O Afeganistão nosso de cada dia
“O Afeganistão é aqui, onde a cada 6 horas e meia uma brasileira é vítima de feminicídio. Aqui, onde a cada 60 minutos quatro meninas brasileiras com menos de 13 anos são estupradas e onde cerca de 15 mil crianças brasileiras desaparecem todos os anos"
A reação discursiva brasileira dominante à retomada do poder por parte do talibã no Afeganistão demonstra de maneira cristalina quão grande é a dominação cultural a que estamos sujeitos.
Sinteticamente, essa reação pode ser resumida como “pobres mulheres afegãs, agora voltarão a viver sob os ditames da Xaria”. Xaria, o conjunto de leis baseadas e inspiradas no Alcorão que agora rege o Afeganistão, da mesma forma que regia antes da invasão estadunidense ao país há 20 anos e que resultou na morte violenta de dezenas de milhares de civis afegãs e afegãos, adultos e crianças, e que não contaram, ao longo dessas duas décadas, com a onda de solidariedade brasileira que agora se destina às “vítimas” das leis afegãs do... Afeganistão.
Também não contam com essa solidariedade as mulheres da Arábia Saudida, no Iémen, dos Emirados Árabes Unidos, do Catar e outros países mais, que também vivem sob a Xaria, porém aliados dos Estados Unidos.
Aqui não se trata de defender a Xaria, ou o talibã, mas de rechaçar o domínio cultural imperialista que nos impõe pautas e alvos equivocados, cortinas de fumaça que encobrem a constante violação do Direito Internacional e os recorrentes crimes contra a humanidade perpetrados pelo intervencionismo estadunidense. Intervencionismo esse que tem como um dos seus muitos “filhos” o próprio talibã.
Aqui não se trata de defender a Xaria, ou o talibã, mas de rechaçar o domínio cultural imperialista que sub-repticiamente nos dá a falsa sensação de superioridade sobre outras culturas e que encobre o fato de que o Afeganistão é aqui. Aqui onde a cada 6 horas e meia uma brasileira é vítima de feminicídio. Aqui, onde a cada 60 minutos quatro meninas brasileiras com menos de 13 anos são estupradas e onde cerca de 15 mil crianças brasileiras desaparecem todos os anos."
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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