Nathalia: compromisso profissional com a verdade e fé na luta dos povos oprimidos
Tive o privilégio de testemunhar a seriedade e a paixão com que Nathalia exerceu o jornalismo
Por José Reinaldo Carvalho - A perda de Nathalia Urban é um golpe profundo, daqueles que atingem não apenas no círculo de colegas e amigos, mas que reverberam por toda uma comunidade de ideias e de luta. Dos que compartilham esperanças. Dos que têm fé e confiança de que malgrado todas as misérias de nosso tempo, o futuro da humanidade será brilhante. Como era o seu semblante mesmo quando comentava os fatos mais graves e os crimes mais repulsivos dos potentados do mundo contra os povos. É da construção desse futuro brilhante que falam as convicções que a colega, companheira e camarada Nathalia esposava.
Não tive a sorte de conhecê-la pessoalmente, mas convivemos intensamente durante cerca de dois anos no labor diário da realização do Bom Dia 247.
Sua partida deixa um vazio imenso, interrompe abruptamente um caminho de dedicação disciplinada, aturada e entusiástica ao exercício profissional e a uma causa que não se restringe à realização das tarefas do dia, mas se entrelaça com as aspirações e lutas dos povos oprimidos e explorados. Neste mister, a Nathalia deixa o exemplo de compromisso inabalável com a verdade dos fatos e a luta retratada em seus comentários.
Durante o tempo em que compartilhamos a realização do Bom Dia 247, tive o privilégio de testemunhar, dia após dia, a seriedade e a paixão com que Nathalia exerceu seu ofício. Jornalismo, para ela, nunca foi apenas uma profissão. Era uma missão. Uma arma poderosa contra as injustiças do mundo, uma ferramenta de transformação social. Ela acreditava que a palavra impressa e o verbo pronunciado tinham o poder de iluminar consciências, de romper com as narrativas hegemônicas e de dar visibilidade às vozes sufocadas pela opressão imperialista. E, com essa opinião, ela não poupou esforços para levar adiante suas análises afiadas, suas denúncias vivas e suas convicções profundas.
Quando trabalhamos juntos no "Bom Dia 247", com o “método” do improviso, no afã de comentar os assuntos palpitantes que acabavam de acontecer, impressionava a naturalidade com que se revelava a nossa sintonia. Mesmo sem “ensaiar” a abordagem dos temas em reuniões ou conversas prévias, a cada programa surgiam e se reforçavam as nossas convergências e uma identidade de opiniões na contracorrente do pensamento neoliberal vigente nos veículos financiados pelo imperialismo e o sionismo. A clareza com que Nathalia enxergava os meandros da política internacional era surpreendente. Ela trazia à tona perspectivas que poucos se atreviam a explorar, e fazia isso sem medo de represálias ou ataques. Era destemida, não recuava diante de temas delicados ou impopulares, porque seu compromisso era com a verdade e a justiça.
Também impressionava em Nathália a sua capacidade de aliar o esmero profissional com a luta grandiosa pela emancipação dos trabalhadores e dos povos. Corajosamente defendia causas difíceis, complexas e elevadas e tomava o lado justo. Não capitulava a pressões e discernia sobre os sujeitos históricos em contenda. Por isso, irradiava não só o entusiasmo pela luta dos povos, mas revelava também concepções consistentes.
A luta dos povos da América Latina e do Oriente Médio teve em Nathalia uma porta-voz e uma combatente, o que lhe custou manifestações de hostilidade e até ameaças.
Nathalia Urban não está mais fisicamente entre nós, mas suas ideias seguem vivas. Nós que ainda ficamos por aqui, seus colegas, amigos e camaradas, que tanto a admiramos, temos com ela o compromisso de levar adiante o aprendizado que alcançamos com o seu convívio. Nosso luto profundo será transformado em luta. Temos com ela o compromisso, depois de percorrer uma jornada comum, de no mister profissional sermos, como ela, lutadores. Será o modo como honraremos sua memória. Cada vez que escrevermos e pronunciarmos uma palavra, redigirmos uma notícia ou comentário, que o façamos com o mesmo espírito de luta e confiança na vitória que teve a Nathalia, invocando os oprimidos, os vilipendiados e lutando pelos seus anseios. Será assim que a manteremos presente no dia a dia do nosso trabalho e nossa luta. Assim, a partida precoce da Natália será também uma convocação e um apelo a agir com as mesmas coragem, confiança e alegria.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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