O canto torto de Lula e a pergunta de Délis Ortiz
"Lula deixou claro que não aceitará comprometer os mais pobres para tranquilizar o mercado financeiro", analisa Sara Goes
"E eu quero é que esse canto tortoFeito faca, corte a carne de vocês"
Belchior não queria apenas cantar, queria ferir com a verdade, como quem usa a música para abrir caminho no concreto endurecido da história. Em "A Palo Seco", ele transformou o desconforto da existência em verso, recusando-se a suavizar a realidade para torná-la mais aceitável. Seu canto não é de quem pede licença — é de quem exige ser ouvido.
Durante a tentativa exitosa de reformular a dinâmica da comunicação sob a gestão de Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação, a jornalista Délis Ortiz perguntou a Lula se ele "entendia" o chamado "rombo fiscal". A pergunta veio carregada de algo que nós, nordestinos, reconhecemos de longe. Não era uma dúvida sincera, mas um teste de paciência. O tom condescendente, a escolha da palavra extraída do vocabulário bolsonarista, a tentativa de desqualificar um presidente que já governou o país por mais de uma década — tudo isso faz parte de um roteiro antigo, já gasto pelo tempo, mas ainda usado pela mídia corporativa.
Lula, como Belchior, não veio para agradar, mas para cortar a carne de quem ainda duvida dele. Sua resposta foi tão precisa quanto o verso da canção. Não há rombo fiscal em seu governo. Houve, sim, no governo anterior. Se não fosse pela tragédia no Rio Grande do Sul, o Brasil teria registrado superávit pela primeira vez em muitas décadas. Mas o presidente não se limitou a desmentir a jornalista — ele inverteu o jogo.
Em um país que exige sacrifício sempre dos mesmos, Lula deixou claro que não aceitará comprometer os mais pobres para tranquilizar o mercado financeiro. Ele já foi presidente, já fez superávit de 4,25%, já mostrou que sabe governar. Quem precisa provar alguma coisa são aqueles que falam em responsabilidade fiscal, mas ignoram os interesses do povo.
A pergunta "O senhor entende?", dirigida a um operário que construiu políticas de crescimento e inclusão social, revela muito mais sobre quem pergunta do que sobre quem responde. Assim como Belchior escolheu cantar sem suavidade, Lula escolhe governar sem se curvar à hipocrisia do sistema. A imprensa que antes cobrava autocrítica do PT, agora repete "equilíbrio fiscal" como se fosse um mandamento, ignorando que os mesmos setores que agora falam em austeridade foram cúmplices do desmonte nacional nos últimos anos.
Lula, como Belchior, canta para os seus. E quando diz que nenhum brasileiro passará fome ao fim de seu mandato, ele não está apenas anunciando uma política — está reafirmando um compromisso histórico. Um compromisso que incomoda, irrita e causa raiva em quem sempre quis um Brasil para poucos.
No fim, o canto torto segue vivo. E aqueles que tentam silenciá-lo precisam lembrar: algumas verdades, por mais que tentem esconder, ainda cortam como faca.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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