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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Nove meses depois da cartinha a Moraes, Bolsonaro é hoje um homem mais inseguro

    "Ameaçar com a guerra é o que resta a Bolsonaro e à sua tropa", escreve o jornalista Moisés Mendes

    (Foto: Reprodução | ABr)

    Por Moisés Mendes, para o 247

    Há mais do que indícios de que Bolsonaro dispõe hoje do que ainda não tinha, ou pensava não ter, quando enviou a famosa cartinha com pedido de trégua ao ministro Alexandre de Moraes, no dia 9 de setembro do ano passado.

    Dois dias depois da fala do 7 de setembro na Avenida Paulista, com ameaças ao Supremo e ao próprio Moraes, Bolsonaro foi aconselhado por Michel Temer a reavaliar o blefe do golpe. Pediu desculpas e recomendou harmonia entre os poderes.

    Moraes não era mais o canalha que perseguia a família e o governo. Bolsonaro escreveu a carta porque estava inseguro. A missiva completa nove meses nesta quinta-feira. Se fosse o desfecho de uma gravidez, hoje Bolsonaro estaria parindo uma aberração.

    Em nove meses, Bolsonaro recuou, avançou, recuou de novo e agora anda em disparada. A carta pariu a certeza de que ele decidiu levar adiante o blefe do golpe, porque tem o lastro militar que talvez ainda não tivesse em setembro.

    O tenente se sentiu fortalecido pela fidelidade do general Braga Netto, a quem escolheu para ser seu vice, viu o general Fernando Azevedo e Silva retirar-se da trincheira do TSE, intensificou a articulação de ataques ao tribunal e às urnas e, pelo que fez este ano, nunca mais recuou.

    O Bolsonaro de hoje é um sujeito que se esforça para transmitir todos os dias o recado de que fará algo, antes ou depois da eleição. Que irá aplicar um golpe antes de outubro ou pode, mais adiante, empastelar a votação e a apuração.

    É esse o Bolsonaro que se apresenta pronto para a guerra (palavra que ele passa a usar), diante da ameaça cada vez mais concreta de ser derrotado ainda no primeiro turno.

    Sinais dados pelo entorno militar favorecem sua determinação. Anuncia-se que os generais voltarão à carga no questionamento das urnas e da estrutura de apuração de votos. E Bolsonaro passa a atacar diretamente o presidente do TSE, Edson Fachin, com a mesma intensidade com que atacava Alexandre de Moraes.

    Não há mais dúvidas de que esse será o ritmo do sujeito, se nenhum incidente interromper a caminhada em direção a alguma ruptura, que pode acontecer da forma mais imprevisível.

    Se a certeza é a de que ninguém segura Bolsonaro, resta saber como contê-lo e se isso é de fato possível. Até porque ninguém sabe, talvez nem ele, qual será o próximo estágio da tática para que as facções se mantenham atentas e mobilizadas.

    Se há uma certeza ululante, para muito além de todas as outras, é a certeza que contraria a sensação de que Bolsonaro avança por se sentir hoje um homem mais confiante.

    Pode ser o contrário. Bolsonaro radicaliza porque seu lastro militar o aconselha a avançar. Mas isso pode indicar apenas que todos, ele e seu entorno, estão mais inseguros hoje do que naquele 9 de setembro.

    Naquele 9 de setembro, não havia nenhuma pesquisa dizendo que a extrema direita poderia ser mandada embora do poder por Lula no primeiro turno. Ameaçar com a guerra é o que resta a Bolsonaro e à sua tropa.

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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