O “brutalismo” e a crise da esfera pública
O nacionalismo bolsonarista funciona na sua face sem véus, como um “tribalismo” antidemocrático de segregação étnica contra a democracia
Pedro Cláudio Cunca Bocayuva
Nestes dias de "transição" pós-eleitoral o nacionalismo bolsonarista funciona na sua face sem véus, como um “tribalismo” antidemocrático de segregação étnica (Achille Mbembe) contra o Estado de Direito na sua dimensão republicana.
O corpo mole das autoridades e o apoio logístico ao golpismo seguem a diretriz de uma psicologia de massas autoritária onde o brutalismo da necropolítica retroalimenta um nacionalismo "tribalista". A questão é se no Brasil a construção de linhas de segregação étnica seguem um padrão do tipo "tribalista" nos termos de Mbembe? Esta reinvenção do "nacionalismo vitalista" como tribalismo pelo recorte "sangue" e "terra" aparece como um tema que descreve um dos aspectos característicos das fronteiras sociais que marcam a contemporaneidade. Este elemento de formação comunitária por segregação de tipo "incivil"(Muniz Sodré) singulariza a dialética perversa da banalização da crueldade. Quando a violência extrema se dá como podemos ler criticamente desde as análises complexas da crise de hegemonia, nestes tempos de guerras contra as populações.
As questões de representação nas dimensões da análise sociológica e da psicologia de massas, na grande escala e na longa duração, nos ajudam para pensar o Bolsonarismo como doença infantil do fascismo tardo-periférico. Mas será que existe alguma singularidade ou aspecto da contradição que mereça uma observação mais específica como interesse imediato e funcional do agir reacionário que se organiza no terreno da ação coletiva?
Na atualidade temos observado que a aliança negacionista, patriarcal, narcisista, racista, oligárquica e cínica produz um recorte que liga clivagens de classe, casta e etnia na configuração dos grupos no espaço e nas instituições. Por isso, hoje em dia máfias, grupos, clubes e famílias privatizam e feudalizam os usos do território. Grupos e quadrilhas vem ocupando os equipamentos, os cargos, os territórios do que deveria ser domínio da coisa pública. Este recorte é chamado de "tribalismo" por Achille Mbembe em mais um livro magnífico: "Brutalismo".
A colonialidade do poder engendrada no contexto da necropolítica da mundialização, uma governamentalidade biopolítica sob um modo de reprodução racista neoliberal, que se afirma na sua base de exercício de poder social através do controle e ocupação dos espaços e instituições: "ao abolir as condições republicanas de apropriação o resultado foi a monopolização, por determinada comunidade étnica, daquilo que é suposto pertencer, por essência pública a todos". Este aspecto da naturalização do recorte seletivo do controle e posse do espaço, articula os marcadores típicos da relação entre ocupação de cargos, nepotismo, domínio miliciano, extração de excedente e de acumulação de poder sobre o cotidiano e os lugares. O individualismo possessivo opera na direção da barbárie sob a benção de formas fundamentalistas em nome de Deus e da Pátria, sua liberdade de saque, extorsão e privilégios que se manifesta na forma do abuso e da tirania acima da lei, acima de tudo e de todos, sempre ameaçando ou usando a pressão armada. Sempre agindo na sombra do jogo que articula uma noção de ordem e o papel de tutela e veto das forças armadas.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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