Novidades do caso Adélio: deve deixar o presídio até dia 21 e testemunha diz estar sendo perseguida
Processo de interdição do homem preso por atacar Bolsonaro avançou, depois que houve troca de juízas em Campo Grande
Prestes a deixar o presídio federal de Campo Grande, onde se encontra em cela isolada, Adélio Bispo de Oliveira também poderá, finalmente, passar para a tutela de uma das irmãs, Maria das Graças Ramos de Oliveira.
Não são as únicas novidades na vida de um dos protagonistas do episódio político que mudou a história do Brasil, em setembro de 2018, em Juiz de Fora.
Um policial militar que já reivindicou ter salvo a vida de Jair Bolsonaro deu uma declaração bombástica ao jornalista Thiago Parijani.
Preso em uma batalhão de Minas Gerais, sob acusação de participar do assassinato de uma mulher em Muriaé, Cleines Pinto de Oliveira se comparou a Adélio, em um suposto plano para desacreditá-los.
“Na realidade, o que fizeram (com Adélio) tão tentando fazer comigo agora, entendeu? Tão tentando me tornar alienado mental para poder invalidar toda a minha fala e perante tudo o que tá acontecendo, e desde então tenho sofrido diversos assédios morais, perseguições, falsas acusações de crimes, de maneira vil, tô preso há 200 dias no 26o. Batalhão, por um (inaudível) crime o qual eu não cometi, e tive que responder a diversos processos os quais eu também não cometi, simplesmente por querer exigir, porque logo após a minha intervenção nesse fatídico dia 6 de setembro de 2018, resultou na minha precoce e fraudulenta transferência para a inatividade da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, culminando aí na minha perda da minha profissão, à qual eu sempre dediquei e sonhei um dia fazer parte”, disse.
Cleines não entrou em detalhes, e explicou que falava do telefone, cercado de policiais que fazem a segurança do cárcere militar. Não é a primeira vez que o nome de Cleines aparece no caso.
Em maio de 2020, o advogado Frederick Wassef, ligado a Bolsonaro, deu entrevista à TV Bandeirantes e disse que Cleines era uma testemunha que podia ligar o fato de Juiz de Fora ao Partido dos Trabalhadores.
O cabo foi procurado pelo delegado Rodrigo Morais, mas disse que não tinha nenhuma informação que implicasse o PT.
Na época, segundo relato da PF, Cleines já estava afastado da PM por incapacidade definitiva e plena. A acusação de participação no homicídio foi posterior.
Em imagens gravadas pelo celular e postadas na internet, Cleines mostrou que estava a poucos metros de distância de Adélio minutos depois do episódio, ambos no segundo andar de um prédio no calçadão da Halfeld, em Juiz de Fora.
Ele contou que levou Adélio para um lugar seguro depois que este investiu contra Bolsonaro e foi cercado por manifestantes bolsonaristas. Quem primeiro protegeu Adélio foi um policial à paisana lotado em Guarani, município vizinho a Juiz de Fora.
Na sequência, foi Cleines quem entrou em ação, ao abrir a porta de um prédio e colocar Adélio lá. Foi nesse local que Adélio, ao ser perguntado sobre quem o mandou atentar contra Bolsonaro, afirmou:
“Eu não disse que ninguém mandou. Quem mandou foi o Deus aqui em cima”.
Cleines tinha tido contato com Bolsonaro antes do evento de Juiz de Fora, conforme mostram suas postagens.
Candidato a deputado pelo PSL em 2018, esteve em Brasília em julho do mesmo ano, onde se encontrou com Bolsonaro e também com o deputado Marcelo Álvaro Antônio, organizador do ato de campanha em Juiz de Fora.
Depois de 6 de setembro, ele esteve no Rio de Janeiro e postou fotos com Eduardo e Carlos Bolsonaro.
No início deste ano, a Justiça Federal em Campo Grande decidiu que Adélio
deve ser transferido para Minas Gerais e ser submetido a tratamento médico.
Desde então, a Defensoria Pública da União tenta obter vaga em hospital em Montes Claros, onde a família dele mora.
Porém, segundo a instituição, a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais não tem demonstrado boa vontade e até agora não providenciou vaga para Adélio.
No entendimento do defensor público Welmo Rodrigues, autor da ação, seu destino deve ser um hospital do SUS.
Por outro lado, depois de mais de um ano de luta processual, os advogados Edna Teixeira e Alfredo Marques conseguiram fazer o processo de interdição de Adélio avançar.
A irmã Maria das Graças Ramos de Oliveira entrou com a ação no início de 2023, depois que Adélio foi considerado inimputável por ser portador de transtorno paranoide, e passou a cumprir medida de segurança no estabelecimento de segurança máxima.
Logo depois do diagnóstico, a curatela processual ficou a cargo de Zanone Júnior, apesar de Adélio tê-lo rejeitado como advogado. Ou seja, Zanone deixou de defendê-lo nos autos, mas passou a falar em nome dele como curador, nos mesmos autos.
A juíza Cintia Xavier Letteriello , da 2a. Vara de Família e Sucessões, havia negado a curatela provisória a Maria das Graças, depois de ouvir Adélio no presídio, sem a presença dos advogados.
O 247 a procurou pelo WhatsApp oficial da Vara, no ano passado, e a resposta sobre a razão de ter realizado a audiência sem a presença dos advogados foi um deboche: "Dusahsudejefisnedjxje".
Cintia Letteriello deixou a Vara recentemente e a nova titular, Liliana de Oliveira Monteiro, cobrou manifestação do Ministério Público do Estado.
O que está em apreciação é o pedido dos advogados para reconsideração da decisão da antiga juíza.
O promotor do caso, Kristian Gomes Simões, se manifestou contra o pleito dos advogados e, demonstrando que acompanha as publicações do Brasil 247, afirmou que Adélio está na iminência de ser transferido para Montes Claros.
Em razão disso, declarou ser favorável ao envio da ação para aquela comarca, em Minas Gerais.
Por sua vez, os advogados de Maria das Graças disseram nos autos estranhar a posição do MP, já que a transferência de Adélio não é fato consumado nem consta dos registros na Justiça civil em Campo Grande.
Portanto, para os advogados, a ação deve ser decidida levando-se em consideração o domicílio atual de Adélio, na capital sul-grossense.
Seis anos depois, Adélio poderá ser submetido ao tratamento médico, o que lhe deveria ter sido assegurado desde 6 de setembro de 2018.
Segundo laudos psiquiátricos mais recentes, o quadro de saúde mental dele se agravou.
Na única vez em que visitou o irmão presencialmente, em março do ano passado, Maria das Graças perguntou:
“Você fez mesmo o que dizem que você fez, tentou matar Bolsonaro? Por quê?”
Adélio foi ríspido. “Você está querendo me complicar?”
Adélio sabia que a visita era monitorada. Esse trecho da gravação foi visto por algumas autoridades. E Adélio, deste então, não quis mais receber a visita da irmã.
Estaria sendo pressionado?
Em liberdade, Adélio poderá falar sem medo de complicação.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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