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    Flávio Barbosa

    Cronista, psicanalista

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    O desavisado

    Sergio Moro (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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    O ex-juiz Sergio Moro é um homem desavisado. Ele não lia ou não compreendia o que lia nos autos dos processos em que presidia enquanto juiz titular na 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, onde reinou como um príncipe maquiavélico por alguns anos.

    Quando deixou a toga para viver da virtude de seus processos uma vida de bonanças, ele não percebeu as companhias que constituiu no seu novo percurso. Não se deu conta de quem era Jair Bolsonaro, um político do baixíssimo clero com uma carreira de vinte e oito anos no Parlamento, mas que posava de novidade na política. Sergio Moro sem examinar minimamente as credenciais desse político acreditou nele! E foi servir a esse político tornado eleitoralmente presidente da república e com ajudas primorosas das fakes News e dos despachos do ex-juiz Moro na Operação Lavajato, que, em mais um desaviso, o senhor Moro confessou recentemente ter sido o chefe dela, embora a função de juiz não lhe permitisse essa posição já que o tornava parcial e não imparcial para os julgamentos oriundos dessa Operação.

    Alheio aos acontecimentos, Sergio Moro tornou-se ministro da justiça do presidente-eleito Jair Bolsonaro, mas um dia, numa espécie de iluminação mental, ele, Moro, disse ter se dado conta que o presidente Bolsonaro não tinha qualquer compromisso com a justiça. Ora, sequer o ministro retinha em sua curta memória e seus parcos conhecimentos da vida pública brasileira que ele serviu caninamente a esse presidente que ora não mais acreditava, agindo como um homem comprometido com os valores de moralidade e justiça do governo em que servia. 

    Ministro de Bolsonaro, Moro atuou sem maiores dramas de consciência aos interesses do chefe, fosse ou não republicanos esses interesses, e alguns episódios de sua passagem no ministério da justiça o denunciava, como por exemplo, o episódio em que o porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, residência particular de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, foi ameaçado pelo então ministro da justiça, Sergio Moro, de levar nas costas a Lei de Segurança Nacional – um legado da Ditadura Civil-Militar de 1964 – caso confirmasse a versão original de seu depoimento à Polícia Civil do Rio de Janeiro de que os executores do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes estiveram horas antes do crime no Condomínio para uma reunião com um morador deste e que ao adentrarem no espaço solicitaram ir à casa de número 58, por coincidência, a de Jair Bolsonaro, ato que gerou a autorização para que entrassem no Condomínio, pois autorizado pelo proprietário do imóvel (sic).

    Na ocasião dessa solicitação o crime ainda não havia ocorrido, o que se deu horas depois, e portanto o porteiro não podia saber o que estava sendo tramado naquela mal esclarecida visita. Mesmo assim, o ministro Sergio Moro correu para acudir o chefe e não para o esclarecimento das investigações. Terá sido mais uma impercepção?

    O fato é que o ex-juiz, que não foi contemplado pelo chefe à uma vaga ao STF, no que parece ter sido o acordo que deu origem à vinculação política de ambos (sic), arrotou posteriormente queixas pelo desprezo aos valores moristas finalmente descobertos pelo ex-ministro, o que resultou em sua renúncia ao cargo e a ida imediata para a oposição ao governo que tão obedientemente serviu.

    Ao tempo em que respondeu à titularidade do Ministério da Justiça, um gado desembestado estourou as porteiras da Constituição Federal, e de muitas outras regulamentações para o cumprimento de políticas públicas no país como vimos nas inconfidências vazadas da discretíssima reunião ministerial de 22 de abril de 2021 onde Sergio Moro entrou mudo e saiu calado mesmo diante do descalabro.

    Conveniências e pragmatismo parecem fazer parte dos escrúpulos morais da divindade e, por óbvio, seus julgamentos. Afastado do poder judiciário e do governo de Jair Bolsonaro, Sergio Moro resolveu dar voos mais ousados, primeiro como consultor de uma Consultoria estadunidense que fazia a recuperação judicial das empresas que ele, Sergio Moro, enquanto juiz-chefe da Operação Lavajato – a lembrar suas próprias palavras – levou-as à falência, o que parece não ter novamente percebido a contradição ao firmar tal contrato de trabalho. Depois de muita polêmica, Sergio Moro afastou-se da Consultoria Alvarez & Marsal e resolve seguir um velho sonho: a política. Filia-se ao Partido Podemos, do senador Álvaro Dias (do Paraná), uma peça esquecida convenientemente nos processos da Lavajato pelo ex-juiz apesar de intimamente ligado ao pivô daquela Operação, o doleiro Alberto Youssef (sic). E, convenhamos, Moro não quis pouco de sua aventura política, afinal, crente na áurea heroica que se lhe pintou a grande imprensa, especialmente a sua quase sócia Rede Globo, Moro adentrou à política pelo andar do alto: candidato à presidência da república.

    Um tanto quanto desastrado frente as suas percepções e juízos de valor, Sergio Moro correu a fazer alianças com figuras bem carimbadas da política oriunda do esgoto a que foi lançado o Brasil desde que a Operação Lavajato deu as suas caras, refiro-me, por exemplo, aos rapazes do Movimento Brasil Livre (MBL) Kim Kataguiri e o Mamãe Falei. E eles não tardaram a mais uma vez expor todo o senso de moralidade de Sergio Moro.

    Primeiro, o jovem deputado federal Kim Kataguiri em um programa das redes sociais de grande popularidade e audiência disse, sem papas na língua, que apoia a criação de partido nazista no Brasil, e o fez sob a batuta da “liberdade de expressão” do vale tudo. Não pegou bem!

    Sergio Moro confrontado com o discurso de seu aliado, disse que o rapaz tinha apenas se atrapalhado com as palavras, tropeços da juventude. Não pegou bem! As palavras não saem fáceis da boca do senhor Moro e custam-lhe alguns embaraços, geralmente, sem melhores explicações.

    Como desgraça pouca é bobagem, outro aliado de Moro resolveu dar “tropeços verbais” ainda mais arrasadores. Bancando o herói da resistência ucraniana frente aos “russos malvados” o tal do Mamãe Falei, deputado estadual de São Paulo e candidato de Sergio Moro ao governo daquele estado viajou “epicamente” ao socorro daquele país e de seu povo, todavia, disse em seus escorregos semânticos que as mulheres ucranianas refugiadas na fronteira da Eslováquia, onde o herói se encontrava, mulheres pobres, eram “lindas e louras”, e por serem pobres e refugiadas, eram também “fáceis” ao apetite sexual do mancebo e o de sua trupe. A excrecência revelou o objetivo, talvez principal, da viagem do herói, a saber, o turismo sexual com jovens mulheres no limite de suas vidas. Não pegou bem!

    O escândalo foi instantâneo, e não podia ser diferente. Contudo dessa vez o pré-candidato à presidência da república, Senhor Sergio Moro, não passou pano, embora não soubesse antes o que é o MBL, suas práticas e sua ética, e os rapazes supracitados. Ele, Moro, disse que as “declarações do Mamãe Falei são inaceitáveis e que não admitia a companhia e aliança política com esses tipos” ... Oh! Acaso alguma novidade nas práticas do MBL?

    Para quem pleiteia ingressar na política e pelo andar do alto, Sergio Moro parece muito desatento aos processos que dizem da política e revela, ademais, um enorme desconhecimento do quem é quem neste país, convenhamos, não é um bom aviso a quem pleiteia à presidência da república. Quando foi juiz, Sergio Moro fazia mesmo política, desculpe-me os seus fãs, mas com p minúsculo, e num sentido bastante distorcido de seu ofício: a magistratura. Todavia, agora na política institucional, Sergio Moro revela uma ignorância inaudita e um desaviso que não se concebe a alguém que deseja nada mais, nada menos do que ser chefe de governo e chefe de estado dessa infeliz república presidencialista. Ou muito estamos errados ou se trata de um homem imprevidente.

    Ou mesmo um inocente! Um Cândido de Voltaire perdido em pleno século XXI... como não é dado a leituras literárias e outras mais (sic), não vamos recomendá-la ao candidato.

    E conforme o dito popular e suas sabedorias: “Aonde fomos amarrar o burro”.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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