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    Sara Goes

    Sara Goes é âncora da TV247, comunicadora e nordestina antes de brasileira

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    Netanyahu, pare de matar meu filho

    Como o sofrimento das mães vítimas de Israel ressoa em um lamento universal

    Um menino palestino reage no local dos ataques israelenses a casas, em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 17 de outubro de 2023 (Foto: REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa)

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    Por Sara Goes - Aos 38 anos eu estava grávida pela terceira vez. As gestações anteriores estavam ali e eu sentia o calor delas. O primeiro se foi rápido, sem nem me dar tempo de entender, como se nunca tivesse existido. O segundo foi mais cruel. Tive tempo de amar, de sentir o peso da vida em formação, de ver minha barriga crescer e então ele se foi também, de forma violenta. Era como se a promessa da vida fosse uma iminente traição.

    Enquanto eu carregava meu filho, assistia às imagens brutais que marcavam cada frase que eu pronunciava sobre o genocídio palestino. Eu via todos os dias aqueles homens frenéticos pela dor, tentando segurar o que restava de suas crianças sob o pretexto de abastecer o Boa Noite 247 com a maior quantidade de denúncias gráficas sobre o massacre, mas o que eu buscava eram as mães. Onde estavam as mães? Havia tão poucos registros delas. Eram, na maioria das vezes, os pais que velavam publicamente os corpos destroçados dos filhos. Imaginava-as em algum canto escuro, escondidas, devastadas pela dor que me fragmentou duas vezes elevada por uma imensurável potência, incapazes de suportar a exibição pública da morte dos filhos que carregaram, que amamentaram, que protegeram com seus próprios corpos. Talvez elas não pudessem chorar ali, diante das câmeras que denunciavam ao mundo o holocausto, porque o luto delas era tão profundo que as desfez por dentro até elas deixarem de existir.

    Sentia meu filho crescendo em mim, enquanto do outro lado do mundo, as mulheres palestinas eram roubadas da chance de ter a mesma experiência. Uma vida saudável se formava aqui, enquanto a guerra arrancava o corpo e a vida delas na Faixa de Gaza. O contraste estava insuportável. Eu me perguntava quanto tempo ainda me restava até que a vida, de novo, me arrancasse o que eu mais amava. E secretamente eu pensava, talvez seja justo.

    O parto foi o auge daquela loucura silenciosa que me atormentou por meses. Um parto natural, sem analgesia, rápido. Mas quando o vi pela primeira vez meu filho não estava ali. No meu delírio eu segurava uma daquelas crianças cujos corpos destroçados eu via nas imagens que eu editei por tanto tempo. A pele dele estava queimada, apodrecida, como se o fogo da guerra tivesse atravessado o oceano e o alcançado. Lutei, descrevi o que estava vendo e me senti constrangida com os olhares pasmados da equipe médica, que logo entregou para o pai o meu filho perfeitamente saudável, rosado, vivo.

    A medicina tratou minha depressão pós-parto e delimitou as emoções, erguendo uma barreira segura entre a minha dor e a dor daquelas mães. Mas Netanyahu bombardeou esta fronteira também. No dia em que Israel atacou o Líbano, meu filho completou 5 meses de vida. Uma vida cheia de futuro. Abraço meu bebê que eu já vi morto em honra às mães, devastadas pelo luto e pela compaixão. O sofrimento de todas as mães vítimas da crueldade implacável do Estado sionista de Israel carrega uma empatia esmagadora.Você consegue sentir? Netanyahu, pare de matar meu filho.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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