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    Gustavo Conde

    Gustavo Conde é linguista.

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    O Brasil tem um novo mito: é Ciro Gomes

    O colunista Gustavo Conde destaca uma mudança de padrão no submundo digital brasileiro e aponta o cirismo como herdeiro direto das práticas bolsonaristas. Ele diz: “um novo sistema de ódio organizado cresce de maneira assombrosa e começa a fazer frente à estrutura do gabinete do ódio bolsonarista - que definha em função dos custos e do esgotamento ideológico do governo (...) algo teria de ser posto no lugar, afinal, para perpetuar a criminalização do PT”

    PT e PSB se unem e isolam Ciro (Foto: REUTERS/Sergio Moraes)

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    A violência, a agressividade e o ataque criminoso das milicias ciristas a publicações que denunciam a violência verbal - espumante e rupestre - de Ciro Gomes são um alerta para a democracia brasileira.

    Esse novo sistema de ódio organizado cresce de maneira assombrosa e começa a fazer frente à estrutura do gabinete do ódio bolsonarista - que definha em função dos custos e do esgotamento ideológico do governo.

    Quebra-se o gabinete do ódio de Bolsonaro, mas instala-se o gabinete do ódio de Ciro Gomes.

    Algo teria de ser posto no lugar, afinal, para perpetuar a criminalização do PT.

    Os ciristas aprenderam direitinho. Não brincaram em serviço. O day after de Bolsonaro, quem diria, nos reservou uma surpresa: teremos uma estrutura de mentiras profissionalmente organizada para exaltar Ciro Gomes e oprimir o PT pelos próximos anos.

    Ciro foi esperto. Ele percebeu que a justiça brasileira não fez nada para desmantelar a estrutura de desorientação comunicacional de Bolsonaro - constituída sob a influência de Steve Bannon - e fez vista grossa ao novo sistema político-digital que se erigiu em sua órbita.

    Ele está errado? Não sei. Já que não há tipificação criminal minimamente consistente para essas práticas, o território está aberto a novas experimentações [contém ironia].

    A obsessão em se tornar presidente da República é tal em Ciro Gomes que resta evidente que ele não pouparia esforços para o intento. Quem tem o despudor de blefar diária e publicamente sobre Lula e o PT na esteira do antipetismo doentio das elites brasileiras, não hesitaria em constituir quaisquer outros tipos de engrenagens sub reptícias de comunicação de guerra.

    A essa altura dos acontecimentos, é quase parte do jogo.

    Não há pudores nesse campo - excetuando a esquerda romântica que ainda acredita no debate público. O que o PT se recusou a fazer - montar uma estrutura digital para, ao menos, se defender -, o submundo digital que orbita Ciro Gomes nem pestanejou em materializar.

    Sob a condição de perpetuar os ataques de ódio a Lula e ao PT, Ciro terá o beneplácito de todo o jornalismo tradicional - como vem tendo.

    E atenção: Ciro vai crescer e vai crescer muito. Na mesma proporção em que Bolsonaro naufraga, Ciro irá emergir - porque vai herdar a "operação" do antecessor na missão de criminalizar o PT.

    Bolsonaristas começam a migrar para Ciro Gomes em ritmo de samba.

    Foi um cálculo muito bem elaborado por Ciro, admito e me retrato - Carlos Bolsonaro certamente lhe dedicaria muitos elogios. Agora, ele colhe os frutos.

    O gabinete do ódio de Bolsonaro nem ataca mais o PT, sejamos justos. Essa função já foi transferida para o novo exército de insufladores de ódio, medo e linchamento, malandramente apartada de quaisquer vínculos legais com seu novo mito, futuro presidente e entidade imune a críticas.

    O protocolo estímulo-resposta neste novo gabinete do ódio, a rigor, é o mesmo daquele de Bolsonaro. Repetem mantras sobre o PT, vitimizam-se e produzem uma quantidade imensa de memes e montagens que incitam ódio, todas mentirosas e em tom acusatório-debochado.

    São os lacradores da nova geração, um degrau mais baixo no quesito 'jogo sujo' se comparados aos já obsoletos milicianos bolsonaristas.

    É claro: com muitos robôs e perfis 'fake' para povoar Twitter e Facebook.

    O Brasil está se especializando em protocolos de comunicação de guerra na política. Bolsonaro abriu a porteira do horror e fez escola.

    Vale a máxima: nada é tão ruim que não possa piorar.

    Em tempo: quando estávamos quase nos vendo livres de Bolsonaro e seu gabinete do ódio, eis que surge um novo gabinete ainda mais odiento - porque visceralizado, mesquinho e forjado nos escombros do país.

    Agora, no entanto, o jogo é outro.

    Ciro Gomes vem com tudo, como um trem desgovernado, balbuciando insultos, trincando os olhos e deixando a secreção bucal escorrer pelo canto da mandíbula.

    Seu ódio estomacal contra o PT e contra Lula não encontra parâmetros na literatura política. Ele já ocupou o espaço da milícias de Carluxo e arregimentou a legião de órfãos que o bolsonarismo vai deixando pelo caminho sangrento.

    Não será fácil frear Ciro Gomes.

    Resta saber quem é o 'Carlos Bolsonaro' de Ciro. A estrutura é gigantesca - e o trabalho é muito 'bem feito': blogueiros, influencers, empresários, gurus intelectuais e favores múltiplos nos veículos tradicionais de comunicação que precisam do antipetismo venal para dar embocadura às suas editorias de guerra.

    Observar a movimentação mafiosa em torno de Ciro chega a ser até curioso: a julgar pelo prefácio constrangedor - de tão bajulatório - que Roberto Mangabeira Unger teve a capacidade de assinar apresentando o projeto-livro prepotente do "novo mito", é certo que encarne o novo Olavo de Carvalho.

    Morar nos EUA ele já mora - e tem um sotaque cativante.

    Eu sei que é difícil aceitar a crítica a um brasileiro "professor de Harvard" e sei que o viralatismo da 'esquerda bem comportada' vai se escandalizar. Tanto melhor. A esse medo de colocar os pingos nos is, a propósito, eu respondo com singela delicadeza: tratarei as moscas putrefatas que orbitam o campo cirista exatamente como Ciro trata Lula e o PT: sem remorso ou comiseração - e com sublime crueldade.

    Ciro tem o direito de querer ser presidente. Ciro tem o direito de apresentar um projeto alternativo de país. Ciro tem o direito de disputar espaço político com Lula e com o PT.

    Ciro só não deveria entrar na espiral do vale-tudo digital como Bolsonaro.

    A gente percebe que, nesses processos vertiginosos regados a ódio, a vida é curta - e o país permanece sequestrado pelo individualismo egocêntrico dos maus perdedores.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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