Ninguém segura a bestialidade de Jair Messias
"Os ataques desembestados de Jair Messias à mesma imprensa que foi essencial para que ele saísse dos porões e escalasse a poltrona presidencial são, além de prova inconteste de ingratidão, um atentado à democracia. Ele antecipa que irá se reunir com empresários para pedir que deixem de pagar publicidade em jornais, revistas e na rede Globo", escreve o jornalista Eric Nepomuceno
Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia
Repudio, é claro, os ataques sofridos pela jornalista Vera Magalhães por seguidores fanáticos e pelo próprio Jair Messias.
Mas não me peçam, por favor, gestos de solidariedade a ela: afinal, Vera Magalhães, como aliás tantos outros e outras jornalistas, está apenas e tão somente colhendo o que plantou.
Ela e os meios hegemônicos nos quais atua foram peça fundamental no golpe institucional que derrubou uma presidente que poderia até ser classificada como inepta, mas que não cometeu nada que justificasse sua destituição.
Também participou ativamente da farsa judicial liderada por um juizeco provinciano manipulador e parcial, que impediu que Lula da Silva se candidatasse. Pode ser que ele perdesse, mas nem essa dúvida teve espaço para ser esclarecida, graça a jornalistas como ela.
Portanto, para mim, Vera Magalhães, que não conheço pessoalmente e cuja trajetória acompanho de relance e sem dar relevo algum, foi absolutamente cúmplice do que agora desaba sobre sua pobre cabeça.
O que me traz aqui é aquilo que chamo de meu lado masoquista: acompanhar as andanças e falanças de Jair Messias, o boçal-mor.
Na transmissão ao vivo, vulgar e tosca, que ele toda quinta-feira faz ao vivo por uma rede, Jair Messias mentiu de maneira deslavada.
É verdade que ele mente como quem respira. Mas desta vez, reincidiu em outro hábito desprezível de sua desprezível figura: mentir contra uma das responsáveis por ele estar onde está.
Conseguiu a façanha difícil de se superar: negou ter feito o que fez, com o semblante característico de quem desconhece limites.
Continuo achando espantoso e inacreditável que não exista um único ser encastelado ao seu lado para sugerir a ele que tente, que ao menos tente, se controlar um pouquinho.
E como tudo parece confirmar a inexistência de alguém capaz de conter a besta-fera presidencial, ela vai continuar atentando contra a decência, a civilidade, a racionalidade. Contra a própria democracia.
Depois do escândalo provocado pelo fato de ter distribuído entre asseclas vídeos que integram uma claríssima campanha de ameaça ao Congresso e ao Supremo, Jair Messias parecia ter serenado.
Como serenar e ele são contradição sem volta, na transmissão ao vivo, com seu ar de cafajeste suburbano cuidadosamente estudado para convencer a cretinalha que ele é ‘gente como a gente’, Jair Messias tornou a ser o que ele é em estado puro.
A questão central, porém, é outra: ao avançar para testar a possibilidade de aplicar o tão sonhado autogolpe, Jair Messias envolve diretamente as Forças Armadas.
Os convocados por ele para seu círculo de proteção direta respondem ao que há de mais retrógrado e reacionário entre fardados e empijamados.
Vale recordar que desde a ditadura jamais houve tantos militares engastalhados no governo.
Portanto, é impossível separar a imagem dos seríssimos riscos à democracia e ao país inerentes na sua atuação, da imagem dos militares.
Os ataques desembestados de Jair Messias à mesma imprensa que foi essencial para que ele saísse dos porões e escalasse a poltrona presidencial são, além de prova inconteste de ingratidão, um atentado à democracia.
Ele antecipa que irá se reunir com empresários para pedir que deixem de pagar publicidade em jornais, revistas e na rede Globo.
Além de tudo, essa ameaça viola qualquer princípio legal.
E daí? Pois e daí, nada.
A besta-fera continua solta e em plena forma.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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