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    Gabriel Magno

    Professor da rede pública do DF, deputado distrital pelo PT e presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura da CLDF

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    O ataque ao Eixão do Lazer: Brasília perde sua cultura?

    "O Mandato da Esperança está ao lado dessa Brasília que canta e é feliz"

    Esplanada dos Ministérios em Brasília 07/04/2020 (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)

    No dia 1º de setembro de 2024, Brasília foi palco de um episódio dantesco. Na calada de um domingo, uma operação conjunta de várias secretárias do Governo do Distrito Federal promoveu o cancelamento de eventos culturais que compõem o Eixão do Lazer. Com maquinário pesado e efetivo numerosíssimo, a tropa do governador organizou-se para enfrentar um perigoso exército armado com cadeiras de praia, tamborins e atabaques.

    E eu bem gostaria de dizer que isso foi uma figura de linguagem, mas é exatamente o que pode ser constatado pelos registros nas redes sociais. A população saiu de casa para aproveitar um dia bonito e precisou lidar com a truculência de uma operação ocorrida sem aviso prévio e com opulência desnecessária.

    O Eixão do Lazer ocorre no Eixo Rodoviário desde a década de 1990 e está regulamentado há doze anos, por meio da Lei 4757/12. Aos domingos e feriados, o trânsito é fechado para automóveis e a população pode ocupá-lo para vários tipos de atividade. Inicialmente, era utilizado sobretudo para prática de esportes. Nos últimos anos, testemunhamos o surgimento de belíssimas manifestações culturais e artísticas. O movimento iniciado pelo Choro no Eixo gerou diversas outras iniciativas para todos os gostos. Ao brasiliense, é oferecido uma excelente oportunidade para descansar e se preparar para a nova semana.

    Por mais que seja necessário valorizar a iniciativa de todos que proporcionam esse evento, também é preciso endereçar que o aproveitamento desse espaço também decorre da falta absoluta de aparelho culturais para a população do Distrito Federal. O Teatro Nacional está fechado há mais de década, o Teatro da Praça de Taguatinga não vê atividades culturais desde 2019. A capital do país não tem oferecido espaços para que o cidadão possa produzir e consumir cultura e arte.

    Mas tal qual a nossa vegetação em período de estiagem, o movimento artístico e cultural do Distrito Federal floresce em território inóspito. A iniciativa demonstra o poder da indústria da cultura. Complementando toda a cena cultural, uma grande variedade de serviços é oferecida, o que garante o sustento de centenas de famílias.

    Evidentemente, existe espaço para melhora mesmo em um processo frutífero. Mas os mesmos princípios democráticos que viabilizam o acesso ao Eixão do Lazer devem ser considerados na discussão por sua manutenção e continuidade. Comerciantes e organizadores do espaço informaram que não houve qualquer publicidade acerca da operação promovida pelo Governo do Distrito Federal. Como a organização poderia se antecipar para evitar prejuízos quando nem mesmo o Governo é capaz de oferecer uma motivação singular para tal operação?

    Em meu Mandato, defendemos o direto à cidade como elemento indelével da cidadania. Iniciativas como o Choro no Eixo são importantíssimas sob o ponto de vista cultural, artístico, econômico e humano. Inclusive, um projeto de minha autoria, que trata de ampliar o horário de funcionamento do Eixão do Lazer até às 19h, está em tramitação na Câmara Legislativa.

    É preciso não apenas se posicionar favorável ao funcionamento desse evento: precisamos aproveitar desse espírito e apoiar iniciativas culturais e democráticas em todas as regiões administrativas do Distrito Federal. As cidades precisam da energia humana para revelarem todo seu potencial e iniciativas oferecem ganhos aos cidadãos em diversos aspectos: segurança, lazer, vida comunitária, senso de pertencimento.

    Para finalizar, cito mais um apoiador, talvez o mais ilustre: o próprio Lúcio Costa. No trecho 16 do Relatório do Plano Piloto, ele expressou:

    “(...) ocorreu a solução de criar-se uma sequência contínua de grandes quadras dispostas, em ordem dupla ou singela, de ambos os lados da faixa rodoviária. (...) Disposição que apresenta a dupla vantagem de garantir a ordenação urbanística mesmo quando varie a densidade, categoria, padrão ou qualidade arquitetônica dos edifícios, e de oferecer aos moradores extensas faixas sombreadas para passeio e lazer, independentemente das áreas livres previstas no interior das próprias quadras.”

    O Mandato da Esperança está ao lado dessa Brasília que canta e é feliz. Manifestamos apoio a todas as iniciativas do setor cultural pela continuidade do Eixão do Lazer e colocamos nosso Mandato à disposição para soluções institucionais. O domingo continuará sendo o dia de disfarçar o cansaço se espalhando por aí.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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