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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    O bigode mexicano de Eduardo Bolsonaro

    “O filho do chefe golpista decide se refugiar nos Estados Unidos, talvez com outro rosto”, escreve o colunista Moisés Mendes

    Eduardo Bolsonaro (Foto: Reprodução)

    Eduardo chorou ao falar com um jornalista amigo sobre a decisão de buscar refúgio nos Estados Unidos, para não ter o passaporte apreendido no Brasil. O choro é do jogo. É o que a direita tem a ensinar às esquerdas, que choram pouco e reprimem sentimentos.

    Mas o detalhe da aparição que contém mais informações é o bigode de Eduardo, que parece se anunciar, pelo formato, como um bigodão mexicano. O filho de Bolsonaro assume a condição de quem foge e faz o que é previsível nessas situações: altera as feições.

    Não significa que busque disfarces, mesmo que também isso seja do jogo, mas que passe a se ver como alguém que perde referências, perde poder e também corre o risco de mais adiante perder até o mandato. Eduardo pode virar outra pessoa nos Estados Unidos.

    O cara que ameaçava Alexandre de Moraes em vídeos afrontosos, que orientava os manés para que resistissem e que avisou que nunca se entregaria, agora chora ao vivo e começa a mostrar outro rosto, a face de um homem sem mandato, sem pai forte, sem apoio de seus parceiros e sem nenhuma certeza de que sairá da enrascada.

    Asilados, foragidos e refugiados, nas mais diversas circunstâncias, à esquerda e à direita, recorrem a mudanças que confundam os inimigos e até os amigos. Um exemplo sempre citado no Brasil: José Dirceu viveu escondido no Paraná, durante a ditadura, e fez até plástica no nariz para mudar o rosto.

    Mas Dirceu fugia de quem perseguia, prendia, torturava e matava, como fizeram com Rubens Paiva e mais de 400 brasileiros. Dirceu não fugia da Justiça, mas da certeza de ausência de Justiça.

    Eduardo refugiado e de bigode revela que a extrema direita começa a levar a sério a possibilidade de ser alcançada, a partir da transformação de Bolsonaro e seus generais em réus golpistas. É a confissão de que terão de viver escondidos.

    Até agora, por arrogância fomentada pelo autoengano de que Malafaia e seus fiéis iriam salvá-los, o pai, os filhos, o entorno e os apoiadores comuns achavam que era possível esperar pelo imponderável.

    Mas vão sendo pulverizadas as chances da surpresa, do fato novo que poderia reverter expectativas e livrar os golpistas mais uma vez. O bigode de Eduardo é a admissão de que chegou a hora de cair na real.

    Vamos tentar imaginar as noites de insônia do refugiado, consumidas em boa parte pela indecisão de deixar ou não o bigode, e a partir daí, já bigodudo, assumir publicamente que é meio deputado, meio poderoso filho de Bolsonaro e só meio impune.

    O bigode, que pode ter sido assumido depois do fracasso da aglomeração de Malafaia em Copacabana, expõe o mais ativo dos filhos como alguém que no momento não sabe direito o que é. Eduardo talvez esteja criando um personagem, para acompanhar de longe o que irá acontecer com o pai. Que também pode aparecer de bigode?

    Para copiar o que dizem os fotógrafos, a cara do sujeito escondido nos Estados Unidos com a ajuda de um projeto de bigodão vale por mil e uma palavras. A primeira palavra é medo. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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