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    Jeffrey Sachs

    Professor da Columbia University (NYC) e Diretor do Centro para o Desenvolvimento Sustentável e Presidente da Rede de Soluções Sustentáveis da ONU. Ele tem sido um conselheiro de três Secretários-Gerais da ONU e atualmente serve como Defensor da iniciativa para Metas de Desenvolvimento Sustentável sob o Secretário-Geral da ONU, António Guterres.

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    Netanyahu derrubará Biden?

    O presidente dos EUA precisa retomar a política das mãos do lobby de Israel

    Joe Biden e Benjamin Netanyahu (Foto: Reuters/Evelyn Hockstein)

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    O gabinete do primeiro-ministro de Israel, Bibi Netanyahu, está repleto de extremistas religiosos que acreditam que a brutalidade de Israel em Gaza está sob o comando de Deus. De acordo com o Livro de Josué na Bíblia Hebraica, datado por estudiosos do século VII a.C., Deus prometeu a terra ao povo judeu e os instruiu a destruir as outras nações que viviam na terra prometida. Este texto é usado atualmente por nacionalistas extremos em Israel, incluindo muitos dos cerca de 700.000 colonos israelenses vivendo em terras palestinas ocupadas,  em violação do direito internacional. Netanyahu segue a ideologia religiosa do século VII a.C. no século XXI.

    É claro que a grande maioria no mundo de hoje, incluindo a grande maioria dos estadunidenses, certamente não está alinhada com os fanáticos religiosos de Israel. O mundo está muito mais interessado na Convenção do Genocídio de 1948 do que nos genocídios supostamente ordenados por Deus no Livro de Josué. Eles não aceitam a ideia bíblica de que Israel deveria matar ou expulsar o povo da Palestina da sua própria terra. A solução de dois estados é a política declarada da comunidade mundial, conforme o consagrado pelo Conselho de Segurança da ONU e do governo dos EUA.

    O presidente Joe Biden, portanto, encontra-se entre o poderoso lobby de Israel e a opinião dos eleitores estadunidenses e da comunidade mundial. Dado o poder do lobby de Israel e as somas que ele gasta em contribuições de campanha, Biden está tentando agradar a todos: apoiando Israel, mas não endossando o extremismo de Israel. Biden e o secretário de Estado Antony Blinken esperam atrair os países árabes para mais um processo de paz sem fim com a solução de dois estados como objetivo distante que nunca é alcançado. Os linha-dura israelenses, é claro, bloqueariam cada passo do caminho. Biden sabe de tudo isso, mas quer usar o pretexto de um processo de paz. Biden também esperava até recentemente que a Arábia Saudita pudesse ser atraída para normalizar as relações com Israel em troca de caças F-35, acesso à tecnologia nuclear e um compromisso vago com uma eventual solução de dois estados... um dia, de alguma forma.

    Os sauditas não aceitarão. Eles deixaram isso claro em uma declaração em 6 de fevereiro, afirmando:

    “O Reino da Arábia Saudita pede o levantamento do cerco ao povo de Gaza; a evacuação das vítimas civis; o compromisso com as leis e normas internacionais e com o direito internacional humanitário, e para promover o processo de paz de acordo com as resoluções do Conselho de Segurança e das Nações Unidas, e a Iniciativa de Paz Árabe, que visa encontrar uma solução justa e abrangente e estabelecer um estado palestino independente com base nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital.”

    Domesticamente, Biden enfrenta o AIPAC (Comitê de Assuntos Públicos de Israel nos EUA), a principal organização do lobby de Israel. O sucesso de longa data do AIPAC é transformar milhões de dólares em contribuições de campanha em bilhões de dólares em ajuda dos EUA a Israel, um lucro surpreendentemente alto. Atualmente, o AIPAC visa transformar cerca de US$ 100 milhões de financiamento de campanha para as eleições de novembro em um pacote de ajuda suplementar de US$ 16 bilhões para Israel.

    Até agora, Biden está indo junto com o AIPAC, mesmo perdendo os eleitores mais jovens. Em uma pesquisa do Economist/YouGov de 21 a 23 de janeiro, 49% dos que têm entre 19 e 29 anos consideram que Israel está cometendo um genocídio contra os civis palestinos. Apenas 22% disseram que, no conflito israelo-palestino, suas simpatias estão com Israel, versus 30% com a Palestina, e os restantes 48% "não importa" ou inseguros. Apenas 21% concordaram com o aumento da ajuda militar a Israel. Israel alienou completamente os estadunidenses mais jovens.

    Enquanto Biden tem pedido paz com base na solução de dois estados e na redução da violência em Gaza, Netanyahu tem ignorado Biden descaradamente, provocando Biden a chamar Netanyahu de idiota em várias ocasiões. No entanto, é Netanyahu, e não Biden, quem ainda dita as regras em Washington. Enquanto Biden e Blinken se preocupam com a violência extrema de Israel, Netanyahu recebe as bombas dos EUA e até o apoio total de Biden para os US$ 16 bilhões,  sem linhas vermelhas dos EUA.

    Para ver o absurdo — e a tragédia — da situação, considere a declaração de Blinken em Tel Aviv em 7 de fevereiro. Em vez de impor limites à violência de Israel, possibilitada pelos EUA, Blinken declarou que "caberá aos israelenses decidir o que querem fazer, quando querem fazer, como querem fazer. Ninguém vai tomar essas decisões por eles. Tudo o que podemos fazer é mostrar quais são as possibilidades, quais são as opções, como poderia ser o futuro, e compará-lo com a alternativa. E a alternativa agora parece ser um ciclo interminável de violência, destruição e desespero."

    Esta manhã, os EUA usaram seu poder de veto para matar o projeto de resolução argelino no Conselho de Segurança da ONU, que pede um cessar-fogo imediato, com a embaixadora dos EUA Linda Thomas-Greenfield chamando o esforço de aprovar a medida de "ilusório" e "irresponsável." Biden apresentou uma alternativa fraca, pedindo um cessar-fogo "assim que possível", seja lá o que for que isso signifique. Na prática, isso certamente significaria que Israel simplesmente declararia um cessar-fogo como "impraticável."

    Biden precisa retomar a política dos EUA das mãos do lobby de Israel. Os EUA devem parar de apoiar as políticas extremistas e completamente ilegais de Israel. Nem os EUA devem gastar mais fundos com Israel, a menos e até que Israel haja de acordo com o direito internacional, incluindo a Convenção sobre o Genocídio, e a ética do século XXI. Biden deve apoiar o Conselho de Segurança da ONU ao pedir um cessar-fogo imediato e, de fato, ao pedir uma mudança imediata para a solução de dois estados, incluindo o reconhecimento da Palestina como o 194º estado-membro da ONU, uma medida que está mais de uma década atrasada desde que a Palestina solicitou a adesão à ONU em 2011.

    Os líderes israelenses não mostraram a menor compunção em matar dezenas de milhares de civis inocentes, deslocando 2 milhões de gazenses e pedindo a limpeza étnica. A Corte Internacional de Justiça determinou que Israel pode estar cometendo genocídio, e a CIJ poderia fazer uma determinação definitiva de genocídio nos próximos um ou dois anos. Biden entraria para a história como um facilitador do genocídio. No entanto, ele ainda tem a chance de ser o presidente dos EUA que impediu o genocídio.

    Fonte original: https://www.commondreams.org/opinion/will-netanyahu-bring-down-biden

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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