. Armados com suas Bíblias Terraplanistas e fuzis, marcharam em direção aos principais prédios do governo na Praça dos Três Poderes, determinados a instaurar o Estado do Evangelistão de uma vez por todas. A cena era digna de um filme de comédia pastelão: homens e mulheres, vestidos com camisetas amarelas estampadas com frases como “Jesus é meu capitão” e “Bolsonaro é meu pastor”, invadiram os edifícios públicos, gritando palavras de ordem e orações em um misto de fervor religioso e delírio coletivo.
Silas “Malacheia” liderava a distância a turba, proclamando que aquele era o início de uma nova era, onde a fé e a bala seriam as únicas leis. Enquanto isso, “Dindin-mais-cedo” aproveitava a confusão para angariar ofertas e propina entre os manifestantes, recolhendo doações para a “causa divina”. Ele prometia que cada centavo doado seria recompensado com juros celestiais, e muitos fiéis, em meio ao caos, entregavam suas “economias escambonetárias” na esperança de garantir um lugar no paraíso. O “Rei do Gado”, por sua vez, montado em seu cavalo branco, guiava seus seguidores com um berrante, como um verdadeiro boiadeiro, ordenando que ocupassem os campos ao redor dos prédios e montassem acampamentos de oração.

A lavagem cerebral promovida por esses líderes era evidente. Os fiéis acreditavam piamente que estavam lutando contra uma conspiração comunista global, uma ameaça invisível que, segundo eles, estava prestes a transformar o Evangelistão em uma nova União Soviética. As redes sociais fervilhavam com vídeos e mensagens de apoio, onde pastores de todo o país incentivavam seus seguidores a se unirem à causa. A relação com o sionismo global também não passava despercebida. Silas “Malacheia” frequentemente mencionava em suas pregações que o destino do Evangelistão estava ligado ao de Israel, e que a luta contra o comunismo era, na verdade, uma batalha sagrada para proteger o povo escolhido. Essa narrativa, embora confusa, encontrava eco entre os fiéis, que viam em Israel um aliado divino na luta contra o mal.

Os eventos de 08 de janeiro foram um verdadeiro espetáculo de absurdos. Em meio à invasão, alguns manifestantes começaram a realizar exorcismos improvisados nos corredores dos prédios públicos, acreditando que estavam investidos de poderes divinos para expulsar demônios comunistas. Outros, mais práticos, aproveitavam a oportunidade para saquear escritórios e levar para casa lembranças do “grande dia”. Muitos “arruelas-de-encosto”, ou simplesmente, os pobres de direita, lascados, sem dinheiro, sequer para o pacote de dados móveis, aproveitaram a oportunidade para conectar com o wi-fi das repartições públicas, colocando seus dados pessoais de identificação, achando que jamais seriam descobertos.

A mídia internacional assistia perplexa, tentando entender como um país havia chegado a tal ponto de insanidade coletiva. Analistas políticos e religiosos debatiam as causas desse fenômeno, enquanto os líderes do ideal do Estado do Evangelistão continuavam a pregar que tudo fazia parte de um plano divino. Para eles, a confusão e o caos eram apenas sinais de que a vitória estava próxima.

Enquanto isso, os poucos cidadãos que ainda mantinham um resquício de sanidade, em ato de total vergonha alheia e surto de racionalidade, tentavam se proteger fugindo do tumulto. Mas, em um país onde a fé cega e a violência eram as únicas moedas correntes, suas vozes eram rapidamente silenciadas. Os dias que se seguiram ao 08 de janeiro foram de incerteza e tensão. O governo, incapaz de controlar a situação, tentava negociar com os líderes religiosos, oferecendo concessões em troca de paz. Mas Silas “Malacheia”, “Dindin-mais-cedo” e o “Rei do Gado” estavam determinados a não ceder, acreditando que estavam prestes a instaurar o reino de Deus na Terra.

A lavagem cerebral continuava a todo vapor. Nas igrejas e nas redes sociais, os pastores repetiam incessantemente que a luta era justa e que qualquer sacrifício era válido. Em meio a esse caos, a economia do Evangelistão começava a ruir. Comércios faliram, a inflação disparava, a fome e o desemprego aumentavam. A impressão que se tinha era de que as pragas do Antigo Egito haviam recaído todas de uma só vez sobre aquela desgraçada nação. Mas, para os fiéis, tudo isso era apenas um teste de fé. Eles acreditavam que, em breve, seriam recompensados com uma prosperidade divina que superaria qualquer crise terrena, o que definitivamente até hoje esperam.

A situação chegou a um ponto crítico quando os líderes do Evangelistão decidiram que era hora de declarar independência. Em um grande evento transmitido ao vivo, Silas “Malacheia” proclamou a criação do Reino de Deus na Terra, com ele, “Dindin-mais-cedo” e o “Rei do Gado” como seus gurus supremos e um tal “Messias” Bolsonaro como uma especie de faraó absoluto. A multidão, em êxtase, aplaudia e cantava hinos de louvor. Mas, como em toda tragédia cômica, a realidade logo se impôs.

Foi então que os povos libertários, cansados de tanta opressão e obscurantismo, se insurgiram contra as trevas que haviam se instaurado na nação. Em um levante épico, homens e mulheres de todas as idades e origens se uniram em uma marcha de resistência. Armados não com fuzis, mas com livros, ideias e uma vontade inabalável de liberdade, eles avançaram contra os opressores.

A batalha foi feroz. Os libertários enfrentaram a bestialidade e a ignorância com coragem e determinação. Nas ruas, ergueram barricadas de conhecimento e solidariedade, desafiando a tirania com cada passo. As igrejas, antes fortalezas de doutrinação, foram transformadas em centros de debate e aprendizado. A ciência e o pensamento crítico, banidos por tanto tempo, ressurgiram como armas poderosas contra a opressão.

Os líderes do Evangelistão, pegos de surpresa pela força do levante, tentaram resistir, mas foram rapidamente subjugados pela maré de liberdade que varria o país. Silas “Malacheia”, “Dindin-mais-cedo” e o “Rei do Gado” foram capturados e levados a julgamento, onde suas mentiras e manipulações foram expostas de forma visceral diante de todos em Praça Pública, em transmissão mundial. O energúmeno do “Messias” Bolsonaro fugiu como um covarde para as terras onde habitava o “Orvalho de Cavalo”, com isso sequer presenciou o final dos seus mentores.
E assim, o Estado do Evangelistão passou a ser conhecida como um exemplo de como a fé cega e a manipulação podem levar um país ao caos. A história de Silas “Malacheia”, “Dindin-mais-cedo” e o “Rei do Gado” tornou-se uma lição para as futuras gerações, um lembrete de que a verdadeira fé não precisa de armas, conspirações ou líderes carismáticos, mas sim de humanismo, serenidade e entendimento. Com a prisão dos líderes, o Evangelistão implodiu e a nação de outrora entrou em um período de reflexão e reconstrução. As autoridades provisórias, formadas por cidadãos que conseguiram manter a sanidade durante o caos, começaram a implementar reformas para evitar que algo semelhante voltasse a acontecer. A primeira medida foi a criação de um sistema educacional robusto, que priorizava o pensamento crítico e a ciência, em vez de teorias conspiratórias e dogmas religiosos.

As igrejas, antes centros de manipulação, foram transformadas em espaços comunitários onde fé e razão coexistem. Pastores passaram a estudar teologia e história seriamente, promovendo um cristianismo baseado em amor e compaixão. A Bíblia Terraplanista foi substituída por versões tradicionais, e os sermões inflamados deram lugar a discussões sobre ética, direito e cidadania. A economia, devastada pela crise, começou a se recuperar lentamente. Pequenos empresários e comerciantes, antes dependentes do dízimo e de promessas de prosperidade divina, começaram a investir em seus negócios com mais confiança.

A mídia, antes veículo de ideias degeneradas, passou por uma transformação profunda. As redes sociais, antes dominadas por fake news e teorias da conspiração, começaram a ser reguladas para evitar a desinformação. A relação com a comunidade internacional foi restabelecida. A nação, antes isolada em delírios e conspirações, começou a participar ativamente de fóruns e organizações globais. A cooperação internacional trouxe investimentos e parcerias que ajudaram na reconstrução do país, além de promover intercâmbio cultural e científico.

Os cidadãos, antes divididos e manipulados, começaram a se unir em torno de um novo ideal de nação. Movimentos sociais e ONGs surgiram para promover inclusão, justiça social e direitos humanos. A diversidade, antes vista com desconfiança, passou a ser celebrada como riqueza cultural e valor fundamental. A política, antes dominada pela distopia neopentecostal, passou por uma reforma profunda. Novos partidos surgiram, comprometidos com democracia, transparência e ética. As eleições, antes manipuladas por líderes religiosos, tornaram-se um verdadeiro exercício de cidadania, onde o debate de ideias e propostas substituiu o proselitismo e a manipulação.

No entanto, nesse contexto de aparente renovação, uma sombra persistente pairava sobre a nação. Lembremos com a própria história que os “nazistas” apenas tiraram suas fardas e as guardaram com naftalina, esperando o momento propício para voltar a usá-las. Os ratos retornaram para dentro dos esgotos, mas não desapareceram. Um obscuro movimento ainda permanecia inalterado nos bastidores, na penumbra da razão, no silencioso ranger de dentes. A justiça, que havia sido paralisada pelo caos, voltou a funcionar de forma precária e sem credibilidade, pois os julgadores haviam sistematicamente aderido aos ideais escatológicos e antidemocráticos e muitos eram subornados pela narcomilicia evangélica que havia estabelecido um poder paralelo inimaginável. Os responsáveis pelos atos antidemocráticos foram julgados, mas, em um verdadeiro surto de justiça, as forças mais retrógradas e obscurantistas do legislativo daquele país, representando o que de pior existe na sociedade, promoveram a total anistia dos criminosos.

E assim, o Estado do Evangelistão passou a ser conhecido como um exemplo de como a fé cega e a manipulação podem levar um país ao caos. Mas, como em toda boa tragédia cômica, o desfecho não poderia ser menos surreal e operístico. No dia do julgamento final, Silas “Malacheia”, “Dindin-mais-cedo” e o “Rei do Gado” foram levados ao tribunal em uma carruagem dourada, puxada por unicórnios holográficos, enquanto uma orquestra sinfônica tocava uma versão barroca da ridícula “Amazing Grace”, em inglês. O tribunal, decorado com anjos de papel machê e luzes de neon, parecia mais um cenário de ópera do que uma corte de justiça.
De repente, o teto do tribunal se abriu, revelando um céu estrelado e uma lua cheia. Um coro celestial de drones iluminados desceu, cantando em latim, enquanto fogos de artifício explodiam ao redor. No clímax da cena, uma figura gigantesca de Jesus Cristo, feita de luzes de LED, apareceu no céu, acenando para a multidão. Silas “Malacheia” caiu de joelhos, lágrimas escorrendo pelo rosto, enquanto “Dindin-mais-cedo” e o “Rei do Gado” se abraçavam, acreditando que a salvação finalmente havia chegado.

Mas, em um golpe de teatro final, a figura de Jesus se transformou em um enorme letreiro de “Game Over”. A música parou abruptamente e a realidade voltou a se impor. Os três líderes foram levados para o Presídio da Papuda, escoltados por um forte esquema policial, enquanto a plateia, atônita, começava a perceber a farsa em que havia vivido.

E assim, o Evangelistão se tornou uma lenda, uma ópera tragicômica que seria contada e recontada por gerações, um lembrete de que, às vezes, a linha entre a fé e a loucura é tão tênue quanto um fio de cabelo na cabeça de Alexandre de Moraes.

Apesar das mudanças relatadas, o mal parecia estar à espreita, pronto para retornar dos esgotos a qualquer momento. As aberrações e bestialidades do passado continuavam a assombrar a nação, um fantasma persistente que não permitia que a sociedade se livrasse completamente de seus traumas. A justiça, ainda precária e sem credibilidade, e a anistia dos criminosos antidemocráticos eram sinais claros de que as forças retrógradas e obscurantistas ainda tinham um forte domínio nos bastidores do poder. 

A história não termina aqui. O perigo da bestialidade e do obscurantismo permanece à espreita, mais vivo do que nunca. A vigilância constante é necessária, pois as forças da ignorância e da manipulação estão sempre prontas para ressurgir das sombras. A verdadeira liberdade exige não apenas a derrota dos tiranos, mas também a eterna defesa da razão, da justiça e da compaixão. Que esta história sirva como um aviso: devemos estar sempre atentos, pois “o preço da liberdade é a vigilância eterna”.

E assim, enquanto o fio de cabelo na cabeça de Alexandre de Moraes continua a desafiar as leis da natureza, que possamos encontrar força na fragilidade, coragem na adversidade e sabedoria na reflexão. Pois, no final, a verdadeira batalha não é apenas contra os tiranos externos, mas contra as sombras que habitam dentro de cada um de nós, na nossa permissividade, omissão, indiferença e falta de empatia para com as desigualdades no nosso país. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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