Advogado quebra silêncio de 18 anos e diz por que foi perseguido por Moro: questão pessoal e também política
Roberto Bertholdo deu entrevista exclusiva à TV 247 e confirmou vídeo da festa da cueca e gravação de conversas telefônicas do ex-juiz
247 - O advogado Roberto Bertholdo quebrou um silêncio de dezoito anos e revelou acreditar que Sergio Moro o perseguiu para se vingar de uma questão pessoal e também porque já tinha um projeto político para desestabilizar o governo de Lula.
"Eu cometi um erro: comentei com juízes, desembargadores e ministros o que ouvi na gravação", disse. Era algo pessoal. Segundo ele, foi essa a razão de Moro ter realizado prisões que levariam até o seu encarceramento.
Bertholdo citou a prisão do empresário Tony Garcia, que na época era político, em novembro de 2004. Tony era seu cliente e tinha sido cabeça de chapa na eleição para o Senado em 2002, na qual Bertholdo era candidato a primeiro suplente.
Com a prisão, Tony Garcia seria forçado a fazer acordo de colaboração e se tornaria agente infiltrado do então juiz. "Cometi ilegalidades em série, a mando de um juiz", disse Tony, em entrevista ao 247. As revelações de Tony foram a base do documentário "Um juiz fora da lei".
Uma das ilegalidades que Tony diz ter cometido por ordem de Moro foi ter acusado Bertholdo de gravar ilegalmente Sergio Moro. Segundo Tony, quem gravou o então juiz foi José Janene, na época deputado federal.
"Moro sabia disso, mas me acusou de ter realizado a gravação", disse Bertholdo. A versão da acusação fraudulenta já tinha sido antecipada pelo empresário que se tornaria agente infiltrado.
Por conta disso, Bertholdo foi preso em 2005 (há mais de dezoito anos) e depois condenado. Segundo ele, houve pressão para que fizesse acordo de colaboração e incriminasse José Dirceu, que foi chefe da Casa Civil no primeiro governo Lula. O advogado recusou, e, segundo ele, por isso foi transferido para presídios superlotados, e ficou até em solitária.
Bertholdo diz que o tratamento degradante fazia parte de um método de tortura, não apenas psicológica. Antes de prestar depoimento, ele era levado para circular de viatura, na parte de trás, que na gíria é conhecida como gaiola.
Segundo o advogado, as viaturas se deslocavam em alta velocidade, com ele algemado, onde era sacudido como se estivesse em uma "secadora" (ou uma centrífuga)."Depois do passeio, me perguntavam se eu iria colaborar", disse.
Bertholdo nunca fez acordo, embora tenha recebido proposta de imunidade completa, caso imputasse crime a José Dirceu e ao governo Lula, que estava em seu primeiro mandato.
Bertholdo também chamou a atenção para o papel do procurador da república Carlos Fernando dos Santos Lima no esquema de abuso perpetrado por Sergio Moro.
"Ele é o cérebro (da maldade) no Ministério Público, não é o Dallagnol", disse. Carlos Fernando foi quem atuou contra Bertholdo no caso dos grampos ilegais. Os assistentes de acusação foram Carlos Zucolotto Júnior e a cônjuge de Moro, Rosângela, a quem Bertholdo acusou de exibir sinais exteriores de riqueza.
"Eu estava no restaurante Gero, em São Paulo, quando ela pediu uma grappa", afirmou. A dose da bebida era vendida a 500 reais.
Roberto Bertholdo também confirmou a existência do vídeo da chamada festa da cueca, que reuniu desembargadores e garotas de programa, no hotel Bourbon, em Curitiba. "Não houve festa apenas uma vez, mas várias e em vários locais", disse.
O autor da gravação foi seu então sócio, Sérgio Costa, que por decisão de Moro vive fora do Brasil e ganhou nova identidade, além de receber ajuda mensal, que seria na ordem de 10 mil dólares.
O vídeo da festa da cueca não foi juntado a nenhum processo, e teria sido usado para constranger desembargadores do TRF-4 e, com isso, Moro obter decisões favoráveis.
Bertholdo disse que apresentará provas, caso seja intimado a depor, no inquérito aberto por decisão do ministro Dias Toffoli e que Moro ocupa o lugar de investigado.
Veja a entrevista completa, na terceira parte do Boa Noite, da TV 247:
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