Netanyahu já é pior que Hitler (e é tragédia intergeracional)
Netanyahu está aniquilando milhões de projetos de vida
Escrevi um artigo para o Brasil 247 em que mostro, com números, que Netanyahu, e o exército de Israel, já assassinaram proporcionalmente mais vidas inocentes na Faixa de Gaza que o nazismo de Hitler matou judeus dentro do território da Alemanha.
Não vou me ater a explicar isso. Quem desejar saber os detalhes, acesse o texto em que mostro estes dados e esclareço detalhes do contexto histórico do nazismo alemão e do nazismo neossionista de primeiro-ministro de Israel.
O que gostaria de trazer neste trabalho é algo tão cruel e tão doloroso quanto as mais de 30 mil pessoas assassinadas em Gaza em 5 (cinco) meses de conflito. Trata-se das milhões de vidas inocentes palestinas mutiladas pelas armas e pela política (ou necropolítica, como disse estes dias sobre Gaza, Achille Mbembe) do regime fascista em Israel.
Antes de continuarmos, peço a sua generosidade em tentar se colocar no lugar de um ser humano que, semana passada tinha ótima saúde, as duas pernas e os dois braços com plena força, e do dia para a noite, por força das armas de Israel, perdeu um ou os dois membros do corpo. Tente imaginar uma criança pura, cheia de vida e energia, com os seus sonhos ativos, e agora não tem os dois braços. Pense: e se fosse o seu filho ou a sua filha?
Mas não paremos aqui. Por que me referi a milhões de vidas impactadas pelo nazismo de Netanyahu? Segundo dados da ONU, ao menos 1,3 milhão de pessoas neste momento foram expulsas de suas casas e estão amontoadas em um pequeno espaço de Gaza [1], correndo risco de epidemias graves e passando fome. (Os dados, não estão atualizados: são de 7 de janeiro e a situação, por óbvio, é bem pior hoje, dois meses depois.)
A maioria destas pessoas já não tem mais uma casa para morar, para viver (estão desabrigadas; perderam tudo; tudo). As famílias deste território não têm mais escolas e hospitais suficientes e mesmo que um dia os EUA ajudem a Palestina com os bilhões de dólares que ajudam Israel, ainda assim serão anos para construir todos os equipamentos públicos fundamentais para a vida e qualidade de vida destas pessoas. Algumas delas não terão tempo de esperar: estão doentes por causa de Israel – e vão morrer, lamentavelmente.
Vamos além? As crianças que sobreviverem: aquelas que não têm suas pernas e braços, viverão para sempre dependentes de alguém, sem a sua emancipação completa. Algumas delas, chegando à vida adulta, certamente não conseguirão trabalhar, e outras, se constituírem família, a depender de quais órgãos as armas as atingiram, não poderão ter filhos.
Sobre as crianças que estão com o seu corpo intacto: sua alma e mente foram dilaceradas por uma pseudo guerra que não sabem o porquê de não ter matado praticamente ninguém do Hamas, mas assassinado seus pais, seus tios, seus vizinhos.
Ou seja: o impacto da crueldade do governo de Israel é INTERGERACIONAL. Melhor explicando: serão gerações e gerações para reconstruir, tanto a estrutura de Gaza, quanto a alegria de viver dos palestinos. Um trauma que não há absolutamente nada que possa superar a não ser o fim imediato do conflito e um sincero esforço de toda a humanidade em reconstruir a Faixa de Gaza; em aceitar de uma vez por todas a dignidade humana e os direitos do povo palestino; e de obrigar Israel a descolonizar os milhares de quilômetros quadrados que foram invadindo na Palestina ao longo de 75 anos de sua brutalidade.
Certa vez (não lembro bem a data) participei de uma palestra na UnB em que falava a deputada e psicóloga, Erika Kokay. Jamais esqueci uma de suas intervenções. Dizia Kokay mais ou menos assim: “As pessoas não são apenas a vida em si, mas projetos de vida. Todos nascemos para ter algo, representar algo, realizar algo” (paráfrase). A palestrante se referia a jovens que são assassinados numa periferia qualquer das cidades brasileiras e que por tantas vezes ignoramos que são pessoas como nós com seus sonhos e desejos – descartados como fruta estragada no fim de feira.
A respeito do tema, vale-nos aprender com José Geraldo de Sousa Junior. Lembra o jurista que o então presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, Antonio Augusto Cançado Trindade, em sentença proferida para caso ali em análise, firmou a tese de “inviolabilidade do projeto de vida” e sua fundamental necessidade de reparação quando violado. O juiz dizia no seu tratado que “o projeto de vida se encontra vinculado à liberdade, como direito de cada pessoa escolher seu próprio destino” e que este direito foi sacramentado na hermenêutica da Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem de 1948.
Completa José Geraldo: “no plano internacional, a idéia de projeto alcança uma dimensão temporal de exigência de reparabilidade, pleiteando-se a existência de dano inclusive, ao ‘projeto de pós-vida’”[2].
Retomando: Netanyahu não está “apenas” assassinando mais pessoas que Hitler (dentro da Alemanha). Ele está aniquilando milhões de projetos de vida. E vou além: são cúmplices dessa tragédia para a humanidade, todos os líderes mundiais que nada fazem para frear a sanha nazista dos governantes de Israel. A história não os perdoará – se não houver reparabilidade!
Enquanto isso mais uma criança perde suas pernas… sua esperança... e seu futuro!
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[1] Infelizmente, as informações mais recentes que tivemos do Centro de Satélites das Nações Unidas (Unosat) a respeito deste assunto, datam de 7 de janeiro, quando o conflito tinha 3 meses de intervenção.
Aguardamos a atualização da ONU quanto a estes dados, mas a julgar pela velocidade da destruição de Israel a Gaza, certamente, a tragédia humana e infraestrutural será demonstrada como aterradora. Até aquela data, 30% de todas as construções de Gaza já estavam abaixo, destruídas. A maioria destas estruturas eram unidades habitacionais (casas de seres humanos).
Ver mais em: https://www.cartacapital.com.br/mundo/novos-combates-entre-israel-e-hamas-em-gaza-a-espera-de-uma-tregua/. E em: https://jornalggn.com.br/internacional/israel-ja-destruiu-70-das-casas-na-faixa-de-gaza/.
[2] In: SOUSA JUNIOR, José Geraldo de. Direito como liberdade: o Direito Achado na Rua. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Ed., 2011, p. 38-39
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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