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Elisabeth Lopes

Advogada, especializada em Direito do Trabalho, pedagoga e Doutora em Educação

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O autoprejuízo de uma má escolha

As pessoas em desespero são facilmente capturadas por inúmeras ofertas ideológicas

(Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE)

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Por Elisabeth Lopes - Nos últimos anos temos nos deparado com sinais sombrios na política brasileira pela ascensão da extrema direita. Por meio de confluências inesperadas entre alguns segmentos do povo, visivelmente iludido, e propostas políticas risíveis, personagens esdrúxulas têm preenchido as vagas nos poderes representativos.

A partir de 2016, esse panorama na política tornou-se quase incontrolável. Com o impeachment indevido da Presidenta Dilma e a usurpação da presidência da República por Temer, o caminho do limbo foi aberto. Surge o Bolsonaro, a Bia Kicis, a Damares Alves, o Ricardo Salles, o Nicolas Ferreira e recentemente o Pablo Marçal, entre outros que brotam como figuras horrendas vindas do lamaçal contaminado pelo fascismo à moda brasileira.

Esses períodos difíceis têm afetado, sobretudo, os que ainda mantêm a sanidade e a consciência ativa sobre a banalidade do mal. As manifestações odiosas desses políticos extremistas têm alimentado o povo incauto. 

Os fatos cotidianos da política, transformam-se em material para constantes manifestações de impropérios nas redes digitais. Agressões inacreditáveis desses maus políticos são emitidas aos seus desafetos incentivadas pelas lacrações e inconsequentes likes.  

Um exemplo contundente nesse cenário adverso ocorreu logo após a publicação do acidente doméstico do Presidente Lula, no fim da semana passada. O que poderia suscitar solidariedade, votos de boa recuperação, foi superado por mensagens desumanas, desejando o mal ao Presidente. A Deputada Rosângela Moro publicou comentários mesquinhos nas redes digitais, bem à altura de sua figura insignificante e desqualificada.

Nesta última semana das eleições municipais, há indícios de que parte do povo, seduzida pelo grunhido de maus candidatos, os coloque na gestão de algumas prefeituras do país. Todavia, há ainda uma boa reserva técnica da população para contrariar esse prognóstico apontado nas pesquisas de intenção de votos, pelo puro otimismo da vontade, embora o derradeiro pessimismo da razão.

O povo brasileiro já viveu tempos sem poder votar diretamente para presidente da República, governador, prefeito e senador, durante o período da ditadura militar, já assistiu, sistematicamente, o deboche dos doentes asfixiados pelos efeitos da Covid19, por um ex presidente extremamente incapaz em todos os aspectos de humanidade e de competência. Enquanto milhares de famílias perdiam seus pais, avós, filhos e amigos, a falta de empatia e o sarcasmo agravava ainda mais a dor pelas perdas.

O povo continua sofrendo pelas administrações pífias na saúde básica nos diversos municípios. Promessas não cumpridas pelos atuais prefeitos, quanto à redução das filas nos postos de saúde, que continuam a perturbar a vida dos usuários do SUS. Um exemplo eloquente são as filas de espera em Porto Alegre no primeiro nível de atenção à saúde. O atual prefeito que desponta nas pesquisas com muitos votos quer se reeleger iludindo os porto alegrenses com promessas nunca cumpridas. Sebastião Melo cuidou da estética dos bairros de classe alta, média alta e média liberando a construção de arranha céus de gesso acartonado por toda a cidade, mas esqueceu dos pobres da periferia, dos usuários dos postos de saúde. Além dessa desfaçatez, é bom lembrar o sofrimento dos moradores da capital gaúcha pela perda de vidas que amavam, desparecidas na avalanche das águas, pela imersão sem volta de suas casas na lama, durante a trágica enchente que poderia ter sido evitada. Pode parecer repetitivo referir esses fatos, entretanto, é oportuno relembrar para que não desapareçam da memória do povo. Desgraça esquecida atrai mais desgraça.

Diante de tantos infortúnios nas administrações municipais em que o povo pobre é sempre a maior vítima, os eleitores não podem considerar normal o silêncio alienante diante do grotesco. É preciso reagir nas urnas, elegendo candidatos com históricos idôneos, comprometidos com o bem estar da totalidade dos moradores das cidades. 

A reação à barbárie diz muito sobre a materialidade ético política social e cultural de um povo. Como disse a jornalista Tereza Cruvinel, o Brasil tombou para a direita e a extrema direita. Ao me referir à ala da direita acrescento o adjetivo incivilizada, pois na história do país já tivemos bons exemplos em que a direita se comportava de modo civilizado, nos tempos em que os políticos do PSDB ainda cultivavam os princípios de sua legenda, a exemplo do político Mário Covas, lembrado por seu bom senso e integridade.

Contudo, novas esperanças foram sentidas pelas mentes e corações do mundo no decorrer desta semana. O estímulo veio de um grande homem pela sua práxis de toda uma vida dedicada à digna luta por um mundo mais justo, inclusivo e solidário, o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica. Ao participar da campanha à presidência de seu país, em um discurso emocionante e inesquecível, Mujica sensibiliza fortemente a plateia que o assiste: 

“Estou no final da partida, absolutamente convencido e consciente. Sou um velho que está muito perto de onde não se volta, mas sou feliz porque vocês estão aqui, milhares de braços. Os mais jovens vão viver uma mudança no mundo que a humanidade não conheceu. A inteligência será tão importante quanto o capital. O que significa que a formação terciária irá se impor para as novas gerações. Se não somos capazes como país de educar e de formar a geração que vem, vamos pertencer ao mundo dos irrelevantes, dos que não servem para que os explorem. Quando esses braços se forem, haverá milhões de braços na luta. Obrigado por existirem. Até sempre" (Pepe Mujica, Montevidéu, 2024). A integra do discurso está disponível no site brasildefato.com.br).

Quando a grandeza de um político como Mujica nos revela em sua história de vida e de trabalho a genuína humanidade e entrega absoluta à causa de vida pelo outro e com o outro, não há falsos políticos indignos que se sustentem.

Por mais que o Brasil tenha tombado para um lado obscuro da política, sempre haverá homens e mulheres que pensam diferente e que ao longo de suas existências têm lutado por uma sociedade em que todos possam viver bem, sem fome, sem morrer em filas longas nas unidades de saúde, sem sucumbir a uma enchente evitável, sem assistir as queimadas provocadas por interesses mesquinhos no Pantanal, sem sofrer pela falta de luz e de água pelas indevidas  privatizações dos bens públicos essenciais.

Encerro esse texto, com a expectativa de que ainda há tempo de girarmos o país para o lado progressista da política. Para o valoroso Pepe Mujica: “A vida escapa e se vai minuto a minuto e não podemos ir ao supermercado comprar a vida. Então lutem para vivê-la, para dar conteúdo a ela”. 

Resta-nos seguir o conselho desse homem sábio, dando conteúdo à nossa vida e ao nosso país. Não deixemos que a nossa escolha no próximo dia 27/10/24 retire o conteúdo da cidade e do povo que nela vive.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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