Novo Hamburgo e a herança de sangue do bolsonarismo
"Para transformar tragédias como a de Novo Hamburgo em um ponto de virada, o Brasil precisa abandonar a era armamentista", escreve Bohn Gass
A tragédia em Novo Hamburgo, onde quatro vidas foram ceifadas, incluindo as de dois policiais militares, expõe o fracasso da política armamentista do governo Bolsonaro e revela a falácia de que "cidadão armado é cidadão seguro". Ao promover a posse e o porte de armas como sinônimos de proteção, aquele governo tem as mãos sujas de sangue, pois colocou em risco a segurança da sociedade e empoderou criminosos, chegando a conceder um registro de CAC a um cidadão portador de esquizofrenia. Além disso, milhares de armas legalmente adquiridas foram desviadas para facções criminosas, alimentando arsenais de grupos como o PCC e o Comando Vermelho.
No governo Bolsonaro, o número de CACs aumentou drasticamente, de 117 mil em 2018 para mais de 673 mil em 2022, um crescimento de quase 500%. Esse avanço se deveu a decretos que afrouxaram o controle de armas, permitindo que civis acumulassem arsenais em casa, transformando residências em depósitos para desvio e roubo. Relatórios indicam que centenas dessas armas desviadas acabaram nas mãos do crime organizado, intensificando a violência nas regiões mais vulneráveis.
O governo Lula, ciente da situação alarmante, tem adotado medidas para revertê-la. Já em janeiro de 2023, reestabeleceu limites rigorosos para a posse e porte de armas, revogando decretos que facilitavam o acesso ao armamento civil. Além disso, criou o Sistema Nacional de Rastreamento de Armas e Munições, visando acompanhar todo o arsenal do país em tempo real e evitar que armamentos legais cheguem a mãos erradas.
Essas iniciativas buscam mitigar a herança de insegurança deixada pelo governo anterior. Entretanto, como a tragédia de Novo Hamburgo mostra, os efeitos de anos de descontrole não se dissipam facilmente. O discurso de que “mais armas trazem mais segurança” revelou-se, na prática, uma fórmula trágica, corroborada por estudos que indicam que a presença de armas em residências aumenta os riscos de homicídios, suicídios e violência doméstica.
Para transformar tragédias como a de Novo Hamburgo em um ponto de virada, o Brasil precisa abandonar a era armamentista e adotar uma política de segurança pública comprometida com a proteção da sociedade. Não com a sua morte.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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