No discurso da vergonha, o medo de Lula
"A mitomania e a paixão de Bolsonaro pela mentira são um aviso: a guerra vai ser muito suja em 2022 se ele for candidato", alerta a jornalista Tereza Cruvinel ao avaliar o discurso de Jair Bolsonaro na Assembleia-geral da ONU
Por Tereza Cruvinel
O discurso que o Itamaraty preparou para Bolsonaro ler na ONU buscava melhorar a imagem do país e de seu governante. Já em Nova York, Bolsonaro e seu filho Eduardo enxertaram os "cacos" ideológicos e negacionistas que produziram críticas caudalosos mundo afora, para vergonha dos brasileiros, em meio a delírios mitômanos sobre um êxito inexistente. Bolsonaro mentiu diante do mundo da primeira à última linha.
Os "cacos" ideológicos, como a pregação do uso de drogas ineficazes, o famigerado tratamento precoce, e a negação do passaporte vacinal, foram afagos na extrema direita interna e externa, que está festejando o discurso da mentira e da vergonha. Já foram muito comentadas as mentiras sobre êxitos do governo em áreas onde ele é fracasso, como meio ambiente, combate à pandemia, gestão econômica, combate ao racismo, proteção aos índios e tudo o mais.
O que não se apontou ainda, nas avaliações do discurso, foi que também ali, na tribuna da ONU, Bolsonaro fez campanha extemporânea, jogando "cacos" contra seu principal adversário eleitoral, em demonstração do medo que ele tem de Lula.
Foi contra Lula que ele afirmou que o Brasil esteve à beira do socialismo. Certamente não falava do governo pós-golpe de seu aliado Temer, mas dos governos de Lula e Dilma. Apontando-os como socialistas, Bolsonaro busca disseminar lá fora o temor do mundo capitalista com a volta de Lula. Ironicamente, para Bolsonaro, Lula vai se consolidando, inclusive junto a setores da elite econômica, como o único que pode salvar o Brasil, liderando um projeto de reconstrução do país destruído pelo bolsonarismo.
O outro "caco" anti-Lula foi aquele em que Bolsonaro desencavou a velha história de empréstimos que o BNDES teria feito, sem garantias, a "governos comunistas". Bolsonaro passou a campanha e os primeiros meses de seu governo falando numa tal caixa preta do BNDES, até que o segundo presidente do banco, por ele nomeado, reafirmou sua inexistência. Os empréstimos, como sabido, foram feitos a empresas brasileiras de construçao que ganharam licitações para realizar obras lá fora. Tais obras geraram empregos para brasieiros e vendas para a indústria de material de construção.
A lenda de que bilhões de reais foram "dados" a governos "amigos do PT", entretanto, foi uma das fake news disparadas em 2018 que mais funcionaram para tirar votos do candidato petista Fernando Haddad. Bem perto do segundo turno, um pequeno comerciante me explicou por que, tendo sempre votado em Lula e a pedido dele, em Dilma, não votaria em Haddad, mas em Bolsonaro. "É por isso aqui", disse ele me mostrando uma mensagem no celular.
Ela listava os milhões do BNDES que teriam sido dados a governos do Peru, Cuba, Angola e outros países.
- Fazem isso com nosso dinheiro enquanto aqui no bairro falta asfalto, esgoto e segurança - disse-me o comerciante.
Eu ainda não sabia mas os disparos de fake news por whatsapp estavam acontecendo naquele momento.
A mitomania e a paixão de Bolsonaro pela mentira são um aviso: a guerra vai ser muito suja em 2022 se ele for candidato.
Quanto ao discurso na ONU, com ele Bolsonaro cavou mais fundo para rebaixar o Brasil. Mas lá fora quem tem discernimento sabe que o Brasil não é irrelevante. Irrelevante e desprezível é seu governante atual, fruto de um engano coletivo cometido em 2018, mas ele vai passar. Bolsonaro foi à ONU falar não como chefe de governo e nem como chefe de Estado, mas como eterno animador de falanges radicais.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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