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    Ricardo Mezavila

    Escritor, Pós-graduado em Ciência Política, com atuação nos movimentos sociais no Rio de Janeiro.

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    O campeonato brasileiro deve parar?

    "Jogadores, comissão técnica, funcionários e torcedores dos três clubes não estão preocupados com futebol"

    Arena do Grêmio (Foto: Amanda Perobelli / Reuters)

    Com a tragédia, sem precedentes para uma capital, que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, muito tem se discutido se o campeonato brasileiro masculino, o feminino para com um estalar de dedos, deve ser suspenso ou não.

    Comentaristas esportivos, presos às correntes dos interesses comerciais das empresas em que trabalham, ficam em cima do muro para não contrariar o patrão. A maioria diz que é “preciso cautela”, tem que analisar “rodada por rodada” para depois tomar uma decisão.

    Juventude, Internacional e Grêmio são as equipes do RS que disputam  campeonatos e copas no momento. Sem poder treinar, sequer podem sair do estado, seria compreensível se a CBF paralisasse  o campeonato, mesmo com o prejuízo financeiro para patrocinadores e demais equipes.

    Alguns dizem que futebol é irrelevante dentro do contexto da catástrofe causada pelas chuvas, e é irrelevante mesmo. Os jogadores e funcionários das equipes estão passando pelas mesmas dificuldades que toda a população, alguns atuam voluntariamente para minimizá-las.

    Quase uma centena de mortes e quase duas de desaparecidos, carregados pelas águas ou soterrados nos escombros. Desabrigados necessitam de água potável, alimentos, produtos de higiene, roupas, cobertores e, mais do que tudo, de solidariedade.

    O governo gaúcho tem recebido auxílio do governo Lula, das forças armadas e das policias. Bombeiros de vários estados estão no Rio Grande do Sul, além do apoio de grupos de atletas, artistas, pescadores e gente de toda tribo.

    Alguns carniceiros, com vácuos na alma, espalham fake news para conquistar seguidores, outros divulgam chaves falsas de PIX, e outros aproveitam para explorar politicamente a tragédia.

    “O governo federal, ao invés de patrocinar o show da Madonna, deveria enviar esse dinheiro para as vítimas no Rio Grande do Sul”, dizem. O show foi patrocinado pela Heineken e Itaú, com investimento do governo e município do Rio de Janeiro, que arrecadaram muito mais do que foi investido. Esses abutres estavam acostumados com o governo patrocinando motociatas.

    Mas, e aí? O campeonato deve ser paralisado? Na minha opinião, não. De nada adiantaria a paralisação, seria mais inteligente e útil, aproveitar o público dos estádios para arrecadar doações e, paralelamente, diminuir a frustração financeira dos clubes, além de dar visibilidade internacional à grave situação dos nossos irmãos gaúchos.

    Jogadores, comissão técnica, funcionários e torcedores dos três clubes não estão preocupados com futebol. No momento estão unidos em sobreviver para depois reconstruir o que foi perdido. Campeonato joga-se depois, urgente é a vida.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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