O Datafolha e suas escolhas
Os institutos de pesquisa têm mais acertado que errado, mas os erros de prognóstico que comentem são críticos, como os que ocorreram no primeiro turno, na pesquisa de boca de urna, onde o eleitor já depositara seu voto
Após a divulgação da primeira pesquisa de intenção de votos para o segundo turno da eleição presidencial, com índices idênticos nos dois grandes institutos, o Datafolha publicou uma análise mais detalhada daqueles números. Em uma primeira leitura, a conclusão deixa-se levar pelo próprio título da notícia "Dilma perde mais eleitores do que Aécio para o 2º turno", mas a abordagem esconde um dado crítico.
Como foi perguntando aos entrevistados em quem votaram no primeiro turno e em quem votariam no segundo, cria-se uma base de dados diferenciada, não coincidente com as bases de pesquisa do primeiro turno, pois o resultado deste primeiro turno já é sabido. Ou seja, não se pode partir de uma base de dados vinculada apenas a níveis sócio-econômicos, geográficos e outros, pois há que se considerar o resultado do primeiro turno e sua distribuição.
Assim, fazendo uma conta simples de multiplicação do total de votos obtidos por cada um dos candidatos pela intenção de votos no segundo turno, considerando o porcentual que diz que mudará de voto, chega-se a um número bem diferente do divulgado, algo como 54,4% para Aécio e 44,6% para Dilma. Ou seja, a base de consulta está mais favorável a Aécio, causando uma distorção do resultado.
Se isso ocorreu em função do entrevistado não dizer a verdade quando informa em quem votou no primeiro turno, ou se foram entrevistados setores já mais propensos a votar naquele candidato, não importa. Fato é que muito provavelmente as porcentagens daqueles que dizem mudar de voto não correspondem à realidade, deixando inclusive uma dúvida quanto à forma como os votos de Marina Silva se distribuirão no segundo turno e ao surpreendente índice de 40% de eleitores que anularam ou votaram em branco no primeiro turno (quando havia 11 possibilidades de escolha) e, agora, fazem a opção por um dos dois candidatos.
Os institutos de pesquisa têm mais acertado que errado, mas os erros de prognóstico que comentem são críticos, como os que ocorreram no primeiro turno, na pesquisa de boca de urna, onde o eleitor já depositara seu voto. Fiquemos, pois, atentos para ver o quanto essas distorções estatísticas podem contribuir para uma eventual e danosa distorção democrática.
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