O 25 de Abril e o 1º de Abril
"Como em 25 de Abril de 1974, eu sinto aquela mesma "inveja boa" a me marejar os olhos", escreve Hildegard Angel
Porque hoje é 25 de Abril. Porque hoje Portugal canta e dança e desfila de braços dados nas ruas. Porque desde ontem, atravessando a madrugada, há festejos, fogos, son et lumière, projeções nos monumentos em Lisboa, Coimbra e outras cidades portuguesas. Porque as crianças se alegram e acenam cravos, cantarolando nos pátios das escolas "somos livres, somos livres, somos livres de voar".
Porque agora, como em 25 de Abril de 1974, eu sinto aquela mesma "inveja boa" a me marejar os olhos. Nesses 50 anos da revolução portuguesa, os meus olhos de novo se molham, e também de "inveja boa", porém triste. Porque dias atrás, em nosso adorado Brasil, aos 60 anos da lembrança do golpe, foram vetadas manifestações oficiais, que lembrassem aquele período tenebroso, o que serviria de alerta aos que não o viveram, e alguns ingenuamente ainda pensam que "foi bom", "foi uma ditabranda", "um mal menor para barrar o comunismo".
Não foi nada disso. Foi uma ação brutal, truculenta, que matou em vida e em morte. Apagou pessoas, perseguiu inocentes, destruiu vidas e famílias inteiras, consolidou e aumentou privilégios, perpetuou o desnível social, impediu a alfabetização dos que não sabiam ler, interrompendo a implantação do método Paulo Freire, matou quase nove mil indígenas, censurou obras-primas, proibiu, torturou, estuprou em seus porões, arrancou unhas, dentes e mamilos, aniquilou com a juventude mais Patriota, idealista, preparada, prendendo-a, imolando-a, queimando seus livros, impedindo que concluísse seus cursos nas universidades; dedurou, roubou, se locupletou. E mais uma porção de coisas ruins, inclusive afastar pra bem longe, obrigar ao exílio, muitas das nossas maiores capacidades científicas, artísticas, técnicas - grandes vultos.
Por isso, hoje, distribuo cravos aos amigos portugueses, já que o Brasil não distribuiu coroas de flores e mensagens de condolências às famílias de seus heróis mortos e "desaparecidos", exilados e perseguidos pelos 21 anos de seu martírio, representados pelo 1º de Abril de 1964.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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