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    Florestan Fernandes Jr

    Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

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    O cerco se fecha e as fake news de Bolsonaro já não dão conta da realidade

    A questão agora é saber quanto tempo o bolsonarismo irá aguentar a fervura das investigações

    Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Correa/PR | Reprodução)

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    O bolsonarismo sangra e agoniza ao vivo e em cores aos olhos de toda uma nação. A “Operação Vigilância”, desencadeada na manhã de ontem (25/01) em endereços ligados ao deputado federal e ex-diretor da ABIN, Alexandre Ramagem, revela não apenas a espionagem clandestina de mais de 30 mil cidadãos, mas também os porões de uma organização criminosa que se instalou dentro do governo militarizado de Bolsonaro.

    Uma verdadeira “gestapo” encravada e atuando dentro do Palácio do Planalto para defender o “capo” e sua família, seus interesses políticos e econômicos.    

    A reação dos principais personagens envolvidos nesse escândalo, fala por si. Pela primeira vez nos últimos cinco anos, dois bolsonaristas-raiz correram para dar entrevistas na rede Globo, a mesma que Bolsonaro ameaçava tirar a concessão quando estava na presidência. Acuados, o hoje deputado federal Alexandre Ramagem e o senador Flávio Bolsonaro, não convenceram ninguém, nem mesmo o porteiro da “Vivendas da Barra”, em suas entrevistas. O primeiro, apesar da falsa passividade, não respondeu às perguntas; o segundo, que junto com o pai e os irmãos, usou e abusou das fake news nas redes sociais, demonstrou que fora do ambiente virtual, não sabe como lidar com o mundo real e a verdade dos fatos. Se enrolou todo e não conseguiu uma resposta plausível para explicar os motivos para a ABIN ter monitorado os movimentos da promotora de Justiça Simone Sibilio do Nascimento, que esteve à frente das investigações do assassinato de Marielle Franco.

    Olhando pelo retrovisor do tempo, chegamos em 2018, quando o sistema de geolocalização foi comprado de Israel. Na época, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional de Michel Temer era o general Sérgio Etchegoyen. Naquele ano, o presidente golpista estava fragilizado pela baixíssima popularidade e pelos áudios comprometedores de uma conversa dele com Joesley Batista, um dos donos da JBS. O governo Temer foi tutelado pelos oficiais de alta patente durante seu curto mandato. Um hiato entre o governo civil democrático de Dilma e o governo “cívico-militar” de Bolsonaro. 

    Para suceder a Temer e seguir adiante com o projeto de desconstrução do país, o candidato escolhido, o ex-capitão Jair Bolsonaro, preenchia todos os requisitos. Tudo parecia convergir para a concretização dessa intervenção sem uma clara ruptura democrática.

    O candidato, apesar de ter sido um péssimo militar, foi contemporâneo dos oficiais da ala mais truculenta da ditadura militar. Na Câmara Federal, nos vários mandatos que exerceu, foi um deputado do baixo clero, com discursos simplistas e cheios de clichês. Intelectualmente, um mentecapto, que fez da sua aparente simplicidade (que depois soubemos ser mise em scène), do discurso de ódio e das mentiras nas redes sociais, os instrumentos para ser alçado à condição de um líder populista, de viés fascista.

    Pelas fragilidades intelectuais, aparentava ser alguém de fácil manipulação, alguém domável, lembrando aqui do apelido de caserna: “Cavalão”.

    Talvez esse tenha sido um dos maiores equívocos dos generais que patrocinaram a campanha de Bolsonaro: subestimá-lo. 

    Para ganhar a eleição era necessário impedir Lula de participar do pleito. Sérgio Moro abriu o caminho, condenando sem provas o ex-presidente. No dia 3 de abril de 2018, o comandante do Exército, Eduardo Villas Boas, usou de seu cargo para enquadrar a própria justiça e a preservação da institucionalidade com um post no Twitter, esbravejando contra o pedido de habeas corpus feito pelos advogados de Lula. Com Lula fora do pleito, Bolsonaro fez do evento de Juiz de Fora um trampolim para a presidência: se livrou dos debates e passou a imagem de vítima da violência que ele mesmo propagava. Todos os agentes da PF que falharam na segurança do candidato foram promovidos, assim que Bolsonaro foi eleito. Alguns deles foram levados por Ramagem para a ABIN. 

    Imagino como o First Mile foi utilizado pela Agência Brasileira de Inteligência nas campanhas de 2018 e 2022. Como ela orientou as movimentações de candidatos, adversários políticos e jornalistas. Qual papel teve o software israelense no dia 12 de dezembro de 2022, quando bolsonaristas queimaram ônibus e carros no centro comercial de Brasília. Ou ainda a marcha até a praça dos três poderes e o cerco de blindados do exército para proteger os golpistas acampados na porta do quartel general de Brasília, no 8 de janeiro. 

    A investigação da Abin paralela de Bolsonaro tem tudo a ver com as ameaças contra a democracia. As perseguições e agressões contra a imprensa, os opositores do governo e as autoridades constituídas. 

    A questão agora é saber quanto tempo o bolsonarismo irá aguentar a fervura das investigações. Alexandre de Moraes é paciente, astuto e sabe como poucos lidar com bandidos e organizações criminosas. O fato é que a democracia só prevalecerá com a punição exemplar de todos os envolvidos. Funcionários de carreira, militares, políticos golpistas, empresários e milicianos. Trazendo aqui a cantoria do general Augusto Heleno, se gritar pega Ladrão e golpista, não fica um meu irmão!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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