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    Marcelo Zero

    É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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    O “bravateiro” está conseguindo o que quer

    O colunista Marcelo Zero alerta que Trump "tem de ser levado a sério porque é ameaça real ao mundo"

    Donald Trump em Washington - 30/1/2025 (Foto: REUTERS/Elizabeth Frantz)

    1.Como já afirmei em textos anteriores, Trump não é apenas um “bravateiro”. Tem de ser levado a sério porque é ameaça real ao mundo, especialmente aos países e populações pequenos e periféricos.

    2.Tem de ser muito idiota para achar que Trump “inventou” a “proposta” da “Riviera do Oriente Médio” na hora da coletiva de imprensa, como se afirmou. É óbvio que essa ideia brilhante fora combinada com antecedência com Netanyahu e com a extrema-direita de Israel.

    3. Trump sempre se alinhou à extrema-direita israelense (como Bolsonaro). Transferiu sua capital para Jerusalém e reconheceu a “soberania” de Israel sobre as colinas de Golã, tudo em arrepio às resoluções da ONU sobre o assunto.

    4. Trump apoia o projeto do “Grande Israel”, o qual implica expulsão massiva de palestinos de Gaza e da Cisjordânia.

    5. Agora, todos se espantam com a proposta feita de forma reiterada e ratificada por Marco Rubio, que é, na realidade, criminosa. Afinal, limpeza étnica é crime contra a humanidade.

    6. Porém, desde quando Trump se preocupa com isso? Ele despreza convenções e tratados internacionais e vê a ordem mundial e o “globalismo” como armas contra os interesses estadunidenses. A única coisa que ele respeita é a força. Propugna por uma ordem hobbesiana, que gire em torno dos interesses estadunidenses. Ele acabou de ordenar sanções contra indivíduos que trabalharam e estão trabalhando em investigações contra EUA e Israel no Tribunal Penal Internacional.

    7. Como já escrevi, ele e o MAGA querem abolir as regras e convenções mundiais. Querem a New World Order, brutal e cínica. Yanis Varoufakis afirmou algo semelhante: “Trump aboliu as leis internacionais”.

    8. Obviamente, será difícil expulsar os palestinos, fazer outros países aceitá-los em seus territórios, mesmo que de forma temporária. Mas, curiosamente, as forças de Israel já estão se preparando para a evacuação.

    9. Os panamenhos são outra população que estão sofrendo sob o tacão do lobo hobbesiano.

    10. O Panamá foi forçado a: a) cancelar sua participação no Cinturão e Rota da Seda; b) permitir que embarcações militares norte-americanas circulem pelo canal sem pagar taxas, o que viola a neutralidade do Canal do Panamá; c) a permitir que os EUA usem o aeroporto do Panamá como hub para voos de deportados da América Latina e d) impedir que a CK Hutchison Holdings, que pertence ao bilionário de Hong Kong Li Ka-shing, continue a operar dois dos cinco portos do Panamá: Balboa, no Pacífico , e Cristóbal, no Atlântico.

    11. Essa empresa opera esses portos, desde o início de 1996. Como Hong Kong ainda era colônia britânica, não se via problema nisso. Porém, como Hong Kong, desde o final de 1997, tornou-se, de novo, região da China (embora com alguma autonomia), e sua economia está cada vez mais entrelaçada com a do resto da China, os EUA acusam os panamenhos de estarem “entregando os portos e o canal” para seu grande rival. Obviamente, isso não tem nenhuma relação com a gestão do canal, que é unicamente panamenha. Contudo, ainda assim, a “acusação” ridícula permanece.

    12. O problema é que há um contrato entre essa empresa de Hong Kong e o governo panamenho. Não obstante, isso já está sendo resolvido. Dois advogados panamenhos entraram com uma ação na Suprema Corte do país em uma tentativa de cancelar a concessão da empresa de Hong Kong

    13. Curiosamente, a representação deles foi apresentada um dia após o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, ter dito ao presidente do Panamá, José Raúl Mulino, que era “necessário” reduzir a suposta influência da China no canal para se evitar “retaliações maiores”, por parte dos EUA. A ação argumenta que o contrato para os dois portos é inconstitucional.

    14. Muito provavelmente, a Corte Suprema do Panamá vai aceitar a demanda.

    15. Ainda está fresca, na memória dos panamenhos, a invasão dos EUA a seu país, ocorrida, em 1989, para depor o presidente Noriega e dissolver as forças armadas panamenhas.

    16. Chamou-se Operation Just Cause. Mas poderia ter sido chamada também de Operation Riviera. Tanto faz.

    17. Deve vir mais por aí, especialmente contra países da América Latina que ousaram diversificar suas relações e saíram do estreito “quintal” dos EUA.

    18. Como dizia profeticamente o poeta nicaraguense Rubén Dario, no seu poema “A Roosevelt”: “Eres los Estados Unidos, eres el futuro invasor de la América ingenua que tiene sangre indígena que aún reza a Jesucristo y aún habla en español.”

    19. O Big Stick geopolítico está solto e rezar, ainda mais em espanhol ou português, não vai adiantar muito.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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